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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Teologia dos Pactos – Uma Introdução à Teologia Bíblica Reformada.
Prof. João Ricardo Ferreira de França

Introdução:
O assunto que vamos abordar nesta noite é singularmente desconhecido de muitas igrejas herdeiras da reforma. Vivemos em um país em que a maioria das Igrejas Evangélicas vivem sob a influência daquilo que chamamos de Dispensacionalismo.
Em muitas igrejas reformadas (presbiterianas) há um total desconhecimento da Teologia pactual ou federativa – como é conhecida – isto deve-se a dois fatores: (1) a divulgação maciça do Dispensacionalismo na mídia televisiva e radiofônica; (2) a falta de doutrinação de nossas Igrejas em nossos dias.
O estudo deste assunto é importante porque nós precisamos resgatar a identidade reformada / presbiteriana em nossos dias; a doutrina do pacto é pertinente porque lida e abordar questões como: a salvação, relação familiar, trabalho, emprego, ecologia etc... Precismos pensar sobre este tema para que a nossa vida seja de fato uma vida que glorifica a Deus.

I – DEFININDO O TERMO PACTO OU ALIANÇA.
Antes de entrarmos na discussão do problema precisamos definir o que seja pacto ou uma aliança; alguém já disse que se as pessoas “definissem os termos teológicos antes de estabelecer um debate ficaria tudo mais claro”.
O que é uma aliança? Esta é a pergunta que precisamos responder antes de entramos na discussão sobre esta temática. “já desde o alvorecer da Reforma e nos períodos seguintes, a formulação da teologia do pacto se tem visto influênciada profundamente pela ideia de que um pacto é convênio entre duas partes”(MURRAY,1999, p.7). Esta é uma boa definição,todavia, não é satisfatória; pois, “pedir definição de aliança é como pedir definição de mãe. Pode-se definir mãe como a pessoa que nos trouxe ao mundo. Esta definição pode ser formalmente correta. Mas quem se satisfará com ela?”(ROBERTSON,1998, p.7).
A colocação do O.Palmer Robertson pode até desencorajar a uma procura por esta definição. Mas isto é natural, uma vez que os eruditos estão divididos quanto ao significado do termo ‘pacto’ ou ‘aliança’.
A definição bilateral de pacto implica que o “contrato possui recompensa aos cumpridores e ao mesmo tempo punição aos infratores da lei do contrato”(BEZERRIL,1998, p.4).
Entretanto, a definição que se enquadra adquadamente na revelação bíblica é a concepção unilateral de aliança que define aliança como sendo “um pacto de sangue soberanamente administrado”(ROBERTSON,1998, p.8).
II – O USO DO TERMO PACTO NAS ESCRITURAS.
A necessidade do pacto na vida da Igreja tem sido expressa pela Confissão de Fé de Westminster sob os seguintes termos:

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como o seu Criador, nunca poderiam fruir nada dEle, como bem-aventurança senão por alguma voluntária condescêndencia da parte de Deus, a qual foi ele servido expressar por meio de um pacto. (WESTMINSTER, Cap. 7, seção.1).

Há uma distância entre nós de Deus que só pode ser encurtada pela volutária vontade de Deus em vir se comunicar com o homem, isto ele o faz por meio do pacto; a ação nasce unica e exclusivamente nele.
2.1 – No Antigo Testamento:
Precisamos analisar o termo no Antigo Testamento. A Palavra hebraica que é usada é Berith que significa aliança vem de uma raíz que significa “cortar uma aliança”[1], este significado está presente em Gênesis 15.7-19. Palmer Robertson comenta esta passagem nos seguintes termos:
Não somente a terminologia, mas o ritual comumente associado com o estabelecimento da aliança reflete, de maneira dramática, um processo de ‘cortar’. Na medida que se faz uma aliança, animais são cortados em cerimônia ritual. O estabelecimento, exemplo mais claro deste procedimento nas Escrituras acha-se em Gênesis 15, no tempo em que foi feita a aliança abraâmica. Primeiro, Abrão divide uma série de animais e põe os pedaços, uns defronte para os outros. Então, Deus passa entre os pedaços divididos dos animais. O resultado é ‘fazer’ ou ‘cortar uma aliança’.(ROBERTSON,1998,p.12-13).
Através deste rito Deus estava dizendo ao patriarca que quem há de sustentar toda a aliança seria o Criador de todas as coisas. Então, Pacto é Unilateral e não bilateral. Nesta passagem Deus está assumido toda a obrigação de cumprimento da aliança que estabelecera com Abrão.
2.2 – No Novo Testamento:
O vocábulo “pacto” ou “aliança” no período Neotestamentário tem a mesma significação do Antigo Testamento. O termo grego que temos é Diatheke o termo sempre aparece no Novo Testamento para indicar a aliança de Deus; todavia, o termo foi traduzido uma única vez por testamento em Hebreus 9.15-20; isto certamente foi sob influência da vulgata latina de Jerônimo que traduz o termo por Testamentum .
Esta tradução deve ser rejeitada, porque “na grande maioria das passagens a ideia de aliança está proeminentemente em primeiro plano”(BERKHOF,2001,p.244). Ao traduzir o termo por testamento ignora-se o fato de que a morte de Cristo foi substitutiva, e não uma disposição de última vontade, em lugar daquele que fora infrator da aliança, pois, “a substituição é essencial para a compreensão da morte de Cristo”(ROBERTSON,1998, p.15).
III – A UNIDADE TEMÁTICA DAS ALIANÇAS.
Faz-se necessário compreender que existe um tema que perpassa toda a Escritura, isso é conhecido em Teologia Bíblica como Mitte( do alemão) tema unificador das Escrituras.
Há várias propostas para um tema unificador das Escrituras. Será que existe um tema que integre toda a revelação veterotestamentária? Há diversas propostas. O problema pode ser colocado da seguinte forma: “existe na fé veterotestamentária um núcleo central, do qual tudo parte e em torno ao qual tudo se move?” (FÖHRER,1982, p.137).
Nós de tradição reformada compreendemos que o tema que integra toda a mensagem cristã é o pacto de Deus com o homem. Mas, a doutrina da aliança também tem uma unidade temática. Existe um tema que permeia toda a doutrina da aliança. No registro bíblico nós encontramos uma frase temática que permeia a doutrina da aliança que tem sido a seguinte: “Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” – este tem sido conhecido como sendo o “princípio Emmanuel”, pois, “o coração da aliança é a declaração ‘Deus está conosco’(ROBERTSON,1998, p.43).
Este tema unifica os pactos desde Adão até Cristo. Deus se faz conhecido nesta relação pactual como o Deus das gerações. O Senhor de todas as coisas tem sido revelado nas Escrituras como o “nosso Deus” que nos transforma em “sua possessão” ou em seu “peculiar”. Aqui entendemos porque Deus lida com as famílias!
Este era o tema que unificava as alianças com Abraão, Moisés e Davi. A primeira vez que esta expressão ocorrem é em Gênesis 17.7. Aqui Deus afirma ser o “teu Deus e da tua descendência”. Este é o autêntico relacionamento que se deve ter quando se fala de doutrina da aliança. Deus o Susserano e o homem o vassalo. Deus é o nosso Deus e de nossos filhos. Esta tônica repete-se em Hebreus 11.11,16b.
Na aliança sob Moisés este tema volta em Levíticos 11.45; este dizer divino como lema do pacto se apresnta em Deteuronômio 29.13. No Novo Testamento este tema unificador da aliança retorna com grande peso na encarnação do verbo de Deus conforme lemos em João 1.14. O verbo habitar aqui no grego evskh,nwsen – eskênôsen – significa armar a tenda do tabernáculo – a figura do tabernáculo que indicav a a presença dinâmica de Deus no AT – apontando para a realidade de que Deus estava presente entre os homens.
Deus em Cristo entrou em aliança com os pecadores e precisamos de fato mobilizar as nossas Igrejas para que cada pessoa saiba o que isso significa para nós. Este assunto tem implicações:
1. A certeza que apenas Deus vem ao encontro do homem por meio de um pacto.
2. Este pacto envolve vida e morte – vida para aqueles que obedecem as estipulações pactuais e morte aos rebeldes.
3. Que o Pacto indica a incapacidade do homem de se relacionar com o Deus criador.
4. A necessidade de um mediador pactual é pressuposta pela doutrina da Aliança.



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[1] É importante observar a evolução língustica que termo adquiriu conforme abordada por ROBERTSON,O. Palmer. O Cristo dos Pactos. São Paulo: LPC,1998, p.11-12 – veja-se as notas de rodapé.

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