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quarta-feira, 29 de junho de 2011

As funções dos presbíteros

Por: Ewerton Barcelos Tokashiki

As funções atribuídas aos presbíteros aqui descritas não são exaustivas. Elas mencionam o que o presbítero deve ser e fazer, mas ele não pode se limitar a elas. Todos os presbíteros devem exercer o seu ofício em conformidade com a diversidade dos dons de cada um, e discernindo segundo a necessidade da Igreja. A vitalidade da igreja muito depende da operosidade dos presbíteros.
Uma palavra grega usada para se referir ao ofício de presbítero é episcopos. Sabemos que “o uso no N.T., em referência aos líderes, parece ser menos técnica do que uma tradução como ‘bispo’ sugeriria; daí, superintendente, ou supervisor At 20:28; Fp 1:1; 1 Tm 3:2; Tt 1:7.”[1] O presbítero tem a responsabilidade de supervisionar a igreja que o escolheu para ser o seu líder. Louis Berkhof afirma que “claramente se vê que estes oficiais detinham a superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo a própria família de Deus.”[2]
A responsabilidade dos presbíteros de supervisão não se limita aos membros da igreja. Os presbíteros devem supervisionar o seu pastor. R.B. Kuiper observa que "um dos seus mais solenes deveres é vigiar a vida e o trabalho do pastor. Se o pastor não leva uma vida exemplar os presbíteros regentes da igreja devem chamar-lhe a atenção, e corrigi-lo. Se não é tão diligente em sua obra pastoral como deveria sê-lo, devem estimulá-lo para que tenha maior zelo. Se a falta de paixão que deve caracterizar a pregação da Palavra de Deus, os presbíteros regentes devem dar os passos necessários para ajudá-lo a superar tal defeito. E, se a pregação do pastor, em qualquer assunto de maior ou menor importância, não está de acordo com a Escritura, os presbíteros não devem descansar até que o mal tenha sido resolvido."[3] Entretanto, os presbíteros devem oferecer liberdade e recursos para que o seu pastor desenvolva-se e possa oferecer mais ao rebanho.

A autoridade do presbítero

A autoridade dos governadores é puramente ministerial e declarativa. Cada função do Conselho, como o ensino, a admoestação, governo e o exercício da disciplina, devem fundamentar-se na Palavra de Deus. Os presbíteros não possuem autoridade inerente. Não possuem o direito de impor as suas opiniões pessoais, preferências, filosofias sobre o culto, a doutrina, ou o governo da igreja, antes, devem examinar e extrair das Escrituras os padrões e princípios estabelecidos por Deus.

A autoridade do presbítero procede de:

1. A autoridade de Cristo como cabeça da Igreja.

2. Submissão à Cristo como o Senhor da Igreja.

3. A obediência e fidelidade à Escritura Sagrada como única regra de fé e prática.

4. Uma vida de santidade pessoal e familiar.

5. O exercício responsável da sua vocação e dos seus dons segundo o seu chamado.

As funções pastorais

1. Visitar os membros menos assíduos às reuniões da igreja;

2. Resolver os desentendimentos entre os membros;

3. Instar os disciplinados ao sincero arrependimento;

4. Orar por/com todas as famílias da igreja;

5. Consolar os aflitos e necessitados;

6. Supervisionar o bom andamento das atividades da igreja;

7. Exortar aos pais que tragam os seus filhos ao batismo;

8. Ser um pacificador em assuntos controversos;

9. Lembrar aos membros da sua fidelidade com os dízimos e ofertas;

10. Dar assistência e/ou liderar as congregações (quando houver);

11. Auxiliar na distribuição da Ceia do Senhor.

As funções doutrinárias

Os presbíteros em nosso sistema de governo têm a responsabilidade de guardarem a doutrina da corrupção. (1 Tm 3:16; Tt 2:7-8). Entretanto, para isto é necessário:
1. Conhecer o sistema e doutrinas presbiterianas;

2. Zelar pela fidelidade e pureza doutrinária da igreja;

3. Avaliar a qualificação doutrinária do pastor;

4. Examinar os candidatos ao rol de membros da igreja;

5. Discernir os novos “movimentos” que os membros estejam se envolvendo;

As funções administrativas (indivíduo)

1. Representar as necessidades dos membros nas reuniões do Conselho;

2. Zelar para que as decisões do Conselho sejam cumpridas pela igreja;

3. Lembrar os membros dos seus deveres e privilégios;

4. Acompanhar o funcionamento das sociedades e ministérios da igreja;

5. Elaborar propostas e projetos para a edificação da igreja.

As funções administrativas (concílio)

1. Reunir periodicamente para decidir sobre o bem estar da igreja;

2. Divulgar na igreja local as decisões dos concílios superiores (presbitérios, sínodo, SC);

3. Avaliar candidatos ao batismo e profissão de fé;

4. Participar na aplicação da disciplina bíblica para que atinja a sua finalidade;

5. Analisar se a Junta Diaconal está realizando as suas atribuições;

6. Acompanhar o bom andamento das sociedades internas e ministérios da igreja;

7. Avaliar para o envio ao presbitério os candidatos ao sagrado ministério pastoral;

8. Participar da ordenação e instalação de novos pastores e presbíteros;

9. Representar a igreja local nos concílios superiores.


_________________________

Sobre o autor:
Ewerton Barcelos Tokashiki é ministro presbiteriano e professor no Seminário Presbiteriano Brasil Central-Ji-Paraná e na Faculdade Metodista de Porto Velho.

Fonte: doutrinacalvinista.blogspot.com

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Marcha para Jesus 2011, a Micareta Gospel !

Hoje, dia 23 /06/2011 foi realizada mais uma vez a micareta Marcha para Jesus.

Nomes como Renascer Praise, Regis Danese, André e Mariana Valadão, Lázaro, Thalles Roberto, Soraya Moraes, Kleber Lucas, Marcelo Aguiar, Chris Duran, Davi Sacer e muitos outros cantores gospel marcaram presença. Bastava apenas inscrever sua caravana e comprar seu abadá sua camiseta oficial.
Sei que falo isso todos os anos, mas é que realmente não consigo entender a razão de existir uma "marcha" que não tem nenhum sentido prático na pregação do Evangelho, que serve apenas para promover uma dúzia de pregadores e dezenas de cantores gospel que cobram cachês salgados para "marchar para Jesus".
Na minha opinião trata-se apenas de uma micareta gospel sem sentido, que vai mais uma vez causar um caos na cidade de São Paulo,  a serviço de alguns ministérios que querem mostrar ao catolicismo romano, a ministérios "concorrentes" e aos políticos sua força de influenciar e manipular massas mentecaptas aos seus objetivos.
Querem fazer uma marcha para Jesus? Então ajam como Jesus! Abandonem  o espetáculo e promovam uma marcha para resgatar vidas, levar esperanças aos perdidos, fazendo o bem aos pobres e aos necessitados. Promovam uma marcha aos hospitais, orfanatos e asilos. Organizem uma marcha para limpar a cidade, pintar as praças, plantar árvores, doar sangue ou mutirões de ajuda voluntária ou ainda mutirões de construção de casas populares as camadas mais necessitadas da sociedade. Doem cestas básicas com os cachês ou ajudem casas de recuperação com o dinheiro que será gastos com os artistas gospel. Levem esperanças as crianças que dormem todos os dias debaixo de pontes e marquises da cidade. 

Esta pode até ser uma marcha, mas não é para Jesus, pois ele não coabitaria com tamanho absurdo feito em nome de Deus. Se o objetivo é fazer um Show Gospel, chamem de "Show Gospel".
Jesus passou o seu ministério fazendo o bem, trazendo esperança para humanidade, libertando, ensinando sobre Deus Pai e seu estilo de vida, não fazendo eventos marketeiros para o "Reino de Deus". Seu trabalho foi feito debaixo de muito suor, lágrimas, perseguições e privações, e no fim pagou com a própria vida.
Ele disse: quer vir após mim? negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. minha ética cristã não me deixa acreditar que esta marcha é a maneira de fazer isso. Não enquanto tivermos nossos índices de violência, pobreza, favelas, pessoas morrendo nos corredores fétidos dos hospitais ou ainda sobrevivendo de maneira lastimante nesse país que dizemos ser do " Senhor Jesus", mas que, como igreja, não estamos fazendo nada para torná-lo melhor. Sei que não vou fazer falta, mas reitero: minha fé cristã não me deixa participar deste evento.

Flavio Alcantara

Fieis levam pedidos na sola do pé durante Marcha para Jesus em SP

Fieis escreveram pedidos a Deus que foram
colocados na sola de calçados
(Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Fisioterapeuta diz ter tido graças alcançadas em eventos anteriores.
Celebração começou por volta das 10h e deve durar até a noite.

Fieis que participavam da Marcha para Jesus, realizada desde as 10h desta quinta-feira (23) em ruas da Zona Norte de São Paulo, levavam na sola de seus calçados papéis com pedidos a Deus. A expectativa da organização é que cerca de 5 milhões de pessoas participem do evento, que conta com dezenas de shows e termina apenas por volta das 21h30.

A fisioterapeuta Vanessa da Silva Ramos, de 32 anos, garante que os pedidos são atendidos. “Essa é a oitava vez que venho na Marcha. Nesse tempo, perdi a conta dos milagres que recebi.” Entre as graças, ela destaca a estabilidade financeira e familiar. “Antes em casa era muita bagunça. Agora está tudo bem. Há muita paz em meu lar.”

Quem também acredita no poder espiritual da caminhada é a vendedora Márcia Rodrigues, de 40 anos. Ela conta que logo que meses após se converter e “entregar a vida a Deus”, há 11 anos, abandonou o vício no cigarro que a prejudicava havia 20 anos.

Milhares de pessoas caminhavam desde a estação de Metrô Tiradentes em direção à Praça Heróis da FEB, na Zona Norte, onde um palco estava montado para os shows de bandas e cantores evangélicos. Trios elétricos tocando música gospel era seguido de perto por uma multidão de crianças, adultos e idosos.

Famílias inteiras aproveitavam para agradecer o que consideram milagres. E aproveitavam para pedir mais graças. “Eu quero muita saúde e paz”, disse o vendedor Reginaldo Santana, de 25 anos. Ele e a mulher, a enfermeira Amanda Santana, de 25 anos, e o filho, Luiz, de 1 ano e 4 meses. “É uma verdadeira bênção essa caminhada. É um dia dos 365 do ano que separamos para Deus”, afirmou. “Vale a pena isso.”

Fonte: G1 Notícias

quarta-feira, 15 de junho de 2011

É Sempre uma Falta de Amor Criticar e Julgar?

Por Augustus Nicodemus Lopes

Tornou-se comum evangélicos acusarem de falta de amor outros evangélicos que tomam posicionamentos firmes em questões éticas, doutrinárias e práticas. A discussão, o confronto e a exposição das posições de outros são consideradas como falta de amor.

Essa acusação reflete o sentimento pluralista e relativista que permeia a mentalidade evangélica de hoje e que considera todo confronto teológico como ofensivo. Nossa época perdeu a virilidade teológica. Vivemos dias de frouxidão, onde proliferam os que tremem em frêmito diante de uma peleja teológica de maior monta, e saem gritando histéricos, "linchamento, linchamento"!

Pergunto-me se a Reforma protestante teria acontecido se Lutero e os demais companheiros pensassem dessa forma.

É possível que no calor de uma argumentação, durante um debate, saiam palavras ou frases que poderiam ter sido ditas ou escritas de uma outra forma. Aprendi com meu mentor espiritual, Pr. Francisco Leonardo Schalkwijk, que a sabedoria reside em conhecer “o tempo e o modo” de dizer as coisas (Eclesiastes 8.5). Todos nós já experimentamos a frustração de descobrir que nem sempre conseguimos dizer as coisas da melhor maneira.

Todavia, não posso aceitar que seja falta de amor confrontar irmãos que entendemos não estarem andando na verdade, assim como Paulo confrontou Pedro, quando este deixou de andar de acordo com a verdade do Evangelho (Gálatas 2:11). Muitos vão dizer que essa atitude é arrogante e que ninguém é dono da verdade. Outros, contudo, entenderão que faz parte do chamamento bíblico examinar todas as coisas, reter o que é bom e rejeitar o que for falso, errado e injusto.

Considerar como falta de amor o discordar dos erros de alguém é desconhecer a natureza do amor bíblico. Amor e verdade andam juntos. Oséias reclamou que não havia nem amor nem verdade nos habitantes da terra em sua época (Oséias 4.1). Paulo pediu que os efésios seguissem a verdade em amor (Efésios 4.15) e aos tessalonicenses denunciou os que não recebiam o amor da verdade para serem salvos (2Tessalonicenses 2.10). Pedro afirma que a obediência à verdade purifica a alma e leva ao amor não fingido (1Pedro 1.22). João deseja que a verdade e o amor do Pai estejam com seus leitores (2João 3). Querer que a verdade predomine e lutar por isso não pode ser confundido com falta de amor para com os que ensinam o erro.

Apelar para o amor sempre encontra eco no coração dos evangélicos, mas falar de amor não é garantia de espiritualidade e de verdade. Tem quem se gabe de amar e que não leva uma vida reta diante de Deus. O profeta Ezequiel enfrentou um grupo desses. “... com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro” (Ezequiel 33.31). O que ocorre é que às vezes a ênfase ao amor é simplesmente uma capa para acobertar uma conduta imoral ou irregular diante de Deus. Paulo criticou isso nos crentes de Corinto, que se gabavam de ser uma igreja espiritual, amorosa, ao mesmo tempo em que toleravam imoralidades em seu meio. “... contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou? Não é boa a vossa jactância...” (1Co 5.2,6). Tratava-se de um jovem “incluído” que dormia com sua madrasta. O discurso das igrejas que hoje toleram todo tipo de conduta irregular em seus membros é exatamente esse, de que são igrejas amorosas, que não condenam nem excluem ninguém.

Ninguém na Bíblia falou mais de amor do que o apóstolo João, conhecido por esse motivo como o “apóstolo do amor” (a figura ao lado é uma representação antiquíssima de João) Ele disse que amava os crentes “na verdade” (2João 1; 3João 1), isto é, porque eles andavam na verdade. "Verdade" nas cartas de João tem um componente teológico e doutrinário. É o Evangelho em sua plenitude. João ama seus leitores porque eles, junto com o apóstolo, conhecem a verdade e andam nela. A verdade é a base do verdadeiro amor cristão. Nós amamos os irmãos porque professamos a mesma verdade sobre Deus e Cristo. Todavia, eis o que o apóstolo do amor proferiu contra mestres e líderes evangélicos que haviam se desviado do caminho da verdade:

- “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo 2.19).

- “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho” (1Jo 2.22).

- “Aquele que pratica o pecado procede do diabo” (1Jo 3.8).

- “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo” (1Jo 3.10).

- “todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1Jo 4.3).

- “... muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo... Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus... Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más” (2Jo 7-1).

Poderíamos acusar João de falta de amor pela firmeza com que ele resiste ao erro teológico?
O amor que é cobrado pelos evangélicos sentimentalistas acaba se tornando a postura de quem não tem convicções. O amor bíblico disciplina, corrige, repreende, diz a verdade. E quando se vê diante do erro seguido de arrependimento e da contrição, perdoa, esquece, tolera, suporta. O Senhor Jesus, ao perdoar a mulher adúltera, acrescentou “vai e não peques mais”. O amor perdoa, mas cobra retidão. O Senhor pediu ao Pai que perdoasse seus algozes, que não sabiam o que faziam; todavia, durante a semana que antecedeu seu martírio não deixou de censurá-los, chamando-os de hipócritas, raça de víboras e filhos do inferno. Essa separação entre amor e verdade feita por alguns evangélicos torna o amor num mero sentimentalismo vazio.

O amor, segundo Paulo, “é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Coríntios 13.4-7). Percebe-se que Paulo não está falando de um sentimento geral de inclusão e tolerância, mas de uma atitude decisiva em favor da verdade, do bem e da retidão. Não é de admirar que o autor desse "hino ao amor" pronunciou um anátema aos que pregam outro Evangelho (Gálatas 1). Destaco da descrição de Paulo a frase “O amor regozija-se com a verdade” (1Coríntios 13.6b). A idéia de “aprovar” está presente na frase. O amor aprova alegremente a verdade. Ele se regozija quando a verdade de Deus triunfa, quando Cristo está sendo glorificado e a igreja edificada.

Portanto, o amor cobrado pelos que se ofendem com a defesa da fé, a exposição do erro e o confronto da inverdade não é o amor bíblico. Falta de amor para com as pessoas seria deixar que elas continuassem a ser enganadas sem ao menos tentar mostrar o outro lado da questão.

Fonte: O Tempora, O Mores

segunda-feira, 13 de junho de 2011

AS DIFERENÇAS ENTRE O NOVO CALVINISMO E O CALVINISMO TRADICIONAL

Por Leandro Antonio de Lima

Após a reportagem de Time Magazine listando o novo calvinismo como uma das dez ideias que estão mudando o mundo, um dos autores citados, o pastor Mark Driscoll, colocou em seu site algumas comparações entre o novo calvinismo e o velho calvinismo. Esse é o momento de avaliarmos essas comparações. Abaixo reproduzimos o que Driscoll propôs, e como pode ser visto em seu site. (Driscoll, 2009a).

1) O velho calvinismo foi fundamentalista ou liberal, separatista ou sincretizado com a cultura. O novo calvinismo é missional e busca criar uma cultura redimida.

2) O velho calvinismo fugiu das cidades, o novo calvinismo está inundando as cidades.

3) O velho calvinismo foi cessacionista e temeroso da presença e poder do Espírito Santo, o novo calvinismo é continuacionista e alegre pela presença e poder do Espírito.

4) O velho calvinismo foi temeroso e suspeitoso a respeito de outros cristãos e quebrava pontes, já o novo calvinismo ama a todos os cristãos e constrói pontes entre eles.

Em minha avaliação, as declarações de Driscoll foram um tanto quanto precipitadas. É claro que Driscoll está mirando um estilo particular de calvinismo que perdurou nos Estados Unidos por algum tempo (e creio que também no Brasil), mas ele generalizou demais a avaliação e, certamente falhou em sua análise do movimento calvinista como um todo.

Por outro lado, eu posso concordar com aquilo que Driscoll busca como meta do novo calvinismo, entretanto, acredito que em seus “melhores momentos” o calvinismo foi exatamente isso.

O calvinismo é uma teologia completa por causa de sua cosmovisão. Desde o início, o calvinismo foi visto como um movimento de alcance global e para influenciar todas as esferas da vida. A combinação de piedade, erudição e engajamento político e social foram marcas preponderantes do movimento. O calvinismo despontou e se desenvolveu com o potencial de ser um sistema completo. A partir da análise do conceito de cultura e da ação calvinista em relação à cultura é preciso afirmar que o novo calvinismo provavelmente ainda não alcançou o grau de maturidade cultural que o calvinismo teve em seus melhores momentos. O novo calvinismo ainda é mais uma retomada das doutrinas calvinistas antigas com uma apresentação mais atualizada e um foco em espiritualidade e decisão de vida, do que uma continuação do calvinismo em seu sentido mais amplo, como apresentado no Kuyperianismo, por exemplo. Por isso, a declaração de Driscoll pode estar invertida. É o novo calvinismo que ainda não consegue se relacionar verdadeiramente com a cultura, ao contrário do que fazia o calvinismo tradicional, buscando a potencialização da cultura ou mesmo sua transformação para a glória de Deus. Mas é evidente que o novo calvinismo tem tudo para estabelecer um verdadeiro relacionamento transformador da cultura.

Do mesmo modo, não há qualquer evidência histórica de que o calvinismo tenha “fugido” das cidades ou não tenha se preocupado com missões. O calvinismo, desde o início, demonstrou forte preocupação missionária. Driscoll provalvelmente disse isso porque por bastante tempo, os lugares nos Estados Unidos aonde o calvinismo se manteve e se perpetuou foi o interior, em pequenas cidades como Grand Rapids - MI, por exemplo. Mas isso não significa que tenha sido uma opção do calvinismo americano se manter confinado ao interior, antes, provavelmente isso tenha acontecido justamente por causa da dificuldade que foi no auge do liberalismo e do evangelicalismo arminiano, o calvinismo conseguir adeptos nas grandes cidades.

Com relação à disputa sobre a contemporaneidade ou cessacionismo dos dons espirituais, é preciso lembrar que a preocupação de Driscoll é a de correlacionar o calvinismo com os acontecimentos do século 20, ou seja, com o surgimento do movimento pentecostal. Não faz parte do escopo desse post uma análise do movimento pentecostal, é suficiente para nós o entendimento de que entre os evangélicos há uma divisão bastante clara no que diz respeito a atuação do Espírito concedendo dons. Alguns interpretam que os dons do Espírito concedidos a partir do Pentecostes cessaram com a morte dos Apóstolos. Outros entendem que esses dons ainda estão em atividade. Driscoll está dizendo que o velho calvinismo foi cessacionista, enquanto que o novo calvinismo é continuacionista. Essa afirmação, novamente, não muito é exata.

É um fato que muitos autores calvinistas são enfaticamente cessacionistas, como o dispensacionalista John MacArthur Jr, as vezes chamado de “novo calvinista”. Por outro lado, há calvinistas históricos que não insistem no cessacionismo, como Stott, Packer e o famoso Lloyd-Jones. Deve ser lembrado que a questão chave para a maioria dos calvinistas históricos não é se os dons espirituais ainda estão em atividade, mas se o Batismo com o Espírito Santo é uma “segunda bênção” como quer o Pentecostalismo. Assim, insistindo que o Batismo com o Espírito Santo acontece no momento da conversão, boa parte dos calvinistas não sente necessidade de enfatizar um cessar absoluto dos dons espirituais. A posição calvinista mais comum é que parte dos dons cessou, enquanto outros continuam em atividade. O próprio Calvino posiciona-se firmemente a favor da continuidade dos dons espirituais, entretanto, não de todos. Sobre o dom de profecia, por exemplo, Calvino entendia que ele não está mais em atividade no sentido de “predizer o futuro”, mas continua em atividade no sentido de explicar a Palavra de Deus. Calvino diz: “Na igreja Cristã, nos tempos atuais, profecia é simplesmente o correto entendimento da Escritura e o dom particular de explicá-la, visto que todas as antigas profecias e todos os oráculos divinos já foram concluídos em Cristo e seu Evangelho”. (1997, Rm 12.6, p. 431). Entretanto, Calvino fala de outros dons como sendo “dons ordinários que permanecem perpetuamente na igreja”. (1997, Rm 12.6, p. 424). Do mesmo modo, Calvino entendia que alguns ofícios exercidos na igreja primitiva tinham sido temporários, enquanto outros permaneciam. Ele escreveu:

Deve-se observar também que, dos ofícios que Paulo enumera, somente os dois últimos são de caráter perpétuo. Porquanto Deus adornou sua igreja com apóstolos, evangelistas e profetas só por algum tempo, exceto que, onde a religião se encontra sucumbida, ele suscita evangelistas à parte da ordem da igreja [extra ordinem] para restaurar a pureza da doutrina àquela posição que perdera. Sem pastores e doutores, porém, não pode haver nenhum governo da igreja. (1998, Ef 4.11, p. 123).

Portanto, a acusação de que o velho calvinismo foi temeroso do poder do Espírito Santo é uma asseveração generalizada demais. Certamente houve calvinistas que, por medo de uma identificação com o movimento Pentecostal, refrearam as supostas manifestações espirituais, e outros que em busca de uma identificação com a ciência fizeram uso de um racionalismo agudo, mas generalizar isso não faz justiça a tantos calvinistas do passado que enfatizaram o papel e o poder do Espírito na conversão, na santificação, na compreensão das Escrituras, como os puritanos, e o próprio Calvino. A luta dos calvinistas, entretanto, foi a de manter distância do movimento Pentecostal e Neo-Pentecostal com suas ênfases consideradas anti-bíblicas pelos calvinistas. Não se trata de negar o poder ou a atuação do Espírito e nem mesmo a continuidade dos dons, mas de rejeitar aquelas ênfases exageradas que não fazem parte do Cristianismo histórico, como por exemplo, a questão das novas revelações espirituais propostas pelos carismáticos. Nesse ponto, o calvinismo seguindo Calvino tende a ensinar que “novas revelações” são invenções que provêm de espíritos mentirosos e não do Espírito Santo. (1999, I, 9, 2). Nesse ponto, se Driscoll prefere uma aproximação com esses movimentos pode parecer ser o caso de seu discurso, ele está se afastando decisivamente do calvinismo. Por outro lado, se Driscoll pretende um estudo sério da pessoa do Espírito Santo, seguido de uma prática que enfatiza sua obra de acordo com a Escritura, sem racionalismo, ele não precisaria de um “novo” calvinismo diferente, pois bastaria se manter nas pegadas de Calvino.

Com relação à perspectiva ecumênica, novamente precisamos lembrar que Calvino tinha uma grande preocupação com a unidade da igreja. Novamente é forçoso concluir que a asseveração de Driscoll de que o velho calvinismo foi temeroso e suspeitoso a respeito de outros cristãos e quebrava pontes está muito longe das opiniões e ensinos de Calvino. Entretanto, muitos calvinistas de fato parecem ignorar as opiniões do Reformador de Genebra. Novamente é preciso dizer que a abertura proposta pelo novo calvinismo para outras igrejas e correntes teológicas é bem-vinda, mas para fazer isso não é preciso um rompimento com o calvinismo tradicional, antes, uma leitura atualizada dos próprios ensinos de Calvino.

Pela força dos argumentos é preciso concluir que Driscoll não foi muito exato em suas comparações entre o novo calvinismo e o velho calvinismo. Praticamente todas as coisas que ele pretende atribuir de positivo ao novo calvinismo foram mais facilmente identificadas no próprio calvinismo em seus melhores momentos e, especialmente, na teologia de seu fundador, o Reformador João Calvino. Portanto, o novo calvinismo pode buscar essas coisas desejáveis na própria essência do calvinismo histórico, desenvolvê-las e aplicá-las para os dias atuais.

DRISCOLL, Mark. New Calvinism versus Old Calvinism. 2009a. Disponível em: http://theresurgence.com/new_calvinism, Consultado em 30 de Março de 2009.

CALVINO, João. Romanos. Trad. Valter Graciano Martins. São Bernardo do Campo: Edições Parákletos, 1997.

CALVINO, João. Efésios. Trad. Valter Graciano Martins. São Bernardo do Campo: Edições Parákletos, 1998.

CALVINO, João. Institución de la Religión Cristiana. 5ª. Edição. Barcelona: Felire, 1999.

Fonte: Novo Calvinismo

terça-feira, 7 de junho de 2011

A IMAGO DEI

A IMAGO DEI
EM UM BRASIL SEM RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança"
(Gênesis 1.26).

Geralmente estaria aqui nesta página escrevendo algum artigo de natureza teológica, mas agora escrevo com o coração de pastor e mente de teólogo. Nestes últimos dias as lágrimas me vieram aos olhos, ao contemplar os nossos noticiários - mas uma desgraça se abate no coração do Rio de Janeiro - a maior tragédia existente neste nosso País que temos assistidos passivos. Quero fazer presente os meus sentimentos às vítimas e familiares daquelas crianças que estavam estudando e o futuro da nossa nação foi tragicamente assassinado.
Mas, o que mais traz um sentimento de revolta ao meu coração é joguete político existente; temos verbas e recursos, mas sem projetos não podemos fazer nada - diz o governo federal! Que absurdo! O homem criado à imagem de Deus sendo tratado como menos que um animal - um verme, um lixo - a dignidade humana tratada como nada. O desrespeito pela vida é marcante.
Depois que a desgraça se estabelece o governo vem diz "vamos fazer isso"! Ou vamos "providenciar aquilo". Parem! Não precisamos de promessas, precisamos de ações que visam olhar para o homem como a Imago Dei (imagem de Deus).
Os nossos corações estão enlutados porque vidas são contatas como números. Não é diferente aqui em nossa cidade, as vidas dos jovens marginalizadas, o uso das drogas assuntando e maltratando as famílias, os centros médicos marcados pelo descaso do governo!
A educação das nossas universidades sendo tratada com desprezo. E o conhecimento e cultura se distanciando dia-a-dia de nossos jovens; o homem na ignorância total é tratado como ser que não reflete. Como ser não pensante! E as igrejas, aprisionam os crentes e os fiéis com seus dogmas não autorizados pela palavra de Deus. Não tornam seus membros reflexivos; lançam culpa no demônio pela sua demência social, política e educacional.
O homem de nosso tempo pós-moderno é valorizado pelo que tem, pelo que possui, pelas noções [equivocadas] epistemológicas que sustenta, para gerar, filtrar e repetir as mesmas sintomáticas de décadas atrás.
Onde está a solução para o problema social de nosso tempo? Política? Mais educação? Mais emprego? Inclusão social? Todos estes são paliativos – não são a solução real – a verdadeira resposta – a única reposta está no resgate, na redenção do homem como imago Dei – no verdadeiro humanismo Cristão. A resposta que damos à pergunta: Que é o ser humano? Será o nosso pressuposto básico para aquilo que realizaremos de significativo para responder de forma efetiva essas crises sociais e existenciais pela qual passa o ser humano na pós-moderninade. Quando conseguirmos dignificar a pessoa humana ao seu lugar real certamente teremos mudanças radicais na nossa sociedade. O homem é, segundo João Calvino, “o vicário de Deus no governo do mundo”. Precisamos resgatar o ser humano autêntico. Biéler nos alerta:

O ser humano que conhecemos, o ser humano que analisamos, o ser humano da psicologia, o ser humano que a ciência examina, o ser humano da literatura e o ser humano do humanismo profano [pagão] não é, pois, o ser humano autêntico. Não passa de uma pálida aparência do ser humano verdadeiro, uma contrafração, uma caricatura.

Somente nesta concepção de que o homem deve ser valorizado como a Imago Dei é que a sociedade brasileira poderá encontrar a autêntica solução para o homem de nosso tempo – quando a verdadeira humanidade do homem for descoberta em Cristo Jesus, é que poderemos ver a sociedade de nosso tempo ser transformada em socializadora dos bens e dos dons que Deus concede a nós por sua graça e amor.


Sobre o autor: João Ricardo é ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em São Raimundo Nonato, Piauí. Formado em Teologia Pelo Seminário Presbiteriano do Norte em Recife/ PE. Professor de Grego e Hebraico no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil em Recife/PE.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pastoral da Diretoria da IPI do Brasil sobre a união civil homossexual, PLC122, violência infantil e ordenação homossexual da PCUSA

Caros irmãos e irmãs da IPI do Brasil

Tradicionalmente durante o mês de maio, celebramos eventos relativos à vida em família. Sempre usamos essas datas para lembrar a importância da família, os princípios que devem reger a vida em família, o agradecimento a Deus pelas nossas mães, etc. Todavia, este mês foi marcado por uma série de acontecimentos que trazem profundas preocupações com relação à família cristã.

No dia 5, o Supremo Tribunal Federal decidiu reconhecer a união estável de casais do mesmo sexo, abrindo espaço para a futura instituição do casamento de casais do mesmo sexo, bem como atropelando a competência do poder legislativo e colocando em questionamento o próprio conceito de família expressos na nossa Constituição: Art.226“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.” (grifos nossos)

No dia 18, ocorreram manifestações em várias cidades contra o abuso sexual de crianças. Segundo pesquisa efetuada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, cerca de 40% das crianças que sofrem abuso foram vítimas dos próprios pais; 30%, dos padrastos; 15%, de tios; e apenas 3%, de desconhecidos. Isso indica que algo extremamente preocupante está ocorrendo com a família brasileira. Quantas famílias evangélicas fazem parte dessa triste estatística não o sabemos. Todavia, cremos que este problema não é exclusivo a famílias não evangélicas.

Neste mês, ainda, os presbitérios da Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA), após mais de 35 anos debatendo o assunto, aprovaram a remoção do Livro de Ordem de uma exigência para ordenação, que estabelecia a obrigatoriedade de vida em fidelidade dentro da aliança de casamento entre um homem e uma mulher ou castidade para os solteiros.

Recentemente, também o Senado retomou os debates sobre o PLC 122 que, se aprovado, criminaliza as opiniões consideradas homofóbicas e penaliza qualquer manifestação que condene a prática homossexual, incluindo sermões, pronunciamentos, palestras e artigos escritos. Acrescente-se ainda que o MEC planejava distribuir, nas escolas públicas, material com vistas a combater o preconceito contra homossexuais, mas que, na verdade, fazia apologia desse comportamento.

Vários manifestos têm circulado pela internet, tanto expressando opiniões pessoais, como institucionais. Muitas pessoas têm nos escrito perguntando se nossa igreja vai se posicionar sobre esses assuntos, quando, de que forma, etc. Diante disso, queremos ressaltar os seguintes pontos:

1) A última reunião ordinária da Assembléia Geral autorizou a publicação de uma pastoral sobre a sexualidade, a qual estará disponível a todos os irmãos brevemente.

2) Com relação à PCUSA em sua decisão de remover obstáculos legais para a ordenação, temos a ponderar os seguintes tópicos:

a) Nossa igreja tem uma profunda dívida de gratidão para com a PCUSA. A atividade missionária desta igreja foi uma das mais belas páginas escritas em toda a história do moderno movimento missionário. Pouquíssimos países no mundo não receberam missionários dessa igreja. Plantaram hospitais, escolas, universidades, orfanatos, obras sociais e igrejas. Enviaram missionários/as, educadores/as, médicos/as, enfermeiros/as, assistentes sociais e outros tantos profissionais para o mundo inteiro. Cometeram, é verdade, equívocos no trato com as culturas locais. Todavia, estes equívocos jamais vão obscurecer a importância desse trabalho que abençoou milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro. Somos filhos desse movimento. O primeiro missionário presbiteriano que aqui chegou foi enviado pela PCUSA, em 1859. Embora após a nacionalização do presbiterianismo não tenhamos tido apoio ou relacionamento com esta igreja, contudo, a partir de 1983, estabelecida a parceria, recebemos vários missionários que já trabalhavam no Brasil e haviam ficado sem uma igreja que os abrigasse, em virtude do fim do relacionamento com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Fomos profundamente abençoados pela participação desses notáveis homens e mulheres de Deus, que deram suas contribuições ao evangelismo em nosso país e gastaram o melhor de suas vidas servindo à igreja brasileira. Muitos deles ainda permanecem entre nós, mesmo após sua aposentadoria. Outros, aqui morrendo, preferiram ser sepultados neste país como prova de amor a esta terra.

b) Ao longo desta parceria, nestes quase trinta anos, muitos projetos foram implementados com o apoio da PCUSA, entre eles o Seminário de Fortaleza, o CTM de Cuiabá, os Projetos Sertão, Amazonas e Gaúcho, os quais receberam recursos humanos e financeiros. Sem a parceria dessa igreja, teríamos levado muito mais tempo para implementar tais projetos.

c) Muitos pastores receberam apoio para continuar seus estudos de pós-graduação, não apenas em instituições no Brasil, mas também no exterior. Instituições de pós-graduação parceiras da IPIB tem sido apoiadas também pela PCUSA facilitando, desta maneira, o projeto de capacitação para a docência teológica.

d) Este tema tem sido debatido pela PCUSA nos seus últimos 35 anos. Ano após ano, este assunto esteve presente nas reuniões da Assembléia Geral, sendo, no entanto, sucessivamente rejeitado pela maioria dos presbitérios. Contudo, neste ano, a maioria dos presbitérios optou por remover aquela cláusula que impedia eventuais ordenações de homossexuais praticantes. A partir de julho próximo, entra em vigor a decisão. Poderia se dizer que o grupo que se opunha a estas alterações tenha se cansado e, talvez, muitas igrejas e pastores deixem a denominação, filiando-se a outros grupos presbiterianos que procuram manter uma interpretação mais restrita das Escrituras neste assunto. Outros, talvez permaneçam, formando presbitérios delimitados não geograficamente, mas afinados teologicamente. Algumas igrejas têm sinalizado a intenção de permanecer, mantendo seus próprios programas e não enviando mais recursos para o escritório central da igreja.

e) Ousaríamos dizer que há um certo descompasso entre as lideranças que defendiam essa causa e a membresia da igreja. Alguns líderes influentes e articulados, mas não em sintonia com uma base mais conservadora ou de perfil mais evangélico, teriam conduzido a igreja a essa decisão. É sabido que a PCUSA vem perdendo milhares de membros por ano. A média tem sido de 40 a 50 mil membros por ano, sucessivamente nos últimos vinte anos. Essas perdas têm sido, geralmente, creditadas às posturas mais liberais e esta última decisão, possivelmente, acentuará esse processo.

Diante desses fatos,

Pedimos as orações em favor daquela igreja irmã. Oremos pelos irmãos e irmãs daquela igreja que estão sofrendo com essa decisão, bem como pelos missionários que trabalharam aqui no Brasil e agora sentem-se profundamente embaraçados por esta decisão.

Oremos pela sua liderança para que reavaliem a decisão tomada, a qual representa uma concessão à cultura ambiente e desprezo pelo ensino claro das Escrituras sobre o assunto.

A continuidade ou não da parceria deverá ser avaliada pelos órgãos competentes da nossa igreja no tempo oportuno. A parceria foi firmada mediante autorização da Assembléia Geral da IPI do Brasil. Portanto, qualquer outra decisão nesse sentido precisará ter um respaldo da Assembléia Geral.

3) Com relação ao PLC 122, ponderamos os seguintes pontos:

a) Como cristãos, temos o dever contínuo da oração pelas autoridades conforme a exortação de Paulo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador” (1Tm 2.1-3). Sobretudo para que, editando leis sábias e justas, promovam o bem estar comum, defendam os valores da família – base da sociedade – e assegurem as liberdades e direitos fundamentais do ser humano.

b) Como cidadãos que trabalham, vivem e pagam impostos neste país, temos o dever de cobrar de nossos representantes políticos uma postura a respeito do assunto. Liguemos, escrevamos, enviemos email, protestemos, tornemos conhecido o nosso pensamento sobre o assunto. Foi exatamente por causa da manifestação de descontentamento que a presidente determinou a suspensão do chamado “kit gay”. Políticos temem a opinião pública. Precisamos exercer nosso direito de cidadania. Na omissão, proliferam decisões das quais discordamos.

c) Como denominação, temos de desenvolver uma ação conjunta das igrejas históricas e organismos que compartilham a mesma visão. As igrejas históricas têm se reunido desde o ano passado, tratando de assuntos comuns e este tema têm estado na pauta. Há no momento um manifesto da ABIEE (Associação Brasileira de Instituições Educação Evangélicas) o qual subscrevemos, devidamente autorizados pela COMEX (Comissão Executiva da Assembléia Geral), o qual virá a público em poucos dias.

d) Por princípio somos contra o preconceito e a discriminação a qualquer pessoa ou grupo, mas não podemos aceitamos a “mordaça” que querem nos colocar, pois a liberdade é um valor que além de ser constitucional, é absolutamente essencial na sociedade.

4) Com relação ao abuso de crianças:

a) Urge que cada igreja empreenda ações socioeducativas em suas comunidades, visando à proteção integral da criança, bem como de sua família;

b) Urge a criação de projetos sociais que protejam a criança em situação de vulnerabilidade ou de risco.

c) Urge a participação dos cristãos nos órgãos de defesa da criança e do adolescente, lutando pela implementação de políticas públicas de proteção e cuidado das nossas crianças, e de combate à violência doméstica.

Que Deus na sua infinita graça e misericórdia nos capacite para que nesta hora, levantando nossa voz, possamos contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna ao apontar o caminho de um Reino de paz e justiça.

No amor daquele que é o Senhor da Igreja e da História.

Diretoria da Assembleia Geral da IPIB