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sábado, 17 de janeiro de 2009

É Calvinista a Confissão de Westminster?


Ainda que os hipócritas e outros não regenerados podem iludir- se vãmente com falsas esperanças e carnal presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de Salvação 1 , esperança essa que perecerá 2 ; contudo, os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça 3 e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, nessa esperança que nunca os envergonhará 4 . (C.F.W CAP 18.1)

Ref.:
1- Dt 29. 19; Jo 8. 41.
2- Mt 7. 22,23.
3- II Tm 1. 12; I Jo 2. 3; I Jo 5. 13; I Jo 3. 14,18,19,21,24.
4- Rm 5. 2,7.

Exposição:
O capítulo 18 de nossa Confissão pode ser estruturado da seguinte forma:
I – A possibilidade de Segurança.(18.1)
II – O Fundamento da Segurança (18.2)
III – O Cultivo da Segurança (18.3)
IV – A Renovação da Segurança (18.4).

Hoje nós vamos estudar a primeira seção que abarca a questão da Possibilidade de Segurança..
Três verdades são enunciadas nesta seção da Confissão de fé de Westminster. O tema desta seção é Triplice possibilidade a respeito da segurança da salvação.
1. A Falsa Segurança
2. A Verdadeira Segurança.
3. A Falta de Consciência de Segurança.

Estas três realidades deve estar em nossa mente quando adentrarmos no estudo mais acurado desta seção da Confissão de Fé.

A POSSIBILIDADE DE SEGURANÇA.
Em tempos recentes alguns teólogos passaram a discutir se este capítulo é de fato calvinista; pois, muitos confundem a certeza da salvação com a doutrina da perseverança, e, assim, argumentam que os puritanos aqui se desviaram do calvinismo clássico de Calvino e dos demais reformadores. Todavia, olhando um pouco mais de perto este capítulo podemos perceber que tal argumentação não se sustenta, sendo, assim vamos ver as bases apropriadas nas quais as distinções entre perseverança e certeza da salvação estão alicerçadas:
I – A Possibilidade de Falsa Segurança.
A primeira realidade que a nossa confissão reconhece é que pode haver uma falsa segurança naqueles que professam o cristianismo. O nosso coração é enganoso, como já disse o profeta em Jeremias 17.9.
O professar o cristianismo não diz muito se o indivíduo está no estado permanente de graça. Ele pode julgar-se salvo, mas está profundamente perdido, ele pode até ser membro da Igreja, mas Cristo nunca o conheceu (Mt.7.23).
O AT nos ensina exatamente esta verdade (Dt.29.19). Cristo nos ensina a mesma verdade em Jo. 8. 41-43 confiar na membresia da Igreja, ou nas orações que fazemos, nada nos garante. Uma falsa confiança é um prejuízo total para a alma humana.
“A falsa segurança é exposta pela ausência de efeitos, tais como pequenos “diligentes usos dos meios”, pela falta de um real ardor do “coração inflamado pelo amor de Deus” ,e por uma falta de habilidade para “guardar o coração quando sob desencorajamento e desolações”. Alguém ainda disse que a falsa “segurança será abalada mais por tribulações externas do que pelo pecado, enquanto que a verdadeira segurança permanece firme no meio das tribulações”. (BEEKE, 2003, p.165).
O que se percebe aqui? É que a falsa segurança é manifestada pela ausência do uso dos meios ordinários pelos quais a segurança é fortalecida – oração e pregação, juntamente como os sacramentos – uma vida que não leva isso em consideração corre um sério risco de estar-se no caminho da falsa segurança de salvação.
Mas, não é apenas isso, pois, faz-se necessário entender que enquanto houver um traço de dependência em minha própria justiça, meu serviço, meu conhecimento da Escritura – enquanto eu confiar em minha fé em vez de na obra de Cristo somente – serei possuidor de um segurança falsa e temporal. As areias do tempo estão cobertas pelos destroços espalhados de homens e mulheres que tiveram a alma naufragada , que prosseguiram com falsa segurança, não tendo o fundamento de Jesus Cristo e, este, crucificado. Esse é um tremendo perigo(FERGUSON,1972, p.47)

II – A Verdadeira Segurança.
Este capítulo também nos apresenta a verdadeira segurança. A nossa confissão indica que há de fato uma segurança que não pode ser negligenciada, mas algo de imediato nos alerta a Confissão: a segurança não pode ser obtida aparte de Cristo. Pois, esta seção se relaciona com Cristo, ou seja, a segurança está baseada no “cristocentrismo”, veja, como a Confissão trabalha essa questão de forma clara: a verdadeira segurança está destinada aos que possuem:
1. Fé em Cristo: A segurança que a confissão fala tem Cristo como o seu objeto por meio da fé .
2. O amor sincero a Cristo: Não é apenas crer em Cristo e tudo está resolvido, a real segurança deve Ter Cristo como centro de sua vida. Sem o amor a Cristo o homem não pode Ter certeza de que encontra-se no estado de graça e salvação.
Isto significa que a segurança é “um fenômeno cristocêntrico”(BEEKE, 2003, p.166).
Os mandamentos das Escrituras nos inclinam para a validade do ensino de nossa Confissão de Fé de Westminster nos apresenta.
Um texto bastante claro de 2 Pedro 1.10 parece nos indicar isso: “ Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.” O apóstolo exorta o seu público às seguintes atitudes:
1. Procurai – indicando a responsabilidade do crente em certificar-se de que estão no estado de graça.
2. Com diligência – Não pode ser algo de forma negligente, ou seja, não deve haver a negligência dos meios de graça estabelecido por Deus para que haja de fato a segurança.
3. Propósito: Confirmar o chamado e a eleição.
4. Resultado: Não tropeçar em tempo algum.
Este tipo de silogismo é deveras encontrado com muita frequência nas Escrituras.
Os sacramentos entram nesta nossa abordagem exatamente porque por meio deles Deus comunica-nos o Cristo que alimenta a nossa fé.
A certeza da segurança não pode ser negada , pois, a própria palavra de Deus a ensina pelo testemunho paulino em sua Segunda epístola a Timóteo. 1.12.
Cristo continua sendo aquele que alimenta a nossa vida e fé, pois, é por meio dele que a vida se manifesta na alma.

III – A Falta de Consciência de Segurança.
A nossa Confissão de Fé sugere que os crentes podem possuir a fé salvadora sem que sintam a segurança de que a possuem.
Mas, a questão é: a certeza da salvação é essencial à fé? A resposta a esta questão deve ser negativa. Isso é importante, pois, devemos lembrar que existem muitos crentes que não creem na salvação eterna, mas que vemos evidências neles de uma verdadeira fé. A questão da certeza da salvação não é algo intrínseca à natureza da fé.
A segurança aumenta a alegria da fé, mas não é essencial à salvação. É bom lembrar que apenas a fé justifica, mediante Cristo somente, o pecador.
A questão da segurança é um conforto dado aos crentes, mas existe alguns crentes que não tem a certeza desta segurança, isto não os desqualifica como crentes, pois, apoiam-se somente no Cristo da cruz.
1 João 5.13 nos apresenta uma segurança confortável à vida cristã. Ter a vida eterna está fundamentada na fé em Cristo somente – Solus Christus e Sola Fide – andam de mãos dadas nesta questão.
Beeke nos diz que a “segurança é necessária para a saúde espiritual, mas não é, de forma alguma, necessária à salvação”(BEEKE, 2003,p.167). porque a segurança é necessária à vida cristã?
1. Pela natureza da fé. – Dom divino.
2. Pela glória de Deus
3. Para promover paz e conforto ao coração do crente.
Conclusão:
A certeza da segurança de fé é fundamentada na Palavra de Deus que nós não podemos mudar esse ensino bíblico, pois, as opiniões humanas não podem anular a doutrina de Deus.
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Referências Bibliográficas.

BEEKE, Joel R. A Busca da Plena Segurança – O Legado de Calvino e Seus Sucessores, São Paulo: Os Puritanos, 2003.
CALVINO, João. Hebreus, São Paulo: Parakletos, 1997.
FERGUSON,Sinclair B. Taking the Christian Life Seriously, Grand Rapids: Zondervan,1972.
HODGE, A.A. A Confissão de Fé de Westminster Comentada, São Paulo: Os Puritanos, 1998.
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Por Prof. João Ricardo Ferreira de França

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