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segunda-feira, 9 de junho de 2008

ENTENDENDO O CREDO APOSTÓLICO - Parte 2

Estamos mais uma vez aqui para estudarmos o credo apostólico. No nosso último encontro abordamos o primeiro artigo do nosso credo apostólico, que digo com toda a paixão do mundo que ele é o meu credo preferido, não que os outros não tenham a sua importância porque na verdade eles têm; mas porque este credo representa – com muita proximidade – o que os cristãos primitivos acreditavam.

A nossa aula de hoje abordará o segundo artigo do nosso credo que é “Creio[...] em Jesus Cristo se único Filho, o nosso Senhor...” Sempre que leio esta expressão singular do nosso credo fico pensando como a Igreja o negligencia com tanta facilidade que fico literalmente irritado; diletos irmãos estamos aqui nesta noite para entender o que o credo tem a nos ensinar neste segundo artigo, espero que Deus nos ajude a fazê-lo.

A PRIMAZIA DE CRISTO NO CREDO.

Penso que este seja o tema mais adequado para tratarmos deste artigo do nosso credo. Quero mais uma vez chamar a sua atenção para o fato de que o credo não confessa apenas a identidade de crença da Igreja na Pessoa do Pai, ou seja, não é apenas crer em Deus Pai, mas também temos aqui a fé sendo destinada ao seu autor e consumador – A Segunda Pessoa da Trindade – Deus, o Filho.
Por que digo isso? Bem, deixe-me lhe explicar. A fé genuína expressa no credo não pode ser dirigida a um ídolo, jamais o ídolo deve receber a elevação dos nossos corações (Sursum Corda litúrgico), seríamos reputados como idólatras se assim fizéssemos; logo de imediato aprendemos neste segundo artigo que o objeto de nossa fé não pode ser um ídolo, mas também, não pode ser uma criatura, pois, seria usurpar a glória de Deus!
Os primeiros cristãos diziam “Creio em Jesus Cristo nosso Senhor” isto não lhe deixa chocado!? Pois, a Igreja primitiva rejeitava a noção ariana
[1], o povo do pacto seguindo a palavra de Deus, e, entendendo que Deus era o único objeto de sua fé não hesitou em dizer que exercia fé também na Pessoa de Jesus Cristo. A conseqüência lógica disso era que Jesus é Deus! Ter confiança em uma criatura sempre foi visto como uma blasfêmia contra Deus, logo, a Igreja ao invocar, orar e confiar em Jesus Cristo estava de fato chamando-o de seu Deus.
Então, quando recitamos no credo que “Creio em Jesus Cristo seu único filho nosso Senhor” estamos dizendo ao mundo que aquele Cristo da cruz que padeceu ali, não foi um mero homem, mortal limitado, mas foi o próprio Deus que estava na cruz. Essa era a crença comum da Igreja. Espero que isso tenha ficado em vossas mentes.
Pois bem, agora desejo chamar a sua atenção para uma acusação que geralmente é feita contra a recitação do credo, a acusação é a seguinte: “Não vou recitar o credo, porque ele só fala de dogmas que não envolvem a soteriologia (doutrina da salvação) não vejo, dizem eles, no credo nada que trate da salvação”.
Bem, tal acusação é infundada e revela que quem a formula não leu o credo quando diz “[creio...] na remissão dos pecados, ressurreição do corpo e na vida eterna” pois aqui está de fato a doutrina da redenção de forma clara; em um momento propício trataremos disso.
Mas também tal acusação revela o desconhecimento claro da teologia que o credo expõe, é público e notório de todos aqui que o credo está dividido em três partes principais: 1. De Deus, Pai e nossa Criação; 2. De Deus, o Filho e nossa redenção; 3. De Deus, o Espírito Santo e nossa santificação. Estas três verdades estão presentes no credo. Então, a acusação é infundada! Deixe-me lhe mostrar isso de maneira mais detalhada.
Observem o que o artigo que estamos analisando nos diz: “[creio...] Jesus Cristo...”. O nome Jesus não apenas indica a identidade existencial de Cristo, mas indica também a sua função; Lucas (1.21) nos informa que o filho que nasceria de Maria deveria chamar-se Jesus note o que eu disse: “deveria chamar-se”; não foi dado o direito dos pais do menino escolher o nome, mas o nome foi dado por Deus; isto nos revela algumas verdades:
1. Que o nome dado ao filho que estava sendo gerado aponta para um ato da graça de Deus.
2. Que tal nome traz Deus até nós de forma graciosa, amorosa e singular! Não é qualquer nome, é o nome que Deus, o Pai escolheu para dar ao seu Filho.
Por que o menino deveria chamar-se de Jesus? Deus não deixa ao encargo dos homens explicarem a decisão dEle, mas o próprio soberano do universo nos diz que ele se chamará assim porque “ele salvará o seu povo dos pecados deles” a doutrina da expiação limitada não encontra sua justificativa em outro lugar a não ser no significado do nome do Cristo da Cruz. Ele não salva o mundo – ele salva o povo que lhe pertence – os seus eleitos – e assim o seu nome sempre será lembrado.
Esta verdade é confirmada por várias passagens das Escrituras. Entre as quais encontramos Atos 4.12, ali nós encontramos o fato de que não existe nenhum outro nome dado entre os homens pelo qual devemos ser salvos. Este é o ponto. Ele é salvador, pois, o seu nome significa – Deus é nossa salvação! Ou seja, o próprio Deus em Jesus nos salva de nossos pecados e misérias.
Mas, o credo não termina expondo a significação do nome Jesus; ele também o designa de “Cristo” – “Eu creio em Jesus Cristo[...]”. Quero lembrá-los que pessoas há dizendo e supondo que o nome “Cristo” refere-se ao sobrenome de Jesus –isso é um ledo engano! O nome “Cristo” descreve a função mediatória de Jesus; ou seja, o nome “Cristo” está vinculado a sua função de mediador.
O termo “Cristo” é profundamente escatológico, pois, significa “Messias ou Ungido” apontando para o fato de que Jesus é o Messias de Deus prometido para a redenção do povo do pacto.
A implicação disso é que no momento do culto ao recitarmos o credo estamos de fato dizendo que Cristo é o nosso redentor! Ele é o Messias esperado (Jo.4.25,26). A própria consciência que Jesus tinha de que era o Messias é profundamente evidente no Novo Testamento Lc. 4.17-21 é uma citação de Isaías 61.1,2; e, em Mt. 12.17-21 é uma citação de Isaías 42.1-4.
Então, quando lemos no credo tal verdade estamos diante da realidade de que um evento escatológico que havia se manifestado nos tempos neotestamentários, ou seja, o redentor prometido veio! E, assim, podemos dizer com todas as letras “Eu creio em Jesus, o Cristo...” sendo que desta forma nós percebemos que o credo é supremamente soteriológico (apresenta-nos a doutrina da salvação ao homem) e, por isso, devemos recitá-lo dominicalmente em nossas reuniões litúrgicas porque mostra ao mundo que o nosso Deus em Cristo nos tem trazido a redenção para o nosso corpo e a nossa alma!
Diletos irmãos, o credo continua nos dizendo que como Igreja Católica ( no sentido da Igreja que está em todos os lugares ) nós não apenas cremos em “Jesus Cristo”, mas indica também que cremos que ele é o único Filho de Deus. No Domingo – Dia do Senhor – nós recitamos “[Creio em...] Jesus Cristo seu único Filho...” Alguns aqui nesta noite poderão dizer: “Mas os pais da Igreja sempre chamaram seus paroquianos de filhos de Deus, mas no credo diz que apenas Jesus é o “único Filho de Deus”, como entender isso?” Esta é uma boa pergunta!
Queridos estamos diante de uma grande doutrina cristológica. Vemos aqui uma concepção profunda da cristologia primitiva da Igreja! Percebemos que Cristo não é o Filho de Deus nos mesmos termos que somos filhos, isso requer de nós alguma consideração.
Somos filhos de Deus por meio de uma doutrina chamada adoção
[2], fomos adotados por Deus em sua família por meio de Cristo, este é o ensino claro das passagens bíblicas em Efésios 1.5; Gálatas.4.4,5; Romanos.8.17; todavia, o credo diz que Cristo é o “único Filho de Deus”, o termo grego que o credo utiliza é o “monogenês” este termo é usado para descrever que Cristo é “unigênito”, ou seja, ele possui a mesma natureza do Pai! Quando o credo diz que “Creio em Jesus Cristo seu único Filho” está reafirmando a divindade de Cristo! Ele tem a mesma natureza do Pai. Ele é Deus e por isso deve ser adorado e objeto de fé da Igreja. Ele é o cabeça da Igreja como diz Paulo, isso porque ele é o “unigênito do Pai”(Jo.1.14-18). Apenas Ele tem essa natureza partilhada com Pai, temos aqui a plena certeza de que a Igreja primitiva ensinava isso de forma evidente – que Cristo é Deus.
Quero ressaltar que o termo grego “monogenês” significa ‘único’ , ‘sem igual’, ‘único do seu tipo’ ele expressa de fato a manifestação da divindade em Jesus. Por que isso? A resposta está em João 1.18 – para revelar o Pai – no grego nós temos – exêgésato – “que significa levar para fora, explicar, relatar os fatos” era usado para dar a explicação acurada dos segredos divinos. Ou seja, Cristo é a perfeita exegese de Deus. Olhe bem! Veja o que dizemos quando falamos “Creio em Jesus Cristo seu único Filho...” estamos afirmando que toda a verdade que temos sobre Deus provém da maior revelação dEle mesmo - o seu Filho Jesus Cristo! Isso me deixa pensativo e reflexivo, pois, Deus quis se mostrar a nós pecadores na Pessoa bendita de seu Filho.
Ainda temos algo a considerar no credo. O credo ainda nos afirma algo bastante negligenciado em nossos dias. Ele diz [Creio em...] Jesus Cristo seu único Filho, nosso Senhor...”
Cristo é de fato Senhor da Igreja? E por que a Igreja não obedece a sua palavra? Por que negligencia este principio basilar do credo? A Igreja, ao recitar o credo, reconhece que não é independente, que não é livre, mas que é serva! Ela serve ao Senhor Jesus Cristo, então, quando não obedece a Cristo ela está se condenando quando recita o credo!
Temos uma Igreja em nossos dias que só fala de Cristo como salvador, mas nós como Igreja de Cristo, somos salvos também pelo senhorio de Cristo. Precisamos resgatar essa doutrina dentro de nossas Igrejas. Essa é uma tarefa de cada um de vocês aqui nesta noite, repensar e reafirmar uma redenção pelo Senhorio de Cristo!
Veja como nós tratamos o Domingo! Desprazamos dia de Cristo, fazemos os nossos interesses neste dia que pertence somente a ele. E o que dizer do culto prestado a Cristo? Somos negligentes para com o culto. E os sacramentos? Como consideramos eles? Rejeitamos, não zelamos por eles. E a evangelização? Temos cumprido o ide de Cristo? Não! E ainda temos a ousadia de dizer no culto público “creio em Jesus Cristo seu único filho,
nosso Senhor...”
Queridos precisamos deixar de sermos hipócritas! Precisamos resgatar a doutrina da soberania de Cristo como nosso Senhor, pois, quando dizemos que Ele é o nosso Senhor estamos de fato reconhecendo sua Soberania sobre cada um de nós.
Vocês já leram na Bíblia alguma passagem que fale de Cristo como Salvador sem associá-lo a seu Senhorio? Não. Eu nunca li tal coisa! Veja o livro de Atos 2.21 “...todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo...”; antes de ser meu salvador Cristo é meu senhor esta era a crença da Igreja primeva. Ainda veja Atos 2.36 “...Deus o fez Senhor e Cristo...”, e ainda, temos atos 16.31 – “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa”. veja também as cartas paulinas como elas são introduzidas: “Paulo servo de Cristo” no grego temos a expressão “doûlos” que significa “escravo” de Cristo. Mas, ele também relaciona o senhorio com a redenção manifestada por Cristo. Em Romanos 10.9 “...confessares Jesus como Senhor...serás salvo”, notaram que primeiro existe uma resignação de reconhecer Jesus como “kyrios” – Senhor – antes de vê-lo como “Sôter” – Salvador!? O Novo Testamento não nos autoriza a fazermos tal dicotomia, e quem somos nós para fazê-lo? Uma salvação que não implica em obediência a Cristo, esta deve ser de fato questionada!
Cristo é o Senhor da Igreja. Mas isso implica em mais que obediência devida a Cristo, implica também que Ele preserva e defende a Igreja.
Onde está a segurança da Igreja? Está em Cristo! Cristo é o Senhor da Igreja. Ele não é apenas servido pela Igreja, mas ele defende a Igreja, luta por ela, intercede pela Igreja.
Então, quando recitamos que cremos que Cristo é “nosso Senhor” estamos dizendo que não estamos abandonados neste mundo! Que temos um Deus nos céus que é por nós! E ninguém poderá vencer a Igreja de Cristo. Ele é Senhor, ou seja, nós temos a certeza da providência de Deus sobre a nossa vida, pois, o nosso Senhor habita nos céus cuidando e zelando por cada membro de sua Igreja.
A doutrina do Senhorio de Cristo nos traz paz e conforto ao coração. Um senhor providencia tudo o que é necessário para os seus súditos. E de igual modo o faz Cristo, ele nos deu pastores para nos pastorearem – isso é o reflexo do senhorio de Cristo sobre a Igreja – Ef.4.11; e, também, concede o seu Espírito para nos guiar a toda verdade – Jo.16.13.
A providência nos mostra que Cristo continua sendo Senhor. Então, quando nos reunimos no Domingo a noite estamos dizendo: “Creio...que Cristo é meu Senhor, e por isso, devo obedecê-lo, mas que ele me ama, cuida de mim e derrota todos os inimigos da Igreja”.
No credo estamos dizendo ao mundo que temos um defensor. Um guerreiro real que está disposto a defender a Igreja contra os ataques do mundo e de Satanás. Aqui está a fé da Igreja diante de cada um nós. Bem o que fazer depois de compreendermos tudo isso? Que aplicações podemos fazer deste artigo do credo? Deixe-me dizer-lhes:

1. Devemos abandonar toda e qualquer concepção que não faça de Cristo o objeto de nossa fé – pois, implicitamente se estar negando a divindade de Jesus Cristo. Ele deve ser visto como objeto de nossa Fé isso porque Ele é de Fato Deus “Eu Creio em Jesus Cristo...”
2. Rejeite todo ensino que não apresenta Jesus como redentor de um povo específico – os eleitos – ou seja, rejeite a expiação universal ou universalismo, pois tal ensino contradiz o significado do nome de nosso redentor.
3. Viva na perspectiva escatológica apresentada no nome “Cristo” , pois, ele indica de forma clara que o Messias já veio e realizou uma expiação definitiva e eficaz para os eleitos de Deus, então, viva nesta perspectiva de que de fato você tem um redentor! De que você foi perdoado eficazmente em Cristo e por Cristo!
4. Viva sempre a perceber que a obra da redenção só foi possível por que Jesus é o “Único Filho de Deus” no sentido pleno do termo – Ele é Deus e por isso pôde de fato realizar uma tão poderosa redenção, pois, ele tem a mesma natureza do pai – se você desprezar isso estará perdido de forma clara.
5. E por último assuma um compromisso de aceitar a Cristo como seu Senhor. Entendendo que você deve obedecer-lhe nos mínimos detalhes, e compreender que o Senhorio de Cristo revela sua soberania e o seu cuidado para com a sua vida – jamais esqueça disso!


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[1] Ário foi um presbítero da Igreja que negava a divindade de Cristo dizendo que Jesus Cristo era a primeira criatura de Deus , isto no IV-V século d.C – este ensino foi absorvido pela seita Testemunhas de Jeová.
[2] Veja-se a Confissão de Fé de Westminster capítulo 12


Por: João Ricardo Ferreira de França

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