No início de 391, a chamado de um funcionário imperial, Agostinho segue para Hipona. A cidade, com cerca de 30 mil habitantes, funcionava com grande centro comercial: no seu porto era embarcado o trigo enviado a Roma. Encostada nas montanhas cobertas de pinheiros, a segunda metrópole africana em importância gozava de posição privilegiada, sendo até mesmo bem protegida por fortificações.
Certo dia Agostinho assistia à missa quando o velho bispo da cidade, Valério, começou a explicar ao povo as necessidades da diocese, acentuando a urgência de ter um sacerdote que o ajudasse. Da multidão elevou-se, cada vez mais distinto, o pedido: "Agostinho padre". Agostinho procurou resistir, defendendo a tranqüilidade de sua vida monástica, mas a insistência da população triunfou: com os olhos cheios de lágrimas, ajoelha-se frente a Valério e é ordenado sacerdote. Tem 37 anos e sabe que pesadas tarefas o esperam; terá de lidar com necessidades objetivas do povo, ao lado de suas preocupações espirituais. Seu temperamento contemplativo, porém, permanecerá sempre fiel aos ideais de Cassiciaco e Tagaste. Funda, com Alípio, um segundo mosteiro. Seus discípulos serão, mais tarde, bispos em várias cidades da África – o catolicismo deste continente será marcadamente agostiniano.
Em 396, atendendo ao pedido de Valério, Agostinho é sagrado bispo auxiliar. Conserva o hábito de penitente, recusando-se a usar anel e mitra. Desde os primeiros dias de sua sagração, teve de se defrontar com "leões vorazes", os heréticos que estavam por toda parte. Ele mesmo, em seu livro sobre heresias, chegaria a contar 88. A principal delas era a seita dos donatistas, que, em fins de 312, se havia separado da Igreja, alegando que os católicos mostraram-se demasiado servis ao poder imperial por ocasião das perseguições de Diocleciano. Na época, os donatistas lutavam violentamente, e não só com discussões. O próprio Agostinho salvara-se por milagre de uma emboscada. Um outro bispo fora ferido de morte diante altar.
Ainda quando simples padre, Agostinho havia percebido a gravidade do cisma que se desencadeava sobretudo nas regiões berberes menos romanizadas, entre os pobres do campo oprimidos pelos proprietários rurais. Na agitação donatista havia um amplo aspecto de revolta social. Camponeses, escravos e desertores incendiavam e saqueavam os grandes domínios.
Sessenta cristãos já haviam sido trucidados. Era tempo, como escrevia Possídio, de que a Igreja "longamente humilhada reerguesse a cabeça". Agostinho iniciou a luta convidando os chefes donatistas para discussões públicas. Escreve contra eles mais de uma dúzia de livros e opúsculos, nos quais procura demonstrar que a santidade da Igreja universal não pode ser negada ou destruída pelas culpas de alguns de seus membros.
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