rss
email
twitter
facebook

terça-feira, 28 de abril de 2009

Velhice e juventude à luz da Bíblia



O culto à estética, ao corpo escultural e, sobretudo, à eterna juventude, são alguns dos traços da pós-modernidade em que vivemos. Todo mundo quer ficar 'sarado', 'bombado', 'gostoso', 'marombado', quer exibir seus músculos e seu corpo para se tornar objeto de admiração por parte de amigos e até mesmo conseguir pretendentes.

A mídia, sobretudo por parte dos grandes editoriais de moda, impõe a magreza anoréxica como padrão de beleza a ser seguido por todas as meninas. Quanto mais magra e mais jovem a modelo for, melhor. Infelizmente, muitas delas se veem complicadas com histórico de doenças psicossomáticas e até fazem loucuras em nome da estética imposta pela mídia mundial. O culto à beleza exterior foi definitivamente inaugurado e glamourizado em todas as esferas da sociedade: da mocinha da favela até a garota que mora em condomínio de luxo, todos querem estar por dentro dos padrões exigidos pela mídia contemporânea, e claro, ganhar muito dinheiro estampando capas de revistas, fazendo comerciais e esfilando em Paris, Milão, Nova York e outros lugares. É bonito ser bonito (por fora) e está na moda. Se você é gordo, é feio, e de nada vale!

Mais forte do que o conceito de estética e beleza externa que temos é o da eterna juventude. Todo mundo quer ser jovem, mesmo que seja velho, e a vida adulta e velhice são negadas, sublimadas ou tratadas com o máximo de eufemismo. As pessoas são orientadas a negar a velhice e seus sinais. "Sou velha, mas com espírito jovem", "Não sou velho, sou apenas mais experiente" etc, etc. A velhice é sinônimo de feiura, desonra, desgosto e tudo de ruim. Para que os velhos sejam reinseridos na sociedade, é necessário que rejuvenesçam o máximo possível.

Mas, o que é velhice e o que é juventude?

A juventude é a fase compreendida entre os 15-25 anos da vida de uma pessoa, e a velhice é o período em que vive uma pessoa, sem dela jamais sair exceto com a morte, a partir dos 60 anos de idade. Uma pessoa pode ser jovem, e pensar como jovem, ou como 'velho', isto é, ter 20 anos e ter um entendimento de alguém com idade muito superior à sua. Uma pessoa pode ser velha, com seus 60, 80 anos, e ser lúcida, divertida, ter a mentalidade adequada à idade, ou então, ser um eterno garotão ou garotinha.

Por que esse conceito nos é transmitido? Por que a velhice, para ser aceita nos dias de hoje, não o pode mais ser aceita como ela é, tendo que, necessariamente, se rejuvenescer de alguma forma? Por que os cabelos brancos, as rugas, os sinais do tempo são vistos de forma tão negativas?

Eu não estou querendo dizer com isso que todos os idosos devam viver trancafiados em sua casa, reclamando da vida e tricotando em frente à TV. Mas que eles podem ser felizes aceitando a sua condição atual sem apelar para modismos que os forçam a negar ou sublimar os sinais do tempo, pois em minha opinião, a velhice é digna de ser reverenciada e apreciada como ela é. A Bíblia, que é a palavra de Deus, exalta a velhice como sendo período de experiências; os mais jovens na Bíblia reverenciavam os velhos:

"E respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; receei-me e temi de vos declarar a minha opinião" (Jó 32:6).



A velhice não é o período em que a pessoa deixa de tornar-se útil para tornar-se inútil, mas sim o início de um novo ciclo na vida de uma pessoa, em que ela dispõe de mais experiência e longevidade para ensinar às gerações posteriores. Uma pessoa idosa tem muito mais a ensinar a um moço do que o contrário:

"Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR" (Levítico 19:32).

"A coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais" (Provérbios 17:6).

"A glória do jovem é a sua força; e a beleza dos velhos são as cãs" (Provérbios 20:29).

"As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada" (Tito 2:2-4).

A velhice é/pode ser resultado da bênção de Deus sobre a vida de uma pessoa. O mandamento de honrar pai e mãe é o primeiro que contém promessas de longevidade e vida feliz para as pessoas:

"Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá" (Êxodo 20:12).

"Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra" (Efésios 6:2-3).

Note que Paulo pega o preceito do mandamento que Moisés recebeu de Deus, e o aplica ao povo de Deus em qualquer lugar e era.

A velhice só é vista como algo negativo, na Bíblia, quando a pessoa chega a essa idade sem ter aproveitado melhor a sua infância, juventude e idade adulta:

"Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento" (Eclesiastes 12:1).

E mesmo assim, o contexto do texto não se refere à velhice em si, mas a uma vida mal vivida, ou seja, sem temer a Deus. A Bíblia nos mostra que criança deve viver como criança, adolescente como adolescente, jovem como jovem, adulto como adulto e idoso como idoso:

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino" (1 Coríntios 13:11).

Apesar de a velhice ser transmitida, nos dias de hoje, como a ser negado e que deve ser rejuvenescido o máximo possível, ela é irreversível. A juventude é uma fase passageira da vida, e deve ser aproveitada como tal. Da mesma forma, a velhice, que merece os devidos cuidados e atenções. Nenhum idoso volta a ser jovem, mas todo jovem, a menos que morra antes, alcançará a velhice.

A Bíblia contém mais sentenças de cautela em relação à juventude do que em relação à velhice. Ela adverte para que ainda na infância, adolescência e juventude nos preparemos para a vida adulta. De que forma? Temendo a Deus e fazendo o que é justo, e se afastando de caminhos que podem levar à auto-destruição:

"Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade" (Eclesiastes 11:10).

'Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa sim será louvada" (Provérbios 31:30).

A Bíblia reconhece o valor da juventude, e de todas as fases da vida, mas não a louva em detrimento de qualquer outra.

E por falar em morte, qual tipo de óbito causa mais dor e pesar ao coração: o de uma pessoa com 21 anos ou de outra com 86? Qual dessas pessoas teria vivido mais, e qual viveu menos? Quem, provavelmente, tinha mais sonhos, metas e objetivos a cumprir em vida, e quem já tinha cumprido todos ou boa parte deles?

Todas as pessoas, sem exceção, questionam e lamentam muito a perda abrupta de uma vida jovem. Apesar de que a perda de uma pessoa idosa é igualmente dolorosa, é difícil alguém dizer que uma pessoa ao falecer aos 100 anos de idade 'ainda tinha muito o que realizar', mas o mesmo não pode ser dito quando um homem ou mulher morre aos 30, por exemplo.

É por estas razões que o culto à juventude eterna,deve ser visto com reservas. Todo mundo gosta de ser saudável, de ser bonito, bem visto, agradável, querido por todos à sua volta, mas pra tudo há de se ter limites, mesmo que essa busca seja bem-intencionada e legítima.

A juventude é bonita e digna de ser apreciada como ela é, mas a velhice também o é. Todo jovem se tornará velho um dia, mas nenhum velho voltará a ser jovem. Por mais que seja dolorida, esta é a realidade.

Por Marcel Victor Sousa
Publicado com autorização do autor.

Nenhum comentário: