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quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Cruz Antiga e a Nova

A Cruz Antiga e a Nova

A. W. Tozer

Totalmente sem aviso e despercebida, uma nova cruz surgiu nos círculos populares evangélicos nos tempos modernos. Parece-se com a antiga cruz,

mas é diferente: as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais. Desta nova cruz brotou uma nova filosofia da vida cristã, e dessa nova filosofia proveio uma nova técnica evangélica - um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Esta nova evangelização emprega a mesma linguagem da antiga, mas seu conteúdo não é o mesmo e a sua ênfase não é como antes. A cruz antiga não fazia barganhas com o mundo. Para a jactanciosa carne de Adão, ela significava o fim da jornada. Punha em execução a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; ao contrario, é uma companheira amigável e, se corretamente entendida, é fonte de oceanos de boa e limpa diversão e de inocente prazer.



Ela deixa Adão viver sem interferência. A motivação da sua vida não sofre mudança; o seu prazer continua sendo a razão do seu viver, só que agora ele se deleita em cantar coros e em ver filmes religiosos, em vez de cantar canções obscenas e beber bebidas alcóolicas fortes. A tônica ainda está no prazer, embora agora a diversão esteja agora num superior plano moral, se não intelectual. A nova cruz estimula uma abordagem evangelística nova e inteiramente diversa. O evangelista não exige renuncia da velha vida para que se possa receber a nova. Ele não prega contrastes; prega similaridades. Procura caminho para o interesse do público, mostrando que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; ao invés disso, oferece a mesma coisa que o mundo oferece, só que num nível mais alto. Seja o que for que o mundo enlouquecido pelo pecado reclame para si no momento, com inteligência se demonstra que exatamente isso o evangelho oferece, só que o produto religioso é melhor. A nova cruz não destrói o pecador; redireciona-o. Aparelha-o para um modo de viver mais limpo e mais belo e poupa o seu respeito próprio. Àquele que é auto-afirmativo, ela diz: "Venha e afirme-se por Cristo". Ao egoísta diz: "Venha e exalte-se no Senhor". Ao que procura viva emoção diz: "Venha e goze a vibrante emoção do companheirismo cristão".



A mensagem cristã sofre torção na direção da moda em voga, para que se torne aceitável ao publico. A filosofia que está por trás desse tipo de coisa pode ser sincera, mas sua sinceridade não a faz menos falsa. É falsa porque é cega. Falta-lhe por completo todo o significado da cruz. A antiga cruz é um símbolo de morte. Ela representa o abrupto e violento fim do ser humano. Na época dos romanos, o homem que tomava sua cruz e se punha a caminho já tinha dito adeus a seus amigos. Não voltaria. Estava saindo para o término de tudo. A cruz não fazia acordo, não modificava nada e nada poupava; eliminava o homem, completamente e para sempre. Não procurava manter boas relações com a sua vítima. Feria rude e brutalmente, e, quando tinha terminado o seu trabalho, o homem já não existia. A raça de Adão está sob sentença de morte. Não há comutação nem fuga. Deus não pode aprovar nenhum fruto do pecado, por mais inocente ou belo pareça aos olhos dos homens. Deus salva o indivíduo liquidando-o e, depois, ressuscitando-o para uma vida nova. A evangelização que traça paralelos amistosos entre os caminhos de Deus e os dos homens é falsa para Bíblia e cruel para as almas de seus ouvintes. A fé crista não é paralela ao mundo; secciona-o. Quando vimos a Cristo, não elevamos a nossa velha vida a um plano mais alto; deixamo-la aos pés da cruz. O grão de trigo tem de cair no solo e morrer.



É preciso que nós, que pregamos o Evangelho, não nos consideremos como agentes de relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. É preciso que não nos imaginemos comissionados para tornar Cristo aceitável ao grande comércio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas, mas profetas, e a nossa mensagem não é um acordo, mas um ultimato. Deus oferece vida, não porém uma velha vida melhorada. A vida que Ele oferece é vida posterior à morte. É vida que se mantém sempre no lado oposto ao da cruz. Quem quiser possuí-la, terá de passar sob a vara. Terá de repudiar-se a si próprio e aquiescer-se à justa sentença de Deus que o condena.



Que significa isso para o indivíduo, para o condenado que desejar achar vida em Cristo Jesus? Como poderá esta teologia ser transferida para a vida? Simplesmente, é preciso que ele se arrependa e creia. É preciso que ele abandone os seus pecados e então prossiga e abandone a si mesmo. Que não cubra nada. Que não procure fazer acordo com Deus, mas incline a cabeça para o golpe do severo desprazer de Deus e reconheça que merece morrer. Feito isso, que ele contemple com singela confiança o Senhor ressurreto, e do Senhor lhe virão vida, renascimento, purificação e poder. A cruz que deu cabo a vida terrena de Jesus agora põe fim ao pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o ressuscita para uma nova vida ao lado de Cristo. A qualquer que faça objeção a isso ou que o considere meramente como uma estreita e particular visão da verdade, permita-me dizer que Deus fixou Seu caminho de aprovação nesta mensagem, desde os dias de Paulo até ao presente. Quer exposto nestas exatas palavras quer não, tem sido este o conteúdo de toda pregação que tem trazido vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os avivalistas, tem posto aqui a sua ênfase, e sinais, maravilhas e poderosas operações do Espirito Santo deram testemunho de aprovação de Deus. Ousaremos nós, os herdeiros desse legado de poder, adulterar a verdade? Ousaremos apagar com os nossos grosseiros lápis as linhas impressas ou alterar o modelo que nos foi mostrado no Monte? Não o permita Deus. Preguemos a velha cruz e conheceremos o antigo poder.

Este artigo foi publicado no antigo portal Textos da Reforma

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Martyn Lloyd-Jones


Na vida cristã não há nada mais importante do que saber raciocinar, argüir e deduzir do ensino escriturístico. Isso constitui uma parte essencial e vital da fé. Que é fé? Fé é, em primeira instância, uma atividade, especialmente uma atividade da mente. É aí que tendemos a errar. Temos tanta preocupação em contrastar a fé com a razão que caímos em erro. Dizemos corretamente que ninguém jamais pode fazer-se cristão por meio do seu entendimento. E então dizemos: "Logo, a fé nada tem a ver com a razão". Nesse ponto erramos. É muito importante estarmos certos quanto à relação entre fé e razão.

Isaac Watts, num conhecido dístico, diz:

Onde falha a razão, com seus poderes todos,


Lá a fé prevalece, e o amor adora a Deus.



É claro, Isaac Watts está certo. Nestes versos ele está pensando em nosso ingresso na vida cristã e no que se pode dizer sem mentir, mesmo da vida cristã, quando somos tentados e caímos, recorremos de novo à razão "natural", em lugar da razão da fé. Na "vida de fé" a razão e o argumento um papel de vital importância. Mas não se trata da velha espécie de razão e de argumento; é o exercício do raciocínio com fé, o raciocínio que vem da fé, o raciocínio para a fé. "A fé", diz-nos a palavra, "é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem" (Hebreus 11:1). Significa que temos certas declarações e que deduzimos outras coisas delas. Há toda diferença do mundo entre confiar somente na razão, em detrimento da fé, e a fé que raciocina e argumenta, fé que o apóstolo está acionando nesta seção.



Entretanto, deixem que mencione outro perigo, o perigo de ficarmos demasiado confiantes em nossos sentimentos. A fé leva aos sentimentos e os inclui, porém os sentimentos não vêm em primeiro lugar. O primeiro elemento da fé é intelectual; o emocional segue-se a ele. Como diz uma frase de um salmo: "Provai, e vede que o Senhor é bom" (Salmo 34:8). Você só pode ver depois de ter provado. Devemos entender claramente qual é a posição que os sentimentos ocupam. Não devemos confiar demais neles, nem tampouco os devemos excluir. A fé é como andar numa faca de dois gumes; se você for longe demais dos dois lados, terá problemas.



Então, que é fé? Fé realmente significar crer em Deus, fé em tudo o que ele diz sobre o que Ele fez por nós.



Não mais dispomos da referência bibliográfica.


Este artigo foi publicado no antigo portal Textos da Reforma

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Deus nos manda viver onde não queremos viver

Jeremias 29:4-14

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor. Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.”

Introdução

Às vezes não percebemos o quanto somos influenciados pelo meio em que vivemos, até que um dia tudo muda de forma impetuosa e abrupta. De súbito um sentimento de desvalorização pessoal se funde a uma sensação de precariedade que radicalmente impede de nos adaptarmos no novo contexto e geralmente esse novo contexto se torna um lugar onde não queremos estar.

As Escrituras de certa forma nos revelam experiências de pessoas que em algum momento estavam vivendo em lugares onde elas não queriam viver. Essa foi a realidade do exílio na Babilônia. Com base no testemunho bíblico podemos presumir que as pessoas foram brutalmente arrancadas de onde haviam nascido deixando para trás a terra prometida, o templo, as casas e de modo mais amplo sua cultura. O povo foi forçado a caminhar como mais de 1.100 quilômetros pelo deserto para finalmente serem recebidos em país de língua estranha, com costumes paganizados e onde a geografia nem de longe lembrava a imponência dos montes da palestina.

Definitivamente o povo estava onde não queria estar. Estavam longe de casa, vivendo uma nova realidade, em meio à dor e a alienação. No entanto havia um desígnio maior debaixo do governo de Deus, no sentido de ensinar ao povo algo que só pode ser aprendido quando se vive onde não se quer viver.

Da mesma forma como aconteceu no passado ao povo de Israel somos sujeitados por algumas circunstâncias a viver onde não queremos viver. Muitas vezes somos afastados da nossa zona de conforto quando perdemos referenciais de amizade, costumes, histórias e hábitos. Podemos sentir isso com maior ou menos intensidade, quando se muda de bairro, de cidade, de país, de igreja e etc. No entanto o fato que permanece é que em muitas situações podemos identificar nossos exílios na medida em que Deus nos constrange a viver onde não queremos viver.

Mas o que fazer quando estamos longe de nossa zona de conforto? O que fazer quando somos constrangidos a viver aquilo que não queremos viver?

O texto que lemos hoje em Jeremias 29.4-14 nos ensina três atitudes que devemos assumir quando Deus nos manda viver onde não queremos viver.

I. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a primeira atitude que devemos assumir é fazer o melhor com aquilo que temos. (4-7)

No exílio (no lugar onde não se quer estar), absolutamente sem direção, desajustados e arrasados os expatriados receberam uma carta do profeta Jeremias que dizia:

5 Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.

6 Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais.

7 Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.

Ora, meus irmãos e irmãs, quando se está num lugar onde não se quer estar, são criadas deliberadamente algumas atitudes para blindar do mundo externo, como por exemplo:

  • · O isolamento total ou parcial da cultura – seja por medo, arrogância ou depressão;
  • · Negligência quanto a criar raízes e relacionamentos profundos – o desejo nesse caso é abandonar e voltar para casa;

Evidentemente que na Babilônia os desterrados não tinham nenhum desejo, ambição ou motivação para se darem pela excelência. Na maioria dos casos a vida dos desterrados se misturava amargamente com uma existência opaca, amorfa e zumbificada. Discernindo esse estado de alma dos desterrados Jeremias disse:

  • · Vocês não querem morar na Babilônia, mas é nela que vocês vão morar, portanto construam nelas as suas casas; não cruzem os braços de vocês, vivam da melhor forma possível;
  • · Não sejam parasitas preguiçosos, nem fanáticos obscurantistas que se isolam de tudo e todos; tratem de estudar, e desenvolvam o trabalho na Babilônia;
  • · Constituam famílias; cumpram o mandato de Deus quanto a multiplicação;
  • · Busquem a paz e orem por ela. Vocês vão ficar onde não querem, mas é onde vocês não desejam estar que terão que buscar viver em paz.

Jeremias estava dizendo para o povo: façam o melhor, busquem o melhor. A Babilônia não é o lugar que vocês querem estar, contudo é nela que se cumprirá o destino de vocês, portanto tratem de viver da melhor forma possível. Vocês não aprenderam a viver assim em Jerusalém, agora vão ter que viver na Babilônia.

Meus irmãos e minhas irmãs, o testemunho das Escrituras nos convida a crer no Soberano Deus.

“Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? ” (Isaías 43:13, RA)
“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” (Jó 42:2, RA)
“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” (Salmos 139:16, RA)
“Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.” (Mateus 10:29-30, RA)

Aqui cessam todas as nossas pretensões de livre arbítrio, aqui cessam todas as nossas ilusões de controle, aqui cessam todas as nossas fantasias de liberdade e resta apenas o fato que Deus governa sobre todas as coisas. E porque Deus é soberano eu sei que não estou aqui por acaso. Sei que estou aqui hoje porque essa foi a vontade de soberana do Senhor e que por fim há propósito na ação de Deus.

Irmãos e irmãs, Deus é soberano e por vezes no grande propósito de Deus não conseguimos entender porque Ele nos levar para o lugar onde não queremos estar. Por meio do profeta Jeremias, o Senhor está dizendo façam o melhor, mesmo que vocês estejam onde não querem estar.

  • · Se família está em crise (você não queria estar na situação que vive), faça o melhor: faça o melhor que você pode como filho, como marido, como esposa;
  • · Se a Igreja está em crise (você não queria estar numa igreja em crise), faça o melhor: busque a excelência no seguimento de Jesus Cristo.
  • · A sociedade embriagada por Satanás (e você não quer viver a realidade) faça o melhor; faça tudo para a glória de Deus.

Além de fazer o melhor:

II. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a segunda atitude que devemos assumir é a coragem para enfrentar a realidade. (8-9)

Enquanto o povo construía muros para se defenderem dos inimigos o profeta Jeremias e outros pregavam que a única segurança era viver em fidelidade ao Senhor. Essa mensagem, porém foi ridicularizada e desprezada.

Um dia então o exílio chegou separando os líderes mais influentes para serem deportados, pois sem líderes o povo seria como ovelha sem pastor. Jeremias não foi deportando, pois de julgavam ser ele um inútil diante da grande crise de fé que o povo vivia. Sim, o povo vivia uma grande crise existencial, pois eles achavam que o castigo de Deus havia sido muito duro, já que a vida na Babilônia era marcada por uma língua estranha, comidas impuras, escolas paganizadas, e não havia um lugar solene para a adoração.

Um dos salmos que melhor expressa essa realidade é salmo 137 que diz:

“Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria. ” (Salmos 137:1-6, RA)

Com base nesse grande ansiedade, não demorou muito para que falsos profetas agissem, projetando e vendendo fantasias em nome de Deus pregando que o exílio logo acabaria. Essa pregação forjou um comportamento irresponsável e contra cultural por parte dos exilados que conseqüentemente se tornaram indiferentes a realidade, afinal o exílio logo acabaria. Na verdade o povo vivia como vítima e os falsos profetas retroalimentavam essa nóia (vitimização), viciando o povo na autocomiseração que algemava os deportados na indiferença frente à nova cultura. Diante dessa realidade a palavra que Jeremias transmitiu foi a seguinte:

8 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; 9 porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor

Irmãos e irmãs vamos convir num ponto, é mais fácil viver lamentando do que encarar a realidade de frente.

Mais fácil do que encarar os problemas de hoje é se enganar olhando álbuns de fotografias do passado, dizendo para si mesmo que melhor foram os dias passados;

Mais fácil é fugir dos conflitos de hoje do que conviver com gente que você não gosta e num lugar que você não vê futuro (se for um casamento você acaba – se for igreja você muda – se for emprego você larga – se for uma pessoa você ignora)

Mais fácil é fazer beicinho diante da vida, quando tudo parece conspirar contra a nossa felicidade e a existência grita violentamente para nos acordar das utopias mostrando o quanto a realidade pode ser entediante e monótona.

É exatamente nesse vício da autocomiseração e seu efeitos psicológicos e comportamentais que os falsos profetas encontram ecos minimizando a realidade e apontando uma solução simplista dizendo: Pare de sofrer! Basta você “declarar”, “pensar positivo”, “fazer ritual tal” ou sacrificar valor “X” e tudo será diferente!

Querido irmão, Em nome de Jesus, entenda de uma vez por todas que a vida é difícil, por vezes gememos, sentimos medo, ficamos apavorados, deprimidos, chateados. Por vezes temos conflitos no lar, os filhos crescem e se tornam desobedientes, infelizmente alguns se desviam da igreja. Por vezes trabalhamos em situações extremamente estressantes, o dinheiro é pouco, a doença não tem cura, a sociedade é podre e a cada dia fica pior.

Não queremos viver nesse exílio, não queremos habitar nas terras da decepção e da tristeza, mas ainda que seja contra a nossa vontade temos que enfrentar a realidade procurando fazer o melhor.

Como bem disse Paulo: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco. Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:8-13, RA)

basta somente fazer o melhor e encarar a realidade:

III. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a terceira atitude que devemos assumir é ter esperança nas promessas do Senhor. (10-14)

Em meio tantas advertências e conselhos, a carta de Jeremias termina com uma promessa da parte de Deus para os exilados:

10 Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar.

11 Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.

12 Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei.

13 Buscar-me-ei e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.

14 Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.

Penso que essas palavras são o ponto mais alto da profecia de Jeremias, não que tudo ele disse perdesse o seu valor ou fosse inferior, mas porque a esperança sempre é o ponto mais alto para quem está à beira do desespero. Todavia nem sempre a Palavra de Deus tem sido absorvida da mesma forma pelas pessoas que ouvem. No tempo de Jeremias três profetas se levantaram furiosos contra ele e cobravam do sacerdote Sofonias dizendo:

“O Senhor te pôs por sacerdote em lugar do sacerdote Joiada, para que sejas encarregado da Casa do Senhor sobre todo homem fanático que quer passar por profeta, para o lançares na prisão e no tronco. Agora, pois, por que não repreendeste a Jeremias, o anatotita, que vos profetiza? Pois nos enviou mensageiros à Babilônia para nos dizer: Há de durar muito o exílio; edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.” (Jeremias 29:26-28, RA)

Assim era a vida de Jeremias: por um lado hostilizado pelas elites, e por outro predestinado desde o ventre materno para ser profeta. Por isso, se por um lado alguns desprezaram a pregação da esperança, creio que outros ouviram de bom grado a mensagem profética da esperança e por conta disso passaram por uma grande experiência de conversão que constituiu um dos períodos mais criativos na história religiosa dos hebreus.

É interessante observar que foi exatamente onde eles não queriam viver:

  • que muitos perseveraram no caminho da piedade;
  • que muitos se converteram;
  • que descobriram que não existe fronteira geográfica para servir a Deus

Por causa do exílio, eles perderam tudo para entenderem que a vida não vale nada se Deus não estiver no centro de todas as coisas.

Em Jerusalém durante a reforma de Josias, dogmaticamente tudo estava perfeitamente alinhado e aritmeticamente ajustado com o deuteronômio, no entanto a Palavra de Deus não era traduzida em vida em todas as dinâmicas da existência. Em sua maioria o povo vivia de rituais vazios, orgasmicamente pressionados pelo consumo, pelos modismos e pela mentira.

Veio o exílio e eles se viram onde não queriam estar. Não havia templo, não havia os montes, não havia mais o aconchego e a tranqüilidade que se tem quando se está em casa, todavia foi nesse ambiente hostil que muitos aprenderam a textura de uma vida moldada pela promessa de Deus, para a partir de então buscar a paz, através da oração e da suplica na presença de Deus.

Meus irmãos e irmãs, muitas vezes Deus nos leva para onde não queremos estar para que possamos de fato aprender a viver pela esperança nas promessas do Senhor.

Parece irônico, mas às vezes temos recursos, doutrina, história, tradição, erudição, temos praticamente tudo, mas não temos vida, não apresentamos uma vida piedosa e verdadeira diante de Deus. Temos tudo e ao mesmo tempo não temos nada.

Por isso, Deus como um pai que nos disciplina e para a nossa correção tira de nós o que mais queremos e nos leva para onde não queremos estar para que assim nossas vidas sejam equilibradas e redimidas de tudo que é periférico e assim fiquemos essencialmente com o Senhor acima de todas as coisas.

Talvez você esteja onde você não quer estar, talvez você esteja revoltado com muitas coisas (Deus, com a igreja, com as pessoas, com a sociedade, com o sistema). Se você está assim hoje, em Nome de Jesus, entenda que Deus nos tira tudo que achamos ser importante para que possamos viver;

  • Confiando em sua bondade;
  • Piedosamente em oração;
  • Buscando o Senhor de todo o coração;
  • Confiando que nossas vidas pertencem a Ele;
  • E que no tempo Dele nossa sorte será mudada.

Conclusão

O exílio é o pior que manifesta o melhor. Deus nos manda viver onde não queremos viver. A realidade da nossa vida muda num piscar de olhos de tal maneira que oscilamos dos espasmos sazonais de felicidade para enfrentar nossos exílios que nos sobrevêm na forma de catástrofes, doenças, desempregos, morte, mudanças. De uma hora para outra tudo mudou e você nem seque é consultado.

Quando chega o exílio o que você faz: você reclama, foge da realidade?

Hoje Deus nos diz:

Construa uma casa – constitua família – trabalhe duro e busque viver em paz.

Em outras palavras Deus está dizendo:

  • · Viva o melhor que você pode;
  • · Enfrente a realidade;
  • · Você pode ser uma pessoa melhor onde quer que esteja, desde que o seu coração esteja no centro das promessas de Deus.

Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude em nome de Jesus.

Rev. Francisco Macena da Costa.

Fortaleza, 27 de maio de 2010

Congregação Presbiterial no Cambeba

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

As Iniqüidades de Sodoma

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. Ezequiel 16:49.

No capitulo 16 do Livro de Ezequiel, Jerusalém é comparada a uma grande Meretriz que se prostituiu com vários povos, como o Egito e a Assíria fazendo-se opróbrio, ou seja, vergonhosa e infame. O verso 3 do capitulo 16 nos apresenta a verdadeira origem de Jerusalém, seu pai era Amorreu e sua mãe era Hetéia. Todos nós sabemos que Jerusalém é do Senhor e o Senhor é aquele que reinará em Jerusalém, pois esta é a cidade do grande Rei (Sl 48:2; Sl 87). Mas os pecados de Jerusalém aqui tinham se multiplicado tanto que sua identidade mais se assemelhava com os Heteus e Amorreus - os dois maiores povos pecadores que povoavam a antiga Canaã - do que com Seu Pai celeste o Senhor Deus Santo.
Que grande tristeza ver aquela que é a cidade do Grande Rei, agora ser comparada a dois povos vis.
O próprio capítulo 16 nos retrata como o Senhor se apiedou de Jerusalém, como Ele cuidou dela quando seus pais a rejeitaram, com tanto carinho e amor o Senhor a vestiu, deu de comer a ela, deu-lhe jóias, fez dela poderosa. Mas ela se depravou se entregando as suas paixões, ao ponto do Senhor a comparar com uma meretriz da pior categoria, pois uma prostituta recebe pelo trabalho dado ao homem, mas Jerusalém fazia ao contrário: se prostituía por prazer, eu chego a dizer que ela pagava para que viessem se prostituir com ela Ez 16:34.
Jerusalém chegou a níveis tão baixos de prostituição que foi comparada a Sodoma.

No verso 49 vemos Deus revelar os pecados de Sodoma e é sobre estes pecados que eu gostaria de escrever. Eu encaro estes pecados como simples, não porque a minha tolerância ao pecado seja alargada, mas pela facilidade de cometê-los. Vejamos o que o texto nos apresenta:

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba. O primeiro pecado citado por Deus no verso é a Soberba, mas o que vem a ser a soberba?
Soberba significa huperephanos em grego ou gâ’ôn em hebraico que quer dizer “mostrar-se a si mesmo”, “aparecer mais” e é utilizado para indicar preeminência, algo arrogante, desdenhoso, orgulhoso e altivo. Exatamente o que Sodoma era: altiva. Deveria ser um lugar lindo, pois era o sul do Mar Morto e ficava em uma planície, ou seja, semelhante ao Éden.
Gn 13:10. Sodoma era uma cidade poderosa, isso explica a sua soberba, ela detinha riquezas em suas mãos, riquezas que lhe cegaram e fizeram dela desdenhosa em todo o mundo da época. É a mesma lição que Paulo nos dá em I Tm 3:6 onde ele instrui Timóteo a não ordenar jovens na fé ao ministério, pois tendo eles proeminência como ministros poderiam cair neste pecado assim como o Diabo. Vanglória é algo muito perigoso e isso pode acontecer com qualquer um de nós, devemos nos apartar deste tipo de coisa. Mas a Soberba pode ser incitada em nós por outros, uma lisonja pode ser o suficiente para desencadear este pecado em nós. Como há pessoas lisonjeiras em nosso meio, pessoas que querem ter algo de nós e assim não medem esforços em lisonjear. Pv 25:27, 26:28. O perigo da Soberba está a porta, qualquer embaraço é suficiente para cair nele. Devemos ter em mente que tudo que há em nós é dom de Deus e que mesmo que façamos tudo que havia sido mandado ainda assim seremos chamados de servos inúteis Lc 17:10, por isso devemos entender de uma vez por todas que não há motivo no coração cristão para ser soberbo, antes ter uma humildade alargada com um coração grato diante do Senhor o qual dá fôlego para todos At 17:25-27. Calvino nos ensina: “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto quem quer se ponha num nível mais elevado não passa de imbecil e impertinente. A genuína base da humildade cristã consiste em não ser presumido, porque sabemos que nada possuímos de bom em nós mesmos; e , de outro, se Deus implantou em nós, que o mesmo seja, por esta razão, totalmente debitado a conta divina graça” (João Calvino, Exposição de I Coríntios, São Paulo, Parakletos, 1996, (I Co 4:7), p 134-135).

Vejamos agora outro pecado de Sodoma:

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Fartura de Pão.
Fartura de Pão? Sim fartura de Pão!! Havia muita riqueza, como no texto citado acima em Gn 13:10 era uma planície e bem regada, logo a terra era boa para se plantar, era boa para se cuidar de animais; dessa maneira não havia falta de mantimentos em Sodoma, era uma cidade mercantil, ou seja, o comércio de Sodoma e Gomorra era bem desenvolvido.
Sodoma era abarrotada de pão, podemos pensar que a gula prevalecia sobre os cidadãos daquela cidade, acredito que as pessoas eram escravas de seus próprios estômagos. O contentamento não existia lá, certamente eram opostos ao conselho do apostolo Paulo I Tm 6:8.
Que dificuldade quando o nosso corpo manda em nós? Quando ele tem mais poder do que nós mesmos? Quantos de nós não nos entregamos em grandes refeições quando muitas vezes estamos até sem fome, mas comemos por prazer? Não digo aqui unicamente no sentido da comida, mas da satisfação carnal de nossos desejos pecaminosos. A satisfação da carne é algo muito perigoso, vamos ver o que a Palavra de Deus fala. Gl 5:21 Devemos nos apartar em satisfazer a vontade descontrolada da carne. Ter as coisas em excesso não é bom, o próprio Jesus nos ensina em seu evangelho que é difícil um rico entrar no reino dos céus Mt 19:24 e também nos apresenta a vaidade em ganhar o mundo e perder a alma Mc 8:36. De que adianta ter dinheiro, fama, conhecimento, beleza, força, poder, prazer deste mundo e ser morto espiritualmente? É bom analisarmos nossos ideais de vida “de vez em sempre” para ver se nossa real motivação está na aquisição descontrolada da materialidade ou em glorificar a Deus com os nossos bens. Novamente, gostaria de citar Calvino quando nos diz: “Certamente, o marfim, o ouro e as riquezas são boas criaturas de Deus, permitidas, e até destinadas ao uso dos homens; também em nenhum lugar se proíbe ao homem rir e fartar-se ou adquirir novas propriedades ou deleitar-se com instrumentos musicais ou beber vinho. É certo. Mas, quando alguém goza abundância de bens, se ele se deixar envolver pelas coisas que lhe causam deleite, embriagar sua alma e seu coração com os prazeres desta vida e viver buscando outros novos, muito longe estará do seu uso santo e legítimo dos dons de Deus”. (João Calvino, As Institutas, (1541), IV.14) ou então em outra passagem Calvino nos apresenta o seguinte: “Quando o Senhor nos abençoa, também nos convida a seguirmos seu exemplo e a sermos generosos para com o nosso próximo. As riquezas do Espírito não são para serem guardadas para nós mesmos, mas sempre que alguém recebe deve também passa-las a outrem. Isto deve ter uma aplicação especial aos ministros da Palavra, mas também tem uma aplicação geral a todos os homens, a cada um em sua própria esfera.” (João Calvino, Exposição de II Coríntios, São Paulo, Parakletos, 1995, (II Co 1:4) P.17).

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: a prospera ociosidade.
Além de soberba, fartura de bens, ela era ainda ociosa, preguiçosa.
Como é interessante a preguiça, pois quanto mais você descansa mais você quer descansar! Descansar após o almoço, descansar a noite, descansar, descansar e descansar. O ócio é inimigo de muitos e pelo jeito era inimigo de Sodoma, este foi de fato um pecado pelo qual ela caiu.
Pv 13:4 nos dá uma nítida realidade do que é o preguiçoso, este deseja e não tem nada, pois não se esforça em trabalhar. O preguiçoso não tem compromisso com nada além dele mesmo e com seu descanso, podemos dar para ele qualquer atividade e ele não desenvolve, ele não que saber do trabalho. O ócio nada mais é que uma forma de egoísmo, pois o que importa apenas é o descanso do indivíduo ou a sua falta de comprometimento com outras pessoas. Oxalá, Deus não nos pegue em ociosidade, pois eu não quero ouvir a mesma resposta que teve aquele indivíduo que tinha recebido um talento do Senhor e o enterrou Mt 25:26-46. Sodoma foi julgada pela sua ociosidade e foi decretada condenada, e em menos de um dia desapareceu do mapa e não sabemos até hoje onde exatamente ela era.


Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.
Vemos que o amor ao próximo de Sodoma era zero. Conseguimos observar que não ajudavam em nada aqueles que necessitavam. A responsabilidade social de Sodoma era péssima. O que esperar de ricos, soberbos e preguiçosos? Sodoma não se importava com os outros, só consigo mesma. Para que ela iria se comprometer com pobres? Para que ajuda-los? Mas Tiago dá uma boa resposta a isso em sua carta “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” desprivilegiar os pobres e negligenciar o que Deus tem colocado na vida deles, Deus escolheu as coisas contrárias para confundir as certas. I Co 1:27. O cuidado de nossos irmãos é nossa responsabilidade também, não ajudar sabendo que deve ajudar, isso é pecado. Tg 4:17. Calvino assim dizia: “O propósito de todos os dons da graça é que sejam assim comunicados aos membros de Cristo. Portanto, quanto mais fortes somos em Cristo, tanto mais obrigados somos de apoiar os fracos.” (João Calvino, Romanos, 2ª ed., São Paulo, Parakletos, 2001, (Rm 15:1), p. 495). Lembro que há vários tipos de pobreza, existem pessoas pobres espiritualmente, que são ainda crianças que precisam de ajuda.
Pensemos e reflitamos sobre nosso estado diante de Deus se há soberba em nosso coração, ou estamos nos apegando aos excessos desta vida com seus tantos cuidados, ou então estamos enterrando aquilo que o Senhor tem nos dado por mera preguiça ou se estamos sendo irresponsáveis para com nossos irmãos.
Isso foi o modelo usado por Deus para comparar Jerusalém, para que o povo pudesse ver o nível no qual se encontravam realmente. Eles estavam degenerados diante de Deus, mas há um diferencial aqui, Jerusalém era a cidade eleita, é onde o grande Rei irá reinar, Jerusalém podia e estava imunda pelo pecado, mas o Senhor diz:

Contudo eu me lembrarei do meu pacto, que fiz contigo nos dias da tua mocidade; e estabelecerei contigo um pacto eterno.
Então te lembrarás dos teus caminhos, e ficarás envergonhada, quando receberes tuas irmãs, as mais velhas e as mais novas, e eu tas der por filhas, mas não por causa do pacto contigo.
E estabelecerei o meu pacto contigo, e saberás que eu sou o Senhor;
para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando eu te perdoar tudo quanto fizeste, diz o Senhor Deus. Ez 16:59-63

Deus não nos faz pecar, somos nós mesmos que pecamos pelo fato de negligenciarmos a Deus. Mas Deus é tão poderoso e soberano que utiliza até nossa desobediência para realizar seus planos. Ele se lembraria da aliança que tinha com Jerusalém a perdoaria e isso avultaria em mais glória para Ele mesmo, visto que seria conhecido como aquele que recebeu de volta aquela que o traiu, mas se arrependeu. Jerusalém irá adorá-Lo com muito mais fervor, pois foi perdoada de inúmeros pecados e agora têm muito mais motivo para viver uma vida que agrade a Deus. Seria fiel a Deus, pois Deus mostrou-se ser fiel a ela mesmo sendo pecadora.
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento? Rm 2:4
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Por André Geske