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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O Ensino da Confissão de Westminster sobre a Cessação da Revelação Especial

 O Ensino da Confissão de Westminster

sobre a Cessação da Revelação Especial

Por David F. Coffin, Jr.

Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.

De acordo com o capítulo um da Confissão de Fé de Westminster, Deus, em várias épocas no passado, revelou aquele conhecimento de [Si mesmo] e de sua vontade, o qual é necessário para a salvação. (1.1) Ao longo da história redentora, aprouve ao Senhor, em diversas épocas e de várias maneiras, revelar-Se e declarar Sua vontade à Sua Igreja. (1.1) Ele agora CESSOU de empregar esses meios: aqueles modos antigos de Deus revelar Sua vontade ao Seu povo estão agora cessados. (1.1) Por isso, a Sagrada Escritura... [é] sumamente necessária... (1.1)

Nesta seção, a necessidade da Escritura é “assim fundamentada na insuficiência da revelação natural e na cessação da revelação sobrenatural...”[1] ¹ Assim argumentava o Bispo Ussher, cujos Artigos Irlandeses de Religião são amplamente reconhecidos como a fonte imediata mais importante do capítulo sobre a Sagrada Escritura², e cujo Corpo de Divindade, um dos “principais manuais dogmáticos populares da época,”³ tem uma linguagem paralela à Confissão de Fé tão próxima “que é difícil acreditar que não tenha influenciado parte do conteúdo ou até mesmo da fraseologia.”⁴ Ussher argumentava que:

“...estando todo o Cânon das Escrituras plenamente concluído, nós e todos os homens, até o fim do mundo, estamos deixados para obter nossa plena instrução a partir dele, **sem esperar revelações extraordinárias, como em tempos passados... oráculos e visões... mas agora estas, juntamente com todas as outras revelações extraordinárias, cessaram.”

De acordo com a Confissão de Fé, o cânon das Escrituras é identificado pela inspiração dos livros. Sob o nome de Sagrada Escritura... agora estão contidos todos os livros do Antigo e Novo Testamentos... todos os quais são dados por inspiração de Deus, para serem a regra de fé e prática. (1.2) Os livros apócrifos são excluídos do cânon porque não são inspirados. Os livros vulgarmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura... (1.3) A autoridade do texto não decorre de seu status canônico, mas do fato de que, sendo inspirado, é a própria Palavra de Deus. A autoridade da Sagrada Escritura... depende... inteiramente de Deus (que é a própria verdade), seu autor; e por isso deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus. (1.4) Em suma, é o caráter inspirado, ou soprada por Deus, de um texto que estabelece sua canonicidade, autoridade e necessidade, sendo agora cessados os modos de inspiração.

Um crente é persuadido de que a Escritura é a Palavra de Deus quando o Espírito Santo trabalha em seu coração para fazê-lo ver a evidência da inspiração da Escritura. A Sagrada Escritura... se evidencia abundantemente como sendo a Palavra de Deus; contudo, nossa plena persuasão... vem do trabalho interior do Espírito Santo, testificando com e pela Palavra em nossos corações. (1.5) Aqui, o Espírito Santo trabalha para abrir nossos olhos ao que já está no texto. Nada é acrescentado a ele.

Segundo a Confissão, a Escritura (ou seja, o conjunto de escritos inspirados) é suficiente para conhecer tudo o que Deus deseja que seja conhecido para Sua própria glória e para a salvação, fé e vida do homem. Todo o conselho de Deus, a respeito de todas as coisas necessárias para Sua glória, a salvação do homem, fé e vida, está ou expressamente declarado na Escritura, ou pode, por boa e necessária consequência, ser deduzido dela... (1.6) Portanto, nada, por qualquer meio, seja por novas revelações do Espírito [contra os sectários] ou tradições humanas [contra Roma] (1.6), deve ser aceito como autoridade juntamente com a Escritura, à qual nada deve ser acrescentado em tempo algum... (1.6)

Neste ponto, "novas revelações do Espírito" devem significar supostas novas revelações, pois o caráter de um texto como revelação do Espírito (ou seja, inspirado) é justamente o que o qualifica como Escritura. Assim argumentou o teólogo Edward Reynolds, da Assembleia de Westminster:

“O Espírito não revela a verdade para nós como fez na manifestação primitiva aos profetas e apóstolos — por inspiração divina e imediata, ou por simples entusiasmo: mas o que Ele revela, Ele o faz pela e a partir das Escrituras...

Além disso, ao dizer “acrescentar”, os teólogos não estão apenas proibindo a adição de páginas ao fim de um livro, mas se opõem a qualquer suplementação prática daquilo que é necessário para a glória de Deus, salvação do homem, fé e vida — frase que compreende todo o chamado do crente.

Contudo, embora tudo que seja objetivamente necessário esteja no texto inspirado, o Espírito de Deus é subjetivamente necessário para aquela iluminação que nos permite ver salvíficamente o que está lá. Contudo, reconhecemos que a iluminação interior do Espírito de Deus é necessária para o entendimento salvífico das coisas reveladas na Palavra... (1.6)

Por fim, a Escritura é confessada como o juiz supremo de todas as controvérsias religiosas. Onde houver controvérsias — seja por declarações divergentes de igrejas, ensinos de teólogos ou “espíritos particulares” — a decisão se encontra somente na Palavra do Espírito Santo falando na Escritura. O juiz supremo pelo qual todas as controvérsias religiosas devem ser resolvidas, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas humanas e espíritos particulares examinados, e cuja sentença deve ser final, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura. (1.10) Assim também argumentava Reynolds:

“As Escrituras... são a única regra de todas as controvérsias... Então, a única luz pela qual as diferenças devem ser decididas é a Palavra, sendo um cânon completo da vontade revelada de Deus: pois o Senhor não se dá a conhecer agora, como fazia antigamente, por sonhos, visões ou qualquer outro meio imediato.”

Outro dos teólogos afirmou:

“Como os cristãos podem consultar a Deus em suas dúvidas, como Israel fazia nas deles? Devo responder brevemente, e com as palavras do próprio Deus: ‘À lei e ao testemunho’: à Palavra escrita de Deus... **Agora não há outro meio de consultar a Deus senão somente por Sua Palavra.”**

Esses testemunhos continuam uma tradição bem estabelecida de interpretação puritana a respeito da ligação entre a cessação dos modos de revelação e a suficiência da Escritura, como ensinado por mestres como William Whitaker, mestre do St. John’s College, Cambridge, cuja Disputatio on Holy Scripture foi demonstrada por Dr. Wayne Spear como uma importante fonte teológica dos padrões, particularmente o capítulo sobre a Escritura.¹ Whitaker ensinava que:

“Deus não nos ensina agora por visões, sonhos, revelações, oráculos, como antigamente, mas somente pelas Escrituras; e por isso, se quisermos ser salvos, é necessário conhecermos as Escrituras.”¹¹

Para concluir: a Confissão fala da cessação dos modos de revelação, e não apenas do fim de acréscimos ao cânon. Se os modos continuassem, o cânon estaria aberto. É porque os modos cessaram que não pode haver adições ao cânon. Assim comenta David Dickson no primeiro comentário à Confissão de Fé:

“Estes modos antigos de Deus revelar Sua vontade ao Seu povo cessaram agora? Sim. Então, os entusiastas e Quakers não estão errados ao manter que o Senhor ainda revela Sua vontade como antes? Sim. Por quais razões são refutados? Porque Deus, que em diversos tempos e de várias maneiras falou antigamente aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, Hebreus 1:1-2... Os modos e maneiras antigas foram: primeiro, inspiração; segundo, visões; terceiro, sonhos; quarto, Urim e Tumim; quinto, sinais; sexto, voz audível. Todos os quais terminam na Escritura escrita, o modo mais seguro e infalível de Deus revelar Sua vontade ao Seu povo.”¹²

Um último testemunho da verdade vem de um inimigo: que a Confissão ensina a cessação dos modos de revelação era também o entendimento de alguns opositores contemporâneos de seu ensino. William Parker, em sua crítica de 1651 à Confissão de Fé e suas “excessos e defeitos, confusões e desordens,” começa pelo capítulo 1, criticando a expressão “modos cessados”. Ele se queixa de que os teólogos, ao negarem os antigos “modos” — significando “extraordinários como sonhos, visões, inspiração e semelhantes, pelos quais Deus revelava Sua vontade aos profetas e apóstolos antigos” — estão muito equivocados.¹³ Em sua visão, ao contrário, “o Senhor terá profetas em todas as eras... esses modos extraordinários de Deus revelar-se nunca cessaram.”¹⁴

Nota final: a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana na América afirmou claramente seu acordo com o ensino da Confissão de que os modos de revelação cessaram:

“[Apenas afirmar que o cânon está fechado, e que supostas novas revelações de Deus não acrescentam nada ao depósito de verdade encontrado na Escritura, não abrange todas as negações quanto à nova revelação encontradas em WCF I, 1, 6, e BCO 7-1. Essas declarações dos padrões também negam a ideia de que quaisquer modos extraordinários ainda continuem além da Escritura como formas pelas quais Deus verbalmente revela Sua vontade ao Seu povo.]”¹

“Não apenas o cânon das Escrituras está fechado, mas nenhum dom deve ser permitido que tenha o efeito prático de funcionar como uma fonte normativa de verdade ou instrução divina de Deus, ao lado da voz do Espírito Santo falando nas Escrituras.”¹

Notas de Rodapé

  1. Benjamin B. Warfield, The Westminster Assembly and Its Work (Cherry Hill, NJ: Mack Publishing Company, 1972), p. 195.
  2. Ibid., p. 169.
  3. Ibid., p. 176.
  4. Ibid., p. 177.
  5. James Ussher, Body of Divinity (London, 1645), pp. 6-7.
  6. Edward Reynolds, Works, vol. V (1826), pp. 152-153.
  7. Ibid.
  8. John Lightfoot, Works, ed. Pitman, vol. 6, p. 286.
  9. Whitaker foi professor de William Perkins, e tio de William Gouge, um dos principais membros da Assembleia.
  10. Wayne Spear, em artigo comemorativo dos 350 anos da Assembleia de Westminster (a ser publicado).
  11. Guilielmo Whitakero, Disputatio De Sacra Scriptura (1610); ET, A Disputation on Holy Scripture, Against the Papists... (Cambridge: The University Press, 1849), p. 521.
  12. David Dickson, Truth’s Victory Over Error (1684).
  13. William Parker, Late Assembly of Divines Confession of Faith Examined (London, 1651), p. 6.
  14. Ibid., p. 8.
  15. M8GA, p. 93.
  16. M16GA, p. 215.


[1] Benjamin B. Warfield, The Westminster Assembly and Its Work (Cherry Hill, NJ: Mack Publishing Company, 1972), p. 195.

 

quarta-feira, 27 de abril de 2016

III – A EFICÁCIA DO BATISMO


III – A EFICÁCIA DO BATISMO.
Pr. João Ricardo Ferreira de França.
            Compete-nos tratar também deste tema que se relaciona com o Batismo Cristão que é o assunto da eficácia deste sacramento. Isto é importante porque na tradição romanista o sacramento do Batismo possui conotações regeneradoras, ou seja, para o catolicismo romano o batismo opera a salvação.
            Outra preocupação que nos faz ocupar deste assunto é fato de que na tradição evangélica-protestante há uma tendência ao rebatismo como padrão doutrinário ou mesmo como uma distinção entre os que seguem a doutrina ortodoxa e os que são heterodoxos ou até mesmo os que são tidos como heréticos.
3.1 – A Eficácia dos Sacramentos e a Confissão de Fé de Westminster:
            Qual é a validade dos sacramentos na vida cristã? Qualquer pessoa que ministrar os sacramentos deve ser aceito como válido? Geralmente a resposta que nós oferecemos a estas duas questões é que a validade do batismo e a sua eficácia depende de quem realizou o sacramento; entretanto a Confissão de Fé de Westmister apresenta uma resposta interessante:
III. A graça significada nos sacramentos ou por meio deles, quando devidamente usados, não é conferida por qualquer, poder neles existentes; nem a eficácia deles depende da piedade ou intenção de quem os administra, mas da obra do Espírito e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem.[1]
            A declaração da Confissão de fé neste particular assegura que a validade dos sacramentos não é dependente da piedade (santidade) ou da intenção (pressuposto teológico) daquele que o administra. Isto se aplica aos dois sacramentos ordenados e estabelecidos pelo Senhor.

3.2 – A Validade e Eficácia do Batismo:

            A doutrina da comunhão dos santos é expressa no credo apostólico “Creio na Comunhão dos Santos” – geralmente se entende aqui uma comunhão mística e também a santa ceia como sendo a forma visível desta comunhão, pois, ela expressa a unidade da Igreja.
            Mas, quando estudamos a Carta de Paulo aos Efésios encontramos Paulo dizendo: “Há uma só fé, um só batismo” (Efésios 4.8). Será que a doutrina do sacramento do Batismo expressa exatamente a unidade? A unidade da fé expressa pelo Batismo tem deixado de ser analisado; e tem-se colocado para a Igreja uma postura de sermos negligente a este particular.
            Quando lemos esta expressão Paulina nos vem a mente a prática do rebatismo dentro da tradição evangélica-protestante. Está correto a prática do rebatismo? Quando presbiterianos, congregacionais, luteranos, anglicanos e reformados são recebidos em outras comunidades evangélicas são automaticamente constrangidos a rebatizar-se. Será que isso é válido?
            A Confissão de fé de Westminster quando toca nesta temática nos traz a lume uma resposta importante: “VII. O sacramento do batismo deve ser administrado uma só vez a uma mesma pessoa[2]
            A Confissão de Fé assegura-nos que o sacramento do Batismo deve ser administrado uma só vez sobre a mesma pessoa. Esta posição adotada é uma forma de combater os anabatistas que não aceitavam o pedobatismo[3]; bem como aqueles que julgavam o modo de batizar por aspersão errado e procuravam rebatizar por imersão. A Confissão de fé usa o texto de Tito 3.5 como fundamento para a sua posição.
            Mas, a grande questão é: Quanto aos que são oriundos do Catolicismo Romano, eles devem ser rebatizados? O tema em si mesmo é melindroso, polêmico e incômodo, pois, o presbiterianismo brasileiro é um dos poucos no mundo a rebatizar católicos quando estes se convertem ao protestantismo.

3.3 – Os Reformadores e a Validade do Batismo na tradição cristã:
            Devemos considerar a posição dos principais reformadores quanto a questão da validade do Batismo, como eles de fato encaravam o sacramento para entendermos a problemática a respeito deste polêmico assunto.
            Qual era a concepção dos primeiros reformadores a respeito da validade eficácia do Batismo como sacramento estabelecido por Cristo Jesus na Igreja? A sabedoria da igreja (ou ignorância como alguns poderão alegar) deve ser sempre ouvida quanto a este assunto, a catolicidade da Igreja reclama ser ouvida neste particular, inclusive na tradição Reformada.
3.3.1 – Martinho Lutero:

            Há muitos que asseguram que a validade do batismo está vinculado a quem administra: por exemplo, se for o batismo efetivado pelo pastor (evangélico ou protestante) este batismo deve ser aceito como válido, mas se for realizado por um sacerdote católico romano deve ser rejeitado.
Curioso é que este pensamento nunca esteve presente na mente dos primeiros reformadores, incluindo Matinho Lutero que afirma que o ser humano batiza e não batiza, então ele explica: “batiza, porque efetua a obra ao submergir o batizando. Não batiza, já que nesta obra não age por sua própria autoridade, mas representa Deus[...]” e ainda informa que “o batismo que recebemos por mãos de um ser humano, não é do ser humano, mas de Cristo e de Deus”.[4]
            A validade e eficácia do sacramento batismal não se vincula a intenção ou a pessoa quem o administra. Uma vez que este sacramento é outorgado por Deus à igreja por meio de um mandato divino, e o que o torna válido é invocação do Deus trino para isso, então, não demérito no sacramente por causa de quem o administra.
3.3.2 – Ulrich Zwínglio:
            Um dos reformadores pouco conhecido no Brasil chama-se Zwínglio ou Zuínglio foi reformador na cidade de Zurique na Suiça, ele sustentara que o batismo e a santa ceia não eram meios de graça, para ele estes sacramentos nada carregavam de redentivo.[5]. Para este reformador o sacramento do Batismo era símbolo da unidade, por isso, admite um só batismo.[6]   
3.3.3 – João Calvino:
            O reformador francês que residiu em Genebra e naquela cidade desenvolveu o ministério da Palavra. Elaborou uma teologia dos sacramentos que se faz presente em todas as confissões de fé reformadas incluindo os Padrões de Westminster (padrões doutrinários na Igreja Presbiteriana).
            Calvino segue a definição agostiniana para os sacramentos “uma forma visível de uma graça invisível”[7]O reformador de Genebra chama o sacramento do Batismo de uma “marca de nosso cristianismo” e do “sinal no qual somos recebidos na Igreja, para que enxertados em Cristo sejamos contados entre os filhos de Deus”.[8]
            Quanto ao tema da validade e eficácia do Batismo Calvino revela que tanto um quanto o outro não depende de quem celebra o sacramento, porque devemos receber o batismo como “se o recebêssemos das mãos do próprio Deus[...] pode-se deduzir daqui de que nem se tira, nem se acrescenta nada ao Sacramento a causa da dignidade de quem o administra [...] quando se envia uma carta não se importe quem seja o portador”.[9]
A tradição cristã Reformada nos deixa o legado de que o batismo tem a sua validade eficácia não por causa da intenção de quem administra. Isto também é assegurado na Confissão de Fé de Westmisnter quando trata dos sacramentos: “[...]; nem a eficácia deles depende da piedade ou intenção de quem os administra, mas da obra do Espírito e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem. Ref. Rom. 2:28-29; I Ped. 3:21; Mat. 3:11; I Cor. 12:13; Luc. 22:19-20; I Cor. 11:26.”
O que nós aprendemos aqui sobre a validade e a eficácia do sacramento do Batismo? Que para “a validade do sacramento é essencial que seja ministrado ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’”.[10] Ou seja, quando lemos Mateus 28.19 temos alí o designativo de Deus que dá sentido e validade ao Bastismo.



[1] Confissão de Fé Capítulo XVII seção IIII.
[2] Confissão de Fé Capítulo XVIII seção 7
[3] Pedobatismo = ao batismo dos filhos dos crentes recém-nascidos.
[4] LUTERO, Matinho.  Do Cativeiro Babilônico da Igreja In: Obras Selecionadas, Volume II, p. 379.
[5] TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão, 1998, p.237.
[6] Apud, KLEIN, Carlos Jeremias. Batismo e Rebatismo  nas mais Diversas Tradições Cristãs. São Paulo: fonte Editorial, 2010, p.43-44.
[7] CALVINO, Juan. Institución de la Religón Cristiana. Barcelona: Felire, 1999, p. 1007-1008
[8] Ibid, p. 1028.
[9] Ibid, p. 1037.                                   
[10] HODGE, A.A. Esboços de Teológia. Tradução: F.J.C.S - Lisboa. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas (PES), 2001, p.846

sábado, 19 de março de 2016

O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE



1. A Doutrina Protestante

A Bíblia nunca fala que o homem tem algum outro corpo à parte de seu tabernáculo terreno e do corpo que há de possuir após a ressurreição. No entanto fala da alma como ativa e consciente quando está ausente no corpo e presente com o Senhor, e se a alma é uma substancia então ela possui poder, um poder de auto manifestação e um poder produtivo com base em sua natureza. A existência contínua da alma depois da morte é assunto à revelação divina. Constituía parte da fé da Igreja antes da vinda de Cristo. A revelação de todas as doutrinas que tratam dos destinos e salvação dos homens tem sido seguramente progressiva. Portanto, não deve surpreender-nos que a questão do estado futuro esteja muito menos desenvolvida no AT do que no NT. No entanto está ali. Quando Paulo (2Tm 1.10) se refere a “nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho”, não se deve causar surpresa ao dizer que a vida futura era desconhecida.

Quando o texto bíblico de Gênesis 3.19 diz: “...tu és pó, e ao pó retornarás”. (RA). Entende-se que o substantivo feminino alma ou נֶפֶשׁ (nephesh) não pode ser visto como pó, mas sopro, sendo semelhante à espirito (i.e., alma e espirito são termos sinônimos – apresentam a mesma ideia, que é a composição imaterial do homem), e, portanto, segundo a teologia dos hebreus, não deveria voltar ao pó; mas a Deus que a dera. Consequentemente, descobrimos que, por todas as Escrituras veterotestamentárias, apresentam-se os mais elevados conceitos acerca da natureza e do destino do homem. Lemos continuamente no AT que os mortos vão para os pais, como que descendo ao “Sheol”, ou seja, ao estado invisível que os gregos chamavam Hades. O Sheol é apresentado como o receptáculo ou morada geral dos espíritos dos falecidos, os quais estão ali em estado de consciência; alguns deles em estado de desventura e outros, de bem aventurança. Em todos os pontos, a ideia pagã do Hades corresponde à ideia bíblica do Sheol. Todas as almas iam para o Hades, algumas morando no Tártaro e outras, no Elíseo. Os hebreus consideravam que a alma dos mortos tinham consciência e atividade, é coisa evidente por prática na necromancia, e confirmada pela aparição de Samuel e Saul, tal como registrada em 1 Samuel 28.

Devemos ter em mente que no NT há um comentário inspirado, e, portanto um comentário infalível das Escrituras veterotestamentárias. Com base neste comentário, aprendemos que o Velho Testamento contém muito que de outra maneira já havíamos descoberto. E assim temos no NT as mais explícitas declarações não só de que estava revelada no AT a doutrina de um estado futuro, mas que ela desde o principio constituía parte da fé do povo de Deus.

Textos que reforçam esta ideia:

Atos 26.6-8 - “E, agora, estou aqui para ser julgado por causa da esperança da promessa feita por Deus a nossos pais. a qual as nossas doze tribos, servindo a Deus fervorosamente noite e dia, esperam alcançar; é por causa desta esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus. Por que é que se julga entre vós incrível que Deus ressuscite os mortos?”

A promessa a que ele se refere é a promessa de redenção por meio do Messias, redenção que inclui a libertação de seu povo do poder da morte e de outras más consequências do pecado. Esta era a promessa cujo cumprimento esperavam as doze tribos. Portanto, afirma-se que a crença em uma vida futura era parte de toda a religião hebreia.

Gálatas 3.8 - “Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou previamente a boa nova a Abraão...”

O evangelho, contudo, no sentido apostólico do termo, é a boa nova da salvação; e salvação é livramento da penalidade da lei e a restauração à imagem e ai favor de Deus, isso necessariamente envolve uma ideia de uma vida futura; de um estado futuro de miséria da qual a alma se torna livre, e de um estado futuro de glória e bem aventurança no qual ela foi introduzida.

Hebreus 11.13-16 - “Todos estes morreram na fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Ora, os que tais coisas dizem, mostram que estão buscando uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade”.

Portanto, a fé dos santos Veterotestamentários no invisível e eterno era tão intensa como a de qualquer outro grupo de pessoas desde a criação. Pois o que eles disseram foram do Espírito Santo, então o que disseram foi o que Deus disse. Temos, pois, a firme palavra da inspiração que nos diz que o povo de Deus creu, desde o princípio, em um estado de existência consciente para além do túmulo. Não carece de argumento e ninguém discute que esta é a doutrina do Novo Testamento.

2. O Estado Intermediário

Assim como todos creem na ressurreição do corpo e no juízo futuro, também todos creem em um estado intermediário. Ou seja, creem que há um estado de existência entre morte e ressurreição, e que a condição dos mortos durante esse intervalo é diferente.

A Bíblia não ensina antropologia de maneira formal, nem na esfera da fisiologia nem na da psicologia como área de ciência humana, mas pressupõe muito do que subjaz a esses diversos ensinos. Pressupõem que a alma e o corpo são duas substancias ligadas em uma união vital para constituir o homem, no atual estado de existência, como uma pessoa individual. Pressupõe que a sede dessa personalidade é alma. A alma é o eu, o Ego, do qual o corpo é o órgão. Pressupõe que a alma continua sua existência consciente, bem sua capacidade de agir e de perceber ações, uma vez separada do corpo. Já vimos que essa é a doutrina da Bíblia inteira. Os mortos, segundo as Escrituras, não deixam de existir; não deixam de continuar conscientes e ativos.

Algumas considerações:

Nosso Senhor prometeu que ressuscitaria seu povo dos mortos no ultimo dia. Portanto, parece estar envolvido na natureza da redenção de Cristo, e da união entre seu povo, que, enquanto estiverem ausentes do corpo, estarão presentes no Senhor. É inconcebível que, habitando neles o Espírito de Deus, que é o Espírito de santidade e glória, mergulhem na morte em um estado de existência inferior àquele que desfrutavam neste mundo. Portanto, descobrimos que, na parábola do rico e Lázaro, Cristo diz: “Aconteceu que morreu o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” (Lc 16.22). Portanto é inegável que a implicação de que em seu caso a transição foi imediata da terra para o céu. Ainda mais explicita é a declaração de nosso Senhor ao ladrão penitente: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). A palavra paraíso aparece em outras passagens no NT. Em 2 Coríntios 12.4, Paulo diz que foi arrebatado ao paraíso, o que explica dizendo que foi arrebatado até o terceiro céu. E em Apocalipse 2.7, Cristo diz: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus”. Portanto, é indubitável que o paraíso é o céu, e, consequentemente, quando Cristo prometeu ao ladrão moribundo que naquele dia ele mesmo estaria no paraíso, a promessa é que ele estaria no céu. Portanto, parece impossível que todo aquele que não repousa sua fé nos pais, e sim, na Bíblia, possa negar que alma do crente, na morte, entra no céu.

A palavra céu é certamente um termo de tão ampla aplicação na Bíblia como vida diária. Falamos das aves do céu; das estrelas do céu; de nosso Pai que está no céu; e dos crentes como cidadãos do céu. Que o paraíso e céu não são a mesma coisa é mera disputa semântica. Se a palavra céu for tomada em um de seus sentidos legítimos, então é a mesma coisa; o Apóstolo, porém, diz que estão agora  εν τοις επουρανιοις (Ef 2.6), ou seja, no céu. O paraíso, como termo empregado por Cristo e seus Apóstolos, é o lugar onde Cristo está agora e donde se manifesta sua presença e glória. Que esse é o lugar onde finalmente ele estabelecerá seu reino, e que todos os redimidos, revestidos de seus corpos ressurretos, estarão reunidos ali.

Rev. Alfeu Magalhães.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Em breve Introdução ao Novo Testamento