rss
email
twitter
facebook

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

As Iniqüidades de Sodoma

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. Ezequiel 16:49.

No capitulo 16 do Livro de Ezequiel, Jerusalém é comparada a uma grande Meretriz que se prostituiu com vários povos, como o Egito e a Assíria fazendo-se opróbrio, ou seja, vergonhosa e infame. O verso 3 do capitulo 16 nos apresenta a verdadeira origem de Jerusalém, seu pai era Amorreu e sua mãe era Hetéia. Todos nós sabemos que Jerusalém é do Senhor e o Senhor é aquele que reinará em Jerusalém, pois esta é a cidade do grande Rei (Sl 48:2; Sl 87). Mas os pecados de Jerusalém aqui tinham se multiplicado tanto que sua identidade mais se assemelhava com os Heteus e Amorreus - os dois maiores povos pecadores que povoavam a antiga Canaã - do que com Seu Pai celeste o Senhor Deus Santo.
Que grande tristeza ver aquela que é a cidade do Grande Rei, agora ser comparada a dois povos vis.
O próprio capítulo 16 nos retrata como o Senhor se apiedou de Jerusalém, como Ele cuidou dela quando seus pais a rejeitaram, com tanto carinho e amor o Senhor a vestiu, deu de comer a ela, deu-lhe jóias, fez dela poderosa. Mas ela se depravou se entregando as suas paixões, ao ponto do Senhor a comparar com uma meretriz da pior categoria, pois uma prostituta recebe pelo trabalho dado ao homem, mas Jerusalém fazia ao contrário: se prostituía por prazer, eu chego a dizer que ela pagava para que viessem se prostituir com ela Ez 16:34.
Jerusalém chegou a níveis tão baixos de prostituição que foi comparada a Sodoma.

No verso 49 vemos Deus revelar os pecados de Sodoma e é sobre estes pecados que eu gostaria de escrever. Eu encaro estes pecados como simples, não porque a minha tolerância ao pecado seja alargada, mas pela facilidade de cometê-los. Vejamos o que o texto nos apresenta:

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba. O primeiro pecado citado por Deus no verso é a Soberba, mas o que vem a ser a soberba?
Soberba significa huperephanos em grego ou gâ’ôn em hebraico que quer dizer “mostrar-se a si mesmo”, “aparecer mais” e é utilizado para indicar preeminência, algo arrogante, desdenhoso, orgulhoso e altivo. Exatamente o que Sodoma era: altiva. Deveria ser um lugar lindo, pois era o sul do Mar Morto e ficava em uma planície, ou seja, semelhante ao Éden.
Gn 13:10. Sodoma era uma cidade poderosa, isso explica a sua soberba, ela detinha riquezas em suas mãos, riquezas que lhe cegaram e fizeram dela desdenhosa em todo o mundo da época. É a mesma lição que Paulo nos dá em I Tm 3:6 onde ele instrui Timóteo a não ordenar jovens na fé ao ministério, pois tendo eles proeminência como ministros poderiam cair neste pecado assim como o Diabo. Vanglória é algo muito perigoso e isso pode acontecer com qualquer um de nós, devemos nos apartar deste tipo de coisa. Mas a Soberba pode ser incitada em nós por outros, uma lisonja pode ser o suficiente para desencadear este pecado em nós. Como há pessoas lisonjeiras em nosso meio, pessoas que querem ter algo de nós e assim não medem esforços em lisonjear. Pv 25:27, 26:28. O perigo da Soberba está a porta, qualquer embaraço é suficiente para cair nele. Devemos ter em mente que tudo que há em nós é dom de Deus e que mesmo que façamos tudo que havia sido mandado ainda assim seremos chamados de servos inúteis Lc 17:10, por isso devemos entender de uma vez por todas que não há motivo no coração cristão para ser soberbo, antes ter uma humildade alargada com um coração grato diante do Senhor o qual dá fôlego para todos At 17:25-27. Calvino nos ensina: “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto quem quer se ponha num nível mais elevado não passa de imbecil e impertinente. A genuína base da humildade cristã consiste em não ser presumido, porque sabemos que nada possuímos de bom em nós mesmos; e , de outro, se Deus implantou em nós, que o mesmo seja, por esta razão, totalmente debitado a conta divina graça” (João Calvino, Exposição de I Coríntios, São Paulo, Parakletos, 1996, (I Co 4:7), p 134-135).

Vejamos agora outro pecado de Sodoma:

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Fartura de Pão.
Fartura de Pão? Sim fartura de Pão!! Havia muita riqueza, como no texto citado acima em Gn 13:10 era uma planície e bem regada, logo a terra era boa para se plantar, era boa para se cuidar de animais; dessa maneira não havia falta de mantimentos em Sodoma, era uma cidade mercantil, ou seja, o comércio de Sodoma e Gomorra era bem desenvolvido.
Sodoma era abarrotada de pão, podemos pensar que a gula prevalecia sobre os cidadãos daquela cidade, acredito que as pessoas eram escravas de seus próprios estômagos. O contentamento não existia lá, certamente eram opostos ao conselho do apostolo Paulo I Tm 6:8.
Que dificuldade quando o nosso corpo manda em nós? Quando ele tem mais poder do que nós mesmos? Quantos de nós não nos entregamos em grandes refeições quando muitas vezes estamos até sem fome, mas comemos por prazer? Não digo aqui unicamente no sentido da comida, mas da satisfação carnal de nossos desejos pecaminosos. A satisfação da carne é algo muito perigoso, vamos ver o que a Palavra de Deus fala. Gl 5:21 Devemos nos apartar em satisfazer a vontade descontrolada da carne. Ter as coisas em excesso não é bom, o próprio Jesus nos ensina em seu evangelho que é difícil um rico entrar no reino dos céus Mt 19:24 e também nos apresenta a vaidade em ganhar o mundo e perder a alma Mc 8:36. De que adianta ter dinheiro, fama, conhecimento, beleza, força, poder, prazer deste mundo e ser morto espiritualmente? É bom analisarmos nossos ideais de vida “de vez em sempre” para ver se nossa real motivação está na aquisição descontrolada da materialidade ou em glorificar a Deus com os nossos bens. Novamente, gostaria de citar Calvino quando nos diz: “Certamente, o marfim, o ouro e as riquezas são boas criaturas de Deus, permitidas, e até destinadas ao uso dos homens; também em nenhum lugar se proíbe ao homem rir e fartar-se ou adquirir novas propriedades ou deleitar-se com instrumentos musicais ou beber vinho. É certo. Mas, quando alguém goza abundância de bens, se ele se deixar envolver pelas coisas que lhe causam deleite, embriagar sua alma e seu coração com os prazeres desta vida e viver buscando outros novos, muito longe estará do seu uso santo e legítimo dos dons de Deus”. (João Calvino, As Institutas, (1541), IV.14) ou então em outra passagem Calvino nos apresenta o seguinte: “Quando o Senhor nos abençoa, também nos convida a seguirmos seu exemplo e a sermos generosos para com o nosso próximo. As riquezas do Espírito não são para serem guardadas para nós mesmos, mas sempre que alguém recebe deve também passa-las a outrem. Isto deve ter uma aplicação especial aos ministros da Palavra, mas também tem uma aplicação geral a todos os homens, a cada um em sua própria esfera.” (João Calvino, Exposição de II Coríntios, São Paulo, Parakletos, 1995, (II Co 1:4) P.17).

Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: a prospera ociosidade.
Além de soberba, fartura de bens, ela era ainda ociosa, preguiçosa.
Como é interessante a preguiça, pois quanto mais você descansa mais você quer descansar! Descansar após o almoço, descansar a noite, descansar, descansar e descansar. O ócio é inimigo de muitos e pelo jeito era inimigo de Sodoma, este foi de fato um pecado pelo qual ela caiu.
Pv 13:4 nos dá uma nítida realidade do que é o preguiçoso, este deseja e não tem nada, pois não se esforça em trabalhar. O preguiçoso não tem compromisso com nada além dele mesmo e com seu descanso, podemos dar para ele qualquer atividade e ele não desenvolve, ele não que saber do trabalho. O ócio nada mais é que uma forma de egoísmo, pois o que importa apenas é o descanso do indivíduo ou a sua falta de comprometimento com outras pessoas. Oxalá, Deus não nos pegue em ociosidade, pois eu não quero ouvir a mesma resposta que teve aquele indivíduo que tinha recebido um talento do Senhor e o enterrou Mt 25:26-46. Sodoma foi julgada pela sua ociosidade e foi decretada condenada, e em menos de um dia desapareceu do mapa e não sabemos até hoje onde exatamente ela era.


Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.
Vemos que o amor ao próximo de Sodoma era zero. Conseguimos observar que não ajudavam em nada aqueles que necessitavam. A responsabilidade social de Sodoma era péssima. O que esperar de ricos, soberbos e preguiçosos? Sodoma não se importava com os outros, só consigo mesma. Para que ela iria se comprometer com pobres? Para que ajuda-los? Mas Tiago dá uma boa resposta a isso em sua carta “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” desprivilegiar os pobres e negligenciar o que Deus tem colocado na vida deles, Deus escolheu as coisas contrárias para confundir as certas. I Co 1:27. O cuidado de nossos irmãos é nossa responsabilidade também, não ajudar sabendo que deve ajudar, isso é pecado. Tg 4:17. Calvino assim dizia: “O propósito de todos os dons da graça é que sejam assim comunicados aos membros de Cristo. Portanto, quanto mais fortes somos em Cristo, tanto mais obrigados somos de apoiar os fracos.” (João Calvino, Romanos, 2ª ed., São Paulo, Parakletos, 2001, (Rm 15:1), p. 495). Lembro que há vários tipos de pobreza, existem pessoas pobres espiritualmente, que são ainda crianças que precisam de ajuda.
Pensemos e reflitamos sobre nosso estado diante de Deus se há soberba em nosso coração, ou estamos nos apegando aos excessos desta vida com seus tantos cuidados, ou então estamos enterrando aquilo que o Senhor tem nos dado por mera preguiça ou se estamos sendo irresponsáveis para com nossos irmãos.
Isso foi o modelo usado por Deus para comparar Jerusalém, para que o povo pudesse ver o nível no qual se encontravam realmente. Eles estavam degenerados diante de Deus, mas há um diferencial aqui, Jerusalém era a cidade eleita, é onde o grande Rei irá reinar, Jerusalém podia e estava imunda pelo pecado, mas o Senhor diz:

Contudo eu me lembrarei do meu pacto, que fiz contigo nos dias da tua mocidade; e estabelecerei contigo um pacto eterno.
Então te lembrarás dos teus caminhos, e ficarás envergonhada, quando receberes tuas irmãs, as mais velhas e as mais novas, e eu tas der por filhas, mas não por causa do pacto contigo.
E estabelecerei o meu pacto contigo, e saberás que eu sou o Senhor;
para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando eu te perdoar tudo quanto fizeste, diz o Senhor Deus. Ez 16:59-63

Deus não nos faz pecar, somos nós mesmos que pecamos pelo fato de negligenciarmos a Deus. Mas Deus é tão poderoso e soberano que utiliza até nossa desobediência para realizar seus planos. Ele se lembraria da aliança que tinha com Jerusalém a perdoaria e isso avultaria em mais glória para Ele mesmo, visto que seria conhecido como aquele que recebeu de volta aquela que o traiu, mas se arrependeu. Jerusalém irá adorá-Lo com muito mais fervor, pois foi perdoada de inúmeros pecados e agora têm muito mais motivo para viver uma vida que agrade a Deus. Seria fiel a Deus, pois Deus mostrou-se ser fiel a ela mesmo sendo pecadora.
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento? Rm 2:4
--------------------------------------------------------------
Por André Geske

Um comentário:

Derivaldo Andrade disse...

A soberba foi o pecado de Lúcifer, por causa de sua formosura! Ele, com lisonja e astúcia, implantou, via Adão e Eva, este mesmo pecado na humanidade: "mostra-se a si mesmo"! Deus nos criou para que Cristo, em nós e por nosso intermédio, pudesse manifestar e expressar a ELE Mesmo; Mostra-Se a Ele Mesmo, O Pai, e não a nós! Glória a Deus por este texto revelador! Amém!