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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

...Nasceu da Virgem Maria*



Boa noite a todos, estamos mais uma vez aqui para estudarmos este tão precioso credo, e estamos agora abordando o segundo aspecto doutrinário do credo, ou seja, estamos lidando com: Deus, Filho e a nossa redenção. O nosso último encontro foi salutar, pois, aprendemos sobre a primazia de Cristo no credo. E hoje vamos trabalhar um aspecto que julgo de capital importância para cada um de nós que estamos aqui nesta noite, vejo que muitos tomam nota do que falo, isso é bom, todavia, gostaria que cada um pensasse comigo sobre o que vamos estudar apartir deste momento.
Iremos de fato avaliar o terceiro artigo do credo. Que diz: “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria...” Quando leio estas palavras fico pensando sobre que tema daria a esta aula de hoje? Seria o ato magno do Espírito Santo? Seria um bom tema para explorarmos nesta aula, todavia, isso seria cometer uma incongruência tamanha, pois, aqui se enuncia o aspeto teológico de Deus, o Filho; então, penso que o tema, não menos valoroso do que o que acabei de especular, seria de fato:
O GRANDE MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO.
Pois bem, este é o tema de nosso estudo desta noite. A doutrina da encarnação sumiu de nossos púlpitos, onde ela está? Por onde anda? Até mesmo em Igrejas confessionais tal doutrina não recebe a devida atenção; estaríamos prontos a vasculhar o credo e procurar nesta doutrina as dracmas perdidas da Igreja? Alguns, têm sugerido que tal doutrina, a encarnação, serve apenas para os círculos acadêmicos. É verdade que muitos de nós aqui pode até pensar desta forma, todavia, não deveria ser visto por este prisma. A encarnação é a doutrina da Igreja – no sentido mais prático do termo – e não pode ser relegada o mero intelectualismo árido que marca o nosso tempo.
O credo quando é recitado na Igreja fala-nos disso de forma muito clara, e precisamos compreender isso da forma mais prática e vivencial possível, este tem sido o meu grande desafio ao ministrar-lhes estas singelas aulas.
O nosso símbolo de fé diz “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por Obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...” estas palavras me deixam perplexo, pois, nos comunicam algo mais do que os melhores livros poderiam fazê-lo; estas palavras nos falam que Deus decidiu tornar-se um homem! A Segunda Pessoa da Trindade, Deus, o Filho foi “Concebido”! Nossa! Isso é elevado de mais para cada um de nós aqui nesta noite. Mas é a fé da Igreja e não pode ser negligenciada. Deus veio até os homens em forma humana. Isso é importante para todos nós que somos salvos, sem a encarnação não haveria a possibilidade de redenção.
O credo diz que a Igreja crê na realidade histórica da encarnação. Por que digo isso? Bem, porque muitos têm dito que não existe tal milagre! Vejamos o que podemos aprender sobre tais palavras com muita parcimônia.
A primeira questão que desejo chamar a sua atenção no credo é a expressão: “o qual foi concebido...” a palavra chave para toda a nossa abordagem está aqui “concebido” o termo grego pode ser traduzido por “gerado”, isso nos lembra a afirmação de calcedônia em 451 d.C – “gerado, não feito” – a idéia que o credo nos passa é que Cristo não veio ao mundo por ato criativo de Deus, o que de fato o colocaria na função de criatura de Deus! Gerar é algo mais profundo do que criar.
O que está envolvido aqui diletos irmãos em Cristo? Quando o credo usa o termo “concebido” está nos dizendo que Cristo tinha a mesma natureza do Pai. Reiteremos este assunto porque possui uma capital importância para cada um de nós. A negação deste principio basilar leva-nos para uma linha de uma cristologia truncada, anti-cristã e anti-filosófica.
A encarnação tornou-se possível devido ao papel ativo do Espírito Santo; isso é demonstrado em nosso credo que diz “...foi concebido por obra do Espírito Santo...” quando olhamos para esta declaração nos perguntamos, o que significam estas palavras? Estas palavras significam que O Espírito Santo esteve santificando o ventre da virgem para que esta pudesse receber o Filho de Deus. A obra do Espírito estava vinculado ao fato de que a concepção de Cristo deveria ser basicamente erigida sobre este princípio imperecível. O ventre de Maria deveria ser santificado para que a corrupção do gênero humano não passe para o redentor.
Qual era a função do Espírito Santo neste grande evento da encarnação? Um grande erudito nos diz que a função do Espírito Santo era “conservar a santidade e a impecabilidade daquele que estava para nascer” ; estamos de acordo com isso? Sim. Pois a evidência bíblica nos inclina para isto conforme Lucas 1.35.
A obra santificadora do Espírito sobre o ventre da virgem era de notável necessidade uma vez que todos (homens e mulheres) nascemos corrompidos conforme nos ensina o santo apóstolo em Romanos 5.12, era preciso que a doutrina da encarnação preconizada em Gênesis 3.15 encontrasse espaço mediante a ação do Espírito Santo – o descendente prometido deveria vir ao mundo para redimir, ser salvador e só poderia fazê-lo tendo uma natureza livre do pecado.
Isso nos leva para outra verdade ensinada no credo “o qual foi concebido por obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...”esta declaração do símbolo de fé deixa-me perplexo! Ele nasceu... Cristo veio ao mundo. Deus era uma criança nos colos de uma mortal! Aqui se retrata a profunda humilhação de nosso redentor. Ele nasceu de uma mulher.
Isso era necessário? A resposta deve ser positiva, pois, vemos no nascimento de Cristo o cumprimento de Gênesis 3.15. Ele era o segundo Adão que nos fala o apóstolo em Romanos 5. Ele tinha que ser humano perfeito. A doutrina enunciada aqui nos conduz para a compreensão da solidariedade da raça humana. Cristo partilhou de nossa natureza, ele recebeu uma natureza humana verdadeira – herdada de Maria – todavia, com diz Calvino, uma natureza “viciada a tantas misérias” a humilhação de Cristo está aqui clara diante de nós. O credo confessa isso. Ele se humanizou, e vestiu os trapos de nossa carne. ( Fp. 2.5-11)
O nascimento virginal de Cristo mais a ação soberana do Espírito Santo mostra a novidade da historia redentiva que Deus estava executando. O seu Filho estava vindo ao mundo para redimir o seu povo. O Seu Filho Santo veio habitar com os pecadores.
Note algo fundamental no credo. Não diz que ele veio ser depositado no ventre da virgem! Ele veio nascer. Ele nasceu, o seu nascimento foi natural – não foi algo magistral, foi simples, todavia, foi milagroso, pois, uma virgem gerou o Filho de Deus; aqui ecoa a realização do dito profético de Isaías 7.14 como boas-novas aos pecadores.
Quando o credo diz que ele “nasceu da virgem” se tem em mente mostrar que ele [Cristo] tomou para si uma alma humana verdadeira e que tinha um corpo real verdadeiro tangível ao toque humano Jo. 20.27-28. A Bíblia está repleta desta verdade que não pode ser negada.
Aprendemos pelas Escrituras que ele se “encarnou” conforme lemos em João 1.14; ele habitou entre nós. Já dissemos em outra ocasião que o verbo habitou aqui nesta passagem indica que “Deus tabernaculou”, armou a sua tenda em nosso meio. Ou seja, o nascimento do Filho Deus era a manifestação plena do dito profético que diz “seu nome será Emanuel” que quer dizer “Deus conosco”! Este deve ser o entendimento desta questão da encarnação.
A Bíblia ensina que Cristo tinha uma alma humana verdadeira vemos isso em Mateus 26.38, uma alma que poderia ser marcada pela tristeza; pela angústia de morte! Este é o ponto em questão, ele era homem pleno em sua constituição e negá-lo seria ir contra toda a evidência Bíblica.
Em nossas leituras bíblicas também aprendemos que Cristo de fato nasceu da virgem conforme nos ensina o credo que recitamos dominicalmente, a Bíblia diz que ele nasceu desta virgem que o credo apresenta o nome “Maria” Lucas 1.27,21,42.
Mas o credo está também focalizado na realidade de que o nascimento de Cristo vindo por uma virgem era de fato a inauguração de novo momento na história da redenção dos homens conforme aprendemos em Galátas 4.4 – na plenitude dos tempos – isso indica que o nascimento de Cristo inaugura o fim de uma era marcada pelo pecado e inaugura uma nova época. Ele é a concretização da esperança escatológica do período veterotestamentário. Então, Maria não está em cena neste aspecto de forma alheia a vontade de Deus, mas está exatamente para fazer cumprir o propósito de Deus para a redenção da humanidade que é restaurada em Cristo.
Cabe então, uma pergunta: Maria é co-redentora? Não. Ele não é redentora, mas é redimida pela ação de Deus. Ela crer em seu salvador – bastar ler o seu cântico no Evangelho de Lucas - o que este aspecto do credo sumariza para cada um de nós nesta noite é que Cristo tinha de fato uma natureza humana herdada de sua genitora. Todavia, ela gera a pessoa do redentor que é Deus e homem.
A encarnação de Cristo e sua geração no ventre da virgem nos aponta para a realidade da humanidade perfeita – perfeita? – Sim! Porque Cristo é sem pecado, ou melhor, concebido sem pecado. Isso não quer dizer que a relação marital seria pecado, especialmente neste caso aqui, mas significa que o efeito do ato miraculoso do nascimento virginal chama atenção para a mensagem redentiva de Deus ao homem. A sua concepção no ventre da virgem nos alude a questão de que formos feitos para sermos perfeitos, mas o pecado mudou tudo isso! É no ventre de Maria que pecado começa a ser tratado como deveria ser encarado, ou seja, como algo que corrompe todos os propósitos divinos, por isso, para a resolução do problema chamado de pecado é necessário uma intervenção divina – por isso, temos a menção ao Espírito Santo no credo – o Espírito Santo possibilita a chegada de Cristo ao mundo dos mortais.
Mas, é bom que se diga que o credo está rejeitando a noção gnóstica, conforme já temos abordado, pois, a realidade da encarnação é que Cristo sendo Deus veio até nós pecadores. Isso nos leva a entender que a matéria não é má conforme era ensinado pelos gnósticos. O propósito de tudo é a glória de Deus neste assunto. Deus é glorificado no simples fato de que o seu Filho Jesus Cristo assume a nossa natureza para puder satisfazer a justiça eterna de Deus.
Que lições aprendemos aqui?

1 – Aprendemos que o pecado é algo sério: Cristo vem e se faz homem porque o pecado corrompeu toda a raça humana, e apenas um homem perfeito poderia de fato satisfazer a ira de Deus, por isso, devemos odiar o pecado pois ele corrompe tudo o que deveria ser perfeito.

2. Aprendemos que a humildade é singular no cristianismo: O próprio Cristo nos ensina isso de forma evidente, ele sendo o Senhor do universo, criador de todas as coisas no cosmos decide vestir-se da carne humana. É uma grande lição para cada um de nós aqui. O nosso Deus veio habitar entre nós! Isso exige e nós humildade.

3. Aprendemos que temos esperança: A encarnação de Cristo nos ensina que há uma esperança fundamental na vida da Igreja, é o fato de que a humanidade perfeita foi apresentada a Deus por nosso redentor, isso nos dá esperança de que tudo o que hoje somos – com dor, lágrimas, perdas gritantes e morte – é nada diante da nova era inaugurada pelo Redentor! Temos a certeza de que a nossa humanidade está segura porque o nosso Deus veio e se fez homem e cumpriu as exigências da lei em nosso lugar.



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Por João Ricardo Ferreira de França - jrcalvino9@hotmail.com

*Estudo realizado na Congregação Presbiteriana da Sagrada Herança Reformada em Prazeres – Jaboatão dos Guararapes.

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