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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Vontade de Deus

 Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?” (Ezequiel 33.11)

Usando textos como este, de um lado, arminianos colocam em cheque a ortodoxia reformada, de outro, calvinistas sinceros se esforçam para harmonizar os ensinos sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Não é meu intento com este artigo apresentar uma exaustiva explanação teológica sobre o assunto. Quero começar com uma pergunta crucial que atormenta, ou pelo menos deveria, aqueles que estão a par das controvérsias, que vez por outra, colocam irmãos em lados diferentes da trincheira.
Como podemos afirmar que não é da vontade de Deus que o ímpio se perca e ao mesmo tempo afirmar que Deus faz toda a sua vontade sem que isso nos leve ao universalismo, ou seja, que no final todos os homens serão salvos?
Deus é um Ser ímpar, sua existência em si já é suficiente para desequilibrar todo o sistema lógico estabelecido pela mente finita do homem, como por exemplo, o tempo; passado, presente e futuro, coisas deste tipo, diante de um Ser como Deus parecem coisas irrelevantes. O ateísmo encontra ai campo fértil para disseminar suas conclusões racionalistas mostrando a suposta “incoerência lógica” da existência de um Deus ao mesmo tempo Soberano e Benigno. Quando se fala de Deus e daquilo que lhe é próprio como sua vontade, primeiro deveríamos abrir mão de todo preconceito e reconhecer que a pobre lógica humana é altamente insuficiente para transpassar a distância entre nossas limitações e o Ser Supremo. (Hebreus 11.6)
As Escrituras nos apresentam Deus como sendo um Ser Soberano que controla todas as coisas, Deus planeja e ordena tudo o que acontece em seus mínimos detalhes, nada acontece sem sua devida permissão e nada pode frustrar seus desígnios eternos, este é o papel que lhe cabe como Senhor dos Céus e da terra e nisto deveriam crer todos os cristãos ( 42.2).
Deus não está sujeito ao tempo e espaço, muito pelo contrário foi Ele que os criou, nossa mente sim esta acomodada a estes aspectos, isso nos torna muito limitados, no que diz respeito à “lógica da eternidade”, a vontade de Deus também não pode está cercada por estas paredes temporais as quais nos acostumamos, Deus é imensurável. A crença de que o decreto de permitir a queda veio antes do decreto de eleger alguns para salvação (infralapsarianismo), sugere uma ordem lógica dos decretos e não ordem temporal, ou seja, na eternidade, antes de todas as coisas, Deus decretou permitir a queda, colocado assim nessa ordem lógica, e somente assim, passa a fazer sentido falar de um decreto de eleição, pois como Deus decretaria eleger alguém dentre todos que ele ainda não decretou permitir a queda, Deus criou Adão reto, não havia algo em sua natureza que o levasse irresistivelmente ao pecado, ele tinha a capacidade de não pecar (Eclesiastes 7.29).
Deus não foi pego de surpresa pelo pecado de Adão, no plano eterno de Deus tudo estava devidamente preestabelecido, porém pra isso e nem por isso Adão foi ativamente movido por Deus para pecar, Adão não era livre do desígnio de Deus, Deus é a causa última de todas as coisas, mas o que entra nesta questão não é se há causa primária ou não, mas sim se há uma execução livre, positiva e direta do próprio executor, é necessário que sua vontade, em suas volições ou atos executivos, tenha capacidade real de auto-decisão, isto é, seja determinada por seus próprios afetos e desejos espontâneos (livre-agência), contingência das causas secundárias também decretadas e estabelecidas por Deus (CFW 3,1) em outras palavras é dizer que aquilo que o homem faz é o que ele quer fazer, dizer isso não é o mesmo que dizer que o homem é autônomo de Deus, Deus é soberano, contudo a responsabilidade de Adão na escolha que fez é somente dele, Deus não teve prazer na queda do homem apesar de a ter decretado.
As duas principais conclusões precipitadas à que podemos chegar ao nos aprofundarmos no conhecimento das doutrinas da graça são: primeiro que Deus é injusto porque escolheu alguns para salvar e segundo que Deus tem prazer na morte do ímpio. O mesmo argumento usado para provar que não há injustiça da parte de Deus no escolher alguns de todos que por sua própria culpa certamente pereceriam, serve-nos também para mostrar o quanto longe está da verdade a posição hiper-calvinista de que Deus se alegra com a condenação de seres humanos ao inferno e age ativamente para causá-la, o argumento é este: se Deus condena-se todos ao inferno, sem exceção, poderia por isso ser chamado de injusto? De forma alguma, pois é exatamente por uma questão de justiça que se torna necessária a justa condenação de pecadores, seguindo essa mesma linha de raciocínio eu pergunto: se Deus condena-se todos ao inferno, sem exceção, isso provaria que Deus se alegraria ou teria prazer com isso, que teria prazer na morte eterna de todas suas criaturas? De forma alguma, assim também o fato de Deus ter elegido alguns para salvação, não prova e nem quer dizer que Deus tenha prazer na condenação eterna daqueles que ele não escolheu, Deus os deixou perecer em conseqüência de sua própria pecaminosidade, os vasos de ira foram abandonados em seu próprio endurecimento. Paulo enfaticamente declara: “Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece”. (Romanos 9.18), porém esse endurecimento não pode ser entendido como a causa da perdição dos não eleitos, a misericórdia sim é a causa da nossa salvação (Tito 3.5), e devemos lembrar que os alvos do endurecimento da parte de Deus são seres de natureza pecaminosa, endurecidos em si mesmos, como todos nós também éramos, antes de crer em Cristo, o endurecimento faz parte do justo castigo e julgamento de Deus, ele não os cegou, o pecado sim, e de forma alguma Deus pode ser considerado a causa do pecado e tão pouco da perdição de uma alma, o fato de Deus ter elegido alguns e não outros, não absolve os ímpios da responsabilidade pelos seus pecados, ninguém que estiver no inferno vai poder acusar a Deus dizendo que de alguma forma ele é o responsável por elas estarem lá, estas pessoas pecadoras como são por serem descendentes de Adão e conseqüentemente terem levado uma vida de impiedade, terão plena consciência da justa condenação da parte de Deus.
Ainda na eternidade, antes de todas as coisas, Deus decretou eleger alguns de todos, que mortos em Adão nasceriam, para lhes dar a vida (Efésios 1.4), e isto em função do decreto de permitir a queda. Será que podemos entender o texto que diz? “E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia”.(João 6:39) Será que esta passagem contraria Ezequiel 33:11? Que diremos? já que a missão de Jesus era salvar somente os eleitos e que sua morte só se tornaria eficaz pra estes, isso significa que Deus tem prazer em que os demais se percam? Argumento novamente: Deus ter elegido alguns para salvação e finalmente salvar somente estes, não prova e nem quer dizer que Deus tenha prazer na condenação eterna daqueles que ele não escolheu. A essa altura alguém poderia perguntar: Já que Deus não tem prazer na morte do ímpio, porque então ele a decreta? E a própria Palavra nos responderia essa questão claramente; porque isso é justo, Adão pecou lançando assim toda a sua descendência no precipício da morte (Romanos 5.12). O que a graça de Deus realmente faz é cumprir o decreto da eleição, é alcançar muitos, uma incontável multidão, daqueles que estão debaixo da ira divina, no caminho da perdição, livrando-os de sua justa condenação. E já me antecipando também gostaria de colocar outra questão, comumente levantada por aqueles que tem aversão às doutrinas da graça: Já que Deus não tem prazer na morte do ímpio, a graça bem que poderia alcançar a todos. Sim poderia, mas não nos cabe questionar os atos livres, santos, justos e soberanos de nosso Deus (Romanos 9:20-21, 9.12), se todos se perdessem, Deus ainda assim, seria um Deus Santo e Justo, e ainda assim poderíamos afirmar sem medo de errar, que Deus não tem prazer na morte do ímpio, pois o homem é o responsável pela sua morte e perdição (Romanos 6:23).
A Bíblia é a vontade revelada de Deus, e nela Ele não nos ordena pecar para perecermos, e sim conclama a todos os homens em todos os lugares que se arrependam e creiam para serem salvos (Atos 17:30), a isso chamamos de chamado universal, e mesmo colocando a parte seus decretos soberanos (se fosse possível), a simples crença na presciência total de Deus, é suficiente para deduzirmos que Deus não espera que todos se arrependam, creiam e sejam salvos, por ser Deus Onisciente, é inconsistente dizer que Deus espera que aconteça aquilo que ele sabe que não acontecerá. Diferentemente do homem que quase sempre nutre falsas esperanças e muitas vezes planeja, mas não tem poder para levar a cabo suas decisões, Deus não somente sabe a quantidade exata de pessoas que serão salvas, ele mesmo é que salva soberanamente cada um, guardando-os e santificando-os até o fim, porque ele mesmo os escolheu antes da fundação do mundo (Romanos 8.29-30, Efésios 1.4), e mesmo tendo conhecimento e crendo nestas verdades reveladas pelas Escrituras devemos crer com a mesma força e proclamar que Deus não tem prazer na morte do ímpio, não servimos a um Deus tirano que salvando alguns fica se rindo dos que se perdem por sua própria culpa, pois o crédito e a glória da salvação são todos de Deus por causa da eleição, no entanto o crédito da perdição pertence totalmente ao homem, e Deus que com justiça decreta soberanamente a reprovação não é autor do pecado por isso.

Por Djalma Oliveira Santiago

2 comentários:

Unknown disse...

O teu texto, Djalma, esta muito bem escrito e coerente com as escrituras, apesar de eu nao concordar com elas e consequentemente com as explicaçoes do teu texto, ele esta demasiado interessante e muito bem elaborado.

Ao ler sentir que ele foi escrito pra mim(nao é, pelo menos diretamente) vc levantou muitas perguntas feitas por ateus e refutou uma a uma baseada na compreessao biblica. Nao que eu esteja concordando com as refutaçoes, pra mim nao tem logica se comparado ao senso de bondade e justiça comuns aos seres humanos, mas se relacionado com a biblia esta totalmente baseado em sentidos logicos.

Bem, se eu fosse uma arminiana, por exemplo, seguiria ao calvinismo pois ele so prega o que tem na biblia e essa é a unica forma de seguir a deus com a logica dele proprio. Ora, se ele se deu ao trabalho de "soprar" as informaçoes para que suas criaturas sigam suas leis e mandamentos eles tem que ser seguidos.

Por outro lado, nao concordo com a biblia nem com o que o calvinismo prega e acho o deus da biblia e seus mandamentos tal como sua bondade e sua misericordia muito crueis.Tambem nao vejo coerencia com a realidade, por isso nao acredito em deus e em suas fabulosas e idilicas proezas.

Achei o texto muito bem pensado e atingi perfeitamente aos outros que nao calvinistas.

Nao pense que estou puxando seu saco, nem tenho porque fazer isso, mas o texto esta cheio de coerencias biblicas.(embora a biblia nao seja coerente pra mim)

ps: continue assim..

Leonardo Leite disse...

Muito bem escrito seu texto.

Devo admitir que apesar de participar de uma denominação evangélica pentecostal que na sua maioria é constituída de doutrina arminiana dogmática, digo que sou tendencioso ao calvinismo prático.

Sua conclusão é perfeita. No entanto existem textos de prova em igual abundância a favor do Arminianismo. O problema da disputa está na ênfase que se dá à Soberania Divina (Calvinismo) e à Responsabilidade Humana (Arminianismo).

Creio que o homem só pode fazer uma única coisa para sua salvação: DECIDIR, aceitar a Jesus para salvação ou rejeitar a Jesus para condenação. O fato de Deus ter prévio conhecimento da escolha humana não o priva da livre-agência.

Somos realmente pretensiosos ao tentar compreendermos os desígnios divinos, mas não podemos deixar de prescrutar as riquezas das Escrituras.

Parabens pelo artigo.
Soli Deo Gloria