A autoridade monárquica do papa, hoje muito patente sobre a Igreja Católica Romana, é fruto de um longo processo. De um bispo igual aos outros, o de Roma passa a ser o primeiro entre os demais e finalmente cabeça incontestável da Igreja. Sem dúvidas que uma série de elementos contribuiram para este desenvolvimento. Para citar alguns dos mais óbvios temos: Uma linha contínua de bispos ortodoxos, com poucas excessões, nos séculos de formação e expansão e poder. Vários papas de grande envergadura, dos quais devemos citar: Inocêncio (402-417); Celestino (422-432); Leão I (440-461); e Gregório I (590-604). Também ajudou a situação caótica da administração do Império no oeste, dando oportunidade aos papas não só escaparem da tutela do imperador, como também serem elevados ao nível de representantes deste. Ajudou também o uso, devido ou não, dos escritos de Irineu e Cipriano que destacavam a primazia de Roma. Mais tarde seriam acrescentados os documentos falso, tais como a "Doação de Constantino"e os "Decretos de Isidoro". Ao mesmo tempo construiram sobre o conceito agostiniano da Cidade de Deus, sendo esta dirigida da nova Jerusalém, Roma. E por último, a conversão do povos quer posteriormente formariam a Inglaterra, França, Alemanha e o norte da Italia foi estritamente ligada ao apostolado da Igreja de Roma.
1.Até Constantino
Os antigos autores católicos tenham insistido que a Igreja de Roma foi fundada por Pedro e que tenha tido uma linha de papas, vigários de Cristo, desde então. Oscar Cullmann, teólogo protestante, examina detalhadamente a questão de Pedro ter estado em Roma. Conclui que estava lá e lá foi martirizado. Nega entretanto que tenha fundado a Igreja ou passado seus direitos aos bispos subsequentes.. Também temos que Inácio, em princípios do II século, escreveu aos cristãos em Roma. Endereçou a carta à Igreja e não a seu bispo. Todas as outras cartas de Inácio são endereçadas aos bispos das Igrejas. A diferença é significativa.
A lista dos primeiros bispos consta destes nomes: Lino, Cleto ou Anacleto, Clemente (91-100), Evaristo, Alexandre(109-119), Sixto I (119-127), Telesforo (127-138), Higino (139-142), Pio I (142-157), Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). Estas datas são aproximadas e temos poucas informações do seu pontificado.
Vitor (193--202). Parece ser o primeiro a procurar estabelecer a autoridade papal além das fronteira de sua igreja.
Cipriano. Bispo em Cartago durante o pontificado de Cornêlio e Estevão, contribuiu bastante para fortalecer a autoridade do bispo de Roma. Defendeu as reivindicações petrinas (Mt:16:18) sem entretanto colocar o papa sobre os demais bispos.
Estevão (253-257). Procurou forçar as demais igrejas a seguir o costume romano quanto ao cálculo da data da páscoa.
Um outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste período foi a crescente prática das igrejas rurais ou de pequenas cidades serem relacionadas a alguma igreja em cidade grande ou incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no II século como resultado do sistema missionário das igrejas mães.
2.De Constantino a Gregório Magno
A oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. O declínio do Império e sua queda no oeste acelerou ainda mais este processo, particularmente em relação as igrejas ocidentais. Constantino se considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas formais e até doutrinárias. Sem sua permissão não se pode reunir um sínodo. sua atuação preparou o caminho para o bispo de Roma se tornar "a episcoporum", como o foi a remoção do governo à Constantinopla.
Roma surge como árbitro entre as igrejas. No conflito entre os arianos e Atanásio, este contribuiu para fortalecer Júlio por ter recorrido ao bispo de Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e outras questões entre as igrejas do leste e da África foram exploradas pelos papas para fortalecer suas próprias posições. Logo que Damasso foi eleito papa (366), Valentinian e Gratian promulgaram um edito que versava que o bispo de Roma deve ouvir e resolver disputas entre outros bispos. Assim questões religiosas seriam resolvidas pelo "sumo-pontífice"de religião e não pelos magistrados civis.
Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve ser consagrado sem o conhecimento e consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto falso, é muito antigo e exerceu grande influência.
Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo submissão universal a sua autoridade. Nomeou Rufo bispo de Tessalônica. É a primeira vez que um bispo de Roma nomeia bispo para Iliricum. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se conformarem aos costumes de Roma. Afirmava que todas as questões eclesiásticas no mundo devem ser, por direito divino, remetidas à sé apostólica para lá serem decididas. Esta nova reivindicação foi imediatamente rejeitada pelas igrejas da África. Mesmo assim , é a Inocêncio I que a eventual grandeza da Sé de Roma é devida.
Celestino (422-432). durante o exercício do seu papado foi resolvido a mui agitada questão do direito de apelar a Roma decisões nas províncias. Celestino manipulou as questões de uma maneira que sempre saia ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um concílio geral (questão da transferência de bispos de uma sé a outra).
Leão I (440)-461). Homem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Valentino III um edito em que este reconhece a primazia da sé de Pedro e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta sé. No Concilio de Calcedônia (451) os delegados de Leão condenaram um bispo em nome dele, como se fosse por autoridade dele. A este mesmo concílio Leão reclamou bastante porque em um dos seus cânone Constantinopla é elevada ao nível de Roma em direitos e privilégios. A estatura de Leão foi bastante fortificada quando conseguiu interceder com o inimigo e assim salvar Roma em 455 de ser destruída pelos vândalos.
Gregório I (589-604). Possivelmente o maior papa deste período. filho de um senador, adotou o costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de idade. Reclamou que Máximo foi eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e suspendeu todos os bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro. Repreendeu o patriarca de Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico. Eventualmente Máximo foi humilhado pela pressão de Gregório e teve que submeter-se a Gregório.
Recomendamos a leitura de: Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. p.127-136
Um comentário:
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