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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Terrível Convicção - Gloriosa Conversão – C.H. Spurgeon

No verão de 1849 Charles entrou em mais outra escola, esta na cidade de Newmarket. Embora mal tivesse completado a idade de quinze anos, ele não veio apenas como aluno, mas também como um professor de tempo parcial - posição conhecida como de "Monitor".

Não muito longe dele situava-se a grande e transformadora experiência, a sua conversão. Esse evento por muito tempo tem sido do conhecimento comum entre os cristãos evangélicos, muitas vezes narrado do púlpito e relatado em livros e revistas.

Mas esse evento foi precedido por uma longa e amarga convicção de pecado e um anseio pela salvação, fato geralmente não mencionado. Todavia, Spurgeon considerava essa experiência tão importante que, não somente falava dela com freqüência em sua pregação, mas também em sua Autobiografia dedicou um capítulo inteiro a ela.
Além disso, este mestre da descrição parece quase perdido, em sua tentativa de estabelecer palavras suficientemente severas para retratar a agonia que ele sofreu. "Eu preferiria", diz ele, "passar por sete anos da mais debilitante enfermidade, a ter que passar de novo pela terrível descoberta do mal do pecado".
Essa amarga experiência começou quando ele ainda era muito jovem. Como já vimos, ele tinha só três anos de idade quando se distraía com as figuras de O Peregrino, de Bunyan, com o fardo nas costas, e pouco tempo depois ele soube do seu significado - que se tratava de um fardo de pecado. Quando aprendeu a ler, o seu material de leitura era, em grande parte, a Bíblia e as obras de alguns dos grandes escritores puritanos. Ele ouvia com aguda atenção as discussões teológicas, e na época em que ele tinha mais ou menos dez anos de idade, havia adquirido considerável conhecimento da doutrina cristã. Ele era um menino honesto e íntegro, mas tinha visto algo do que o pecado é aos olhos de Deus. Ele sabia que, como o Peregrino, estava levando em seus lombos o medonho fardo, e que ele próprio não podia removê-lo.

Durante uma das suas visitas de verão a seu avô, a passagem das Escrituras um dia falava do "poço do abismo" (VA: "poço sem fundo" (Apocalipse 9:1,2), e Charles tinha inter-rompido, perguntando como poderia existir um lugar "sem fundo". O avô respondeu de algum modo, mas a sua resposta não satisfez o menino, e desse ponto em diante fixou-se em sua mente a certeza de que era possível a uma pessoa não justificada caminhar, eternamente, cada vez mais longe de Deus e de tudo quanto era reto e bom.

Ademais, embora ele soubesse tão bem como qualquer outro que "Cristo morreu por nossos pecados", não via nenhuma aplicação dessa verdade a si próprio. Tentava orar, mas, diz ele: "A única oração completa era: "O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" O esmagador esplendor da majestade de Deus, a grandeza do Seu poder, a severidade da Sua justiça, o caráter imaculado da Sua santidade, e toda a sua terrível magnificência - essas coisas deixavam minha alma acabrunhada, e eu caía em completa prostração de espírito".

Apesar dos seus muitos esforços, sua convicção de pecado aumentou. Ele conta que, através dos vários anos da sua meninice, ele estava constantemente cônscio das exigências universais da lei de Deus. "Aonde quer que eu fosse", diz ele, "a lei fazia uma exigência aos meus pensamentos, às minhas palavras, ao meu levantar e deitar". E em meio às suas lutas para sobrepujar essa terrível percepção, ele se defrontou com a verdade afim, qual seja, a espiritualidade da lei. Embora ele nunca tenha cometido os pecados da carne, sentia-se culpado deles no espírito, e clamava: "Que esperança tinha eu de evitar uma lei como esta, a qual me cercava por todos os lados com uma atmosfera da qual eu não tinha a mínima possibilidade de escapar!"

Freqüentemente, depois de despertar de uma noite conturbada, ele recorria a livros tais como, Admonition to Unconverted Sinners (Admoestação aos Pecadores Não Convertidos), de Alleine, e Call to the Unconvertedl (Um Chamado aos Incrédulos), de Baxter. Mas as obras que tinham sido tão úteis para outros, só reforçaram o que ele já sabia - que estava perdido e precisava ser salvo. Esses livros o deixaram com um amargo anseio por saber como se poderia receber essa grande salvação, e ele continuava buscando e sofrendo.

No meio dessas circunstâncias, embora raramente ouvisse uma blasfêmia e muito menos a proferisse, todas as maneiras de maldizer Deus e o homem começaram a entrar em sua mente. Isso foi acompanhado por fortes tentações para negar a própria existência de Deus e, por sua vez, estas o levaram a um esforço para dizer a si mesmo que ele se tornara um livre pensador e, virtualmente, um ateu. Ele até insistia em duvidar da sua própria existência, mas todas essas tentativas foram inúteis.

Finalmente ele disse a si mesmo: "Tenho que sentir algo; tenho que fazer algo". Ele gostaria de poder oferecer suas costas para ser açoitado, ou de fazer alguma peregrinação difícil, se por meio de tais esforços pudesse ser salvo. Contudo, admitiu: "Quanto ao ponto mais simples de todos - crer em Cristo crucificado, aceitar Sua obra de salvação, consumada, não ser nada e deixar que Ele seja tudo, não fazer nada, mas confiar no que Ele fez - eu não conseguia apossar-me disso".

Essa penosa busca prosseguiu através dos anos em que ele freqüentou a escola, tanto em Colchester como em Maidstone, e se tornou mais ardente durante o tempo que passou em Newmarket. Como já vimos, seu trabalho acadêmico era sempre excelente, mas ele estava angustiado interiormente. Em anos posteriores, quando rememorou esse período terrível, disse: "Eu achava que seria melhor que eu fosse uma rã ou um sapo, e não um homem. Eu achava que a criatura mais corrupta... era melhor que eu, pois eu tinha pecado contra Deus, o Todo-poderoso".

Depois de ir para Newmarket, ele freqüentou, primeiro uma igreja, depois outra, esperando ouvir algo que o ajudasse a remover o fardo. "Um homem pregou sobre a soberania divina", diz ele, "mas, que era essa sublime verdade para um pobre pecador que queria saber o que ele tinha que fazer para ser salvo? Havia outro homem admirável que sempre pregava sobre a lei, mas, de nada adiantava cuidar de um terreno que ainda precisava ser semeado. Outro era um pregador prático... mas era muito semelhante a um oficial em comando ensinando manobras de guerra a um grupo de homens sem pés... O que eu queria saber era: "Como posso ter perdoados os meus pecados?", e eles não me disseram isso.

Durante o mês de dezembro de 1849, houve uma epidemia de febre na escola de Newmarket. O educandário foi fechado temporariamente, e Charles foi para casa, para Colchester, para estar lá durante o tempo do Natal.

Essa mudança das circunstâncias foi empregada por Deus para levar o jovem inquiridor à salvação. A história da conversão de Spurgeon é amplamente conhecida, mas pode muito bem ser repetida, e não pode ser contada melhor do que com as palavras com as quais ele próprio a apresentou.

Às vezes penso que eu poderia ter continuado nas trevas e no desespero até agora, se não fosse a bondade de Deus em mandar uma nevasca num domingo de manhã, quando eu ia a um certo local de culto. Dobrei uma esquina, e cheguei a uma pequena Igreja Metodista Primitiva. Umas doze ou quinze pessoas estavam ali presentes. Eu tinha ouvido falar dos metodistas primitivos, e que eles cantavam tão alto que davam dor de cabeça às pessoas; mas isso não me importou. Eu queria saber como poderia se salvo.

O ministro não tinha vindo nessa manhã; suponho que foi impedido pela neve. Por fim, um homem muito magro, um sapateiro, ou alfaiate, ou algo do gênero, subiu ao púlpito para pregar. Pois bem, é bom que os pregadores sejam instruídos, mas esse homem era realmente ignorante. Ele foi obrigado a ficar grudado no texto pela simples razão de que tinha muito pouco para dizer. O texto era - "OLHAI PARA MIM, E SEREIS SALVOS, VÓS, TODOS OS TERMOS DA TERRA" (Isaías 45:22).

Ele nem sequer pronunciou corretamente as palavras, mas isso não teve importância. Ali estava, pensei eu, um vislumbre de esperança para mim nesse texto.

O pregador começou assim: "Esta passagem é de fato muito simples. Ela diz: "Olhai". Ora, olhar não custa nada. Ela não manda, levantar o pé ou o dedo; é só "Olhai". Bem, ninguém precisa cursar faculdade para aprender a olhar. Você pode ser o maior tolo, e, todavia, pode olhar. Ninguém precisa ganhar mil (libras) por ano para olhar. Qualquer um pode olhar; até uma criança pode olhar.

Mas depois o texto diz: "Olhai para Mim". "Ai!", disse ele no linguajar comum de Essex, "muitos de vocês ficam olhando para si mesmos, mas não adianta olhar ali. Vocês nunca encontrarão conforto em si mesmos. Alguns dizem que olham para Deus o Pai. Não, olhem para Ele posteriormente. Jesus Cristo diz: "Olhai para Mim". Alguns de vocês dizem: "Temos que esperar pela operação do Espírito". Vocês não têm que fazer nada disso neste momento. Olhem para Cristo. O texto diz: "Olhai para Mim".

Depois o bom homem seguiu o seu texto desta maneira: "Olhai para Afim; eu estou suando grandes gotas de sangue. Olhai para Mim; eu estou pendurado na cruz. Olhai para Mim; eu estou morto e sepultado. Olhai para Mim; ressuscitei. Olhai para Mim; subi ao céu. Olhai para Mim; estou sentado à direita do Pai. O, pobre pecador, olha para Mim). Olha para Mim!"
Tendo conseguido esticar sua fala por uns dez minutos, acabou--lhe a corda. Então ele olhou para mim, embaixo da galeria e, posso dizer, havendo tão poucas pessoas presentes: ele sabia que eu era um estranho.

Fixando seu olhar em mim, como se conhecesse todo o meu coração, disse: "Jovem, você parece estar em miseráveis condições". Bem, eu estava miserável, mas não estava acostumado a ouvir do púlpito observações sobre a minha aparência pessoal. Contudo, foi um golpe certeiro, atingiu o alvo. Ele continuou: "E você estará sempre em miserável situação - miserável na vida e miserável na morte - se não obedecer ao meu texto; mas, se lhe obedecer agora, neste momento, será salvo". A seguir, levantando as mãos, gritou como só um metodista primitivo o poderia fazer: "Jovem, olhe para Jesus Cristo. Olhe! Olhe! Olhe! Você não tem que fazer nada senão olhar e viver!"

De pronto enxerguei o caminho da salvação. Não sei o que mais ele disse - não prestei muita atenção nisso - eu estava por demais possuído por aquele só pensamento.

Eu estivera esperando ter que fazer cinqüenta coisas, mas quando ouvi aquela palavra, "Olhe!", que encantadora palavra me pareceu! Oh, olhei quanto pude, até parecer ter perdido meus olhos!
Ali e naquela hora a nuvem sumiu, as trevas foram embora rolando, e naquele momento eu vi o sol. Eu bem que poderia ter me levantado naquele instante e cantado com o mais entusiasta deles sobre o precioso sangue de Cristo e sobre a fé singela que olha somente para Ele. Oh, se alguém me tivesse dito isto antes: "Crê em Cristo, e serás salvo"! Contudo, tudo isso fora ordenado sabiamente, e agora posso dizer -

"Desde que pela fé as ondas vi,
Supridas por Teu sangue, a escorrer,
O amor que redime, este é meu tema,
E o será até quando eu morrer...".

Que dia feliz, quando encontrei o Salvador e aprendi a agarrar-me aos Seus amados pés, dia jamais esquecido por mim!... Ouvi a Palavra de Deus, e aquele precioso texto me levou à cruz de Cristo. Posso testificar que a alegria daquele dia é totalmente indescritível. Eu podia ter saltado, eu podia ter dançado; não houve, contudo, nenhuma expressão fanática, o que estaria fora da preservação da alegria daquela hora. Muitas ocasiões de experiência cristã têm ocorrido desde aquela, mas nunca houve uma que tivesse aquela hilaridade, o esplendente deleite que aquele dia teve.

Achei que poderia ter saltado do assento em que estava sentado e ter gritado com o mais frenético daqueles irmãos metodistas... "Estou perdoado! Estou perdoado! Um monumento da graça! Um pecador salvo pelo sangue!" Meu espírito viu suas cadeias feitas em pedaços, senti que eu era uma alma emancipada, que eu era um herdeiro do céu, um pecador perdoado, aceito em Jesus Cristo, arrancado do barro imundo e do horrível poço, com meus pés firmados sobre uma rocha e com o meu andar estabelecido...

Entre as dez e meia, hora em que entrei naquela capela, e meio dia e meia, quando estava de volta em casa, que mudança tinha ocorrido em mim! Simplesmente por olhar para Jesus eu tinha sido libertado do desespero, e fui levado a um estado mental tão jubiloso que, quando me viram em casa, disseram-me: "Aconteceu alguma coisa maravilhosa com você", e eu estava ansioso para contar-lhes tudo. Oh, houve alegria naquela casa aquele dia, quando todos ouviram que o filho mais velho tinha encontrado o Salvador e que sabia que fora perdoado"!

A conversão de Spurgeon foi o grande ponto divisor da sua vida. Ele era de fato uma nova criação. O terrível sentimento de pecado, tão longamente experimentado, já se fora, e tudo era novo diante dele.

Contudo, o sofrimento pelo qual ele tinha passado teve um efeito duradouro sobre ele. O reconhecimento do medonho mal do pecado tingiu profundamente sua mente e o levou a detestar a iniqüidade e a amar tudo quanto é santo. A falha dos pregadores que ele ouvira, não apresentando o evangelho, e ao apresentá-lo não o fazendo de maneira franca e direta, fez com que ele, através de todo o seu ministério, dissesse aos pecadores, em todos os sermões, e de maneira a mais franca e compreensível, como serem salvos.

Além disso, essas lições não eram só para o futuro. Tal era seu amor por Cristo que, apesar de ainda estar com apenas quinze anos de idade, não pôde ficar esperando para depois fazer alguma coisa por Ele, mas teve que procurar os meios pelo qual pudesse servi-lo, e servi-lo imediatamente.

Arnald. A. Dallimore

Fonte: C.H. Spurgeon

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente muito edificante! Obrigado por este texto.

Daniel Schütz