Por Rev. Francisco Macena da Costa.
Nos últimos anos, tenho observado com atenção a dinâmica interativa dos presbiterianos nas redes sociais. Algumas das minhas impressões já foram publicadas, e tiveram uma relativa repercussão, por parte dos interessados no fenômeno relacionado à participação dos presbiterianos nas redes sociais.
Hoje, a realidade da participação virtual dos presbiterianos no Orkut, reflete outros desafios e requer outras demandas. Em pouco mais de um ano houve uma verdadeira redescoberta do poder das redes sociais, ao mesmo tempo em que se concretizou uma espécie de “desgaste” no antigo padrão interativo que cerceava a dinâmica dos presbiterianos no Orkut. Para que haja uma melhor compreensão dos fatos, irei destacar alguns pontos que considero cruciais para entender o novo momento dos presbiterianos nas redes sociais.
A consolidação das mídias sociais.
Primeiramente quero destacar o papel das mídias sociais no universo da comunicação em nosso país. De modo inequívoco, o último pleito mostrou a capacidade de instrumentalização das redes sociais no processo eficiente de formação de opinião e expansão da informação. Existe uma grande praça virtual, onde as pessoas se encontram para dizer algo e essa forma de relacionamento veio para ficar.
No Brasil, além do Orkut, temos a possibilidade de interagir através do Facebook, Twuitter, Myspace e tantos outros sites de relacionamentos que já marcam presença em vários dispositivos móveis que cada vez mais, fazem parte do cotidiano das pessoas. O crescimento das redes sociais e seu uso dinâmico indicam um caminho sem volta onde os relacionamentos se desprendem em certo sentido das amarras de tempo e espaço, favorecendo a rapidez, a agilidade, a qualidade da informação e a competência linguística.
Apesar dessa universalização do saber, se revestir de um manto impessoal, ainda assim, as redes sociais conseguem preservar uma lâmina da condição humana traduzida em palavras que expressam ansiedades, paixões, recalques, doçura, amargura e afeto. A digitalização do saber e da informação não teve o poder de des-humanizar os usuários, pelo contrário, o que se vê nas redes sociais é apenas o retrato digital da condição humana em toda a sua precariedade e ambigüidades.
Considerando que as redes sociais foram incorporadas ao cotidiano das pessoas e que esse processo é irreversível, cabe às instituições históricas incrementar formas planejadas do uso estratégico das redes sociais. Através das redes as igrejas históricas no Brasil terão uma grande possibilidade de interagir, dialogar e fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas. Contudo, para que de fato haja um encontro das instituições com o público das redes sociais é preciso contar com a qualidade e o engajamento na cultura virtual. Efetivamente não basta apenas criar uma comunidade ou um perfil, antes é necessário investir em tempo, recursos, qualificação, conteúdo e qualidade da informação.
As redes sociais não podem mais ser julgadas como uma febre. Elas não devem ser descartadas em nome de instrumentos arcaicos bancaristas. As redes sociais vieram para ficar e certamente serão mais bem aproveitadas quando as instituições despertarem no tocante ao poder exponencial das redes no processo de multiplicação e construção do saber através da virtualidade.
A criação da comunidade oficial da IPB.
Depois de um longo tempo sem participação oficial a IPB finalmente em 2010 abraçou as mídias sociais como ferramenta de comunicação. O simples fato de criar um perfil nas redes sociais, em especial no Orkut, trouxe um impacto relevante no contexto das mídias sociais que apresentavam seus sítios relacionais com uso e a logo marca da IPB, ainda que as mesmas não fossem sequer geridas por oficiais da IPB. Antes da criação de uma comunidade oficial, várias comunidades usavam a marca da igreja para patrocinar fóruns de debates onde algumas particularidades construíram um fenômeno virtual interessante.
A título de exemplo, uma comunidade em específico é usada por alguns membros para divulgar com maior veemência o ecumenismo, a ordenação de mulheres, a defesa da maçonaria como livre associação, a mecânica da alta liturgia, os ideais comunistas, as premissas do liberalismo teológico, as tendências da teologia protestante do séc. XX e até o viés contemporâneo de teologia inclusiva, fazendo uso indistinto da liberdade de pensamento como principal lente hermenêutica.
No outro extremo, existe outra comunidade que mais parece com um partido conservador de direita onde qualquer forma de pensamento alheio ao conservadorismo “julio-severiano” é de pronto repelida por alguns membros como se fosse a própria encarnação do demônio.
Como vivemos num estado democrático de direito, acima de tudo todos tem direito a liberdade de expressão, por isso, não estou defendendo ou constrangendo os que pensam diferente ao silêncio e a censura. Estou apenas constatando que dependendo do sítio virtual que você venha conhecer nas redes sociais, irá de pronto perceber que existem influencias majoritárias em cada comunidade que não representam as convicções da IPB, ainda que as mesmas comunidades utilizem a marca oficial da igreja.
Embora essas comunidades, no ano de 2010, nem de longe espelhem o entusiasmo que as moviam entre 2006-2009, penso que a criação da comunidade oficial serviu para purgar o uso não-oficial da marca de nossa IPB nas redes sociais.
O fato é que existem hoje comunidades oficiais da IPB nas mais diversas mídias digitais que estruturam o universo virtual dos internautas. Antes de qualquer coisa os presbiterianos possuem agora, uma comunidade gerida pelos oficiais da IPB e que prezam pela manutenção da ordem, da ética cristã e pelo respeito as Sagradas Escrituras e símbolos de fé da IPB.
O novo espaço virtual criado em 2010, já passou por grandes desafios, logo em seu nascedouro participantes oriundos de outros sítios virtuais testaram a moderação da comunidade no tocante à manutenção da ordem e da decência que favorecesse um ambiente de debates, informação e interatividade. Ainda que de forma tensa, essa etapa de construção da moderação foi superada e a comunidade hoje possui um código regulador simples que pune a des-ordem e promove o debate livre e cortez. Destaco essa atividade moderadora como fundamental tendo em vista que a qualidade de uma comunidade depende da qualidade da moderação. Esquemas a-narquistas ou de auto moderação na prática não preservam o debate puro e criam uma dinâmica inútil em torno de polêmicas superficiais.
Com o crescimento da cultura virtual em nosso país e com o maior acesso dos presbiterianos as redes sociais, creio que a invenção da comunidade oficial da IPB foi o grande evento dos últimos anos no cenário virtual dos presbiterianos brasileiros. Quando muitos pensavam ser impossível a apresentação midiática da IPB, a comunidade surgiu, trazendo a esperança de representar o verdadeiro simbolismo da tradição reformada brasileira ostentada pela IPB nesses 151 anos de implantação no Brasil.
Os desafios na cultura virtual.
Ainda precisamos de tempo para discernir com maior clareza toda a dinâmica que envolve a engenharia dos recursos de comunicação que promanam das redes sociais. Tempos atrás, apenas os doutores da igreja que ocupam cátedras nos centros de formação acadêmica dispunham do ônus docente em nossa denominação, mas com o advento das redes sociais anônimos se ergueram como editores profícuos para os leitores assíduos das mídias virtuais, provendo uma resposta rápida para os seus questionamentos, dúvidas e conflitos.
Evidentemente que não estou aqui desprestigiando os centros de formação teológica de nossa denominação e nem o mérito e a qualidade de nossos doutores, apenas estou constatando o fato de que através das redes sociais anônimos se tornaram docentes de numa cultura virtual, formando opiniões e gerando um campo relativamente sólido de influência. Esses anônimos dos ambientes tradicionais de ensino são na virtualidade personalidades prestigiadas pela lisura, coerência, inteligência e rapidez de raciocínio que são virtudes prementes nas redes sociais.
Penso que o passo posterior à criação da comunidade oficial nas redes sociais, depende de um avanço no sentido de encarar o diálogo virtual como um ministério da Igreja a fim de promover edificação no corpo de Cristo. Certamente nossa denominação colherá frutos promissores se uma equipe for efetivamente formada no intuito de promover ensaios teológicos de qualidade, tirar dúvidas on-line, promover o debate de temas pertinentes de nossa realidade. É evidente que nossos ministros e doutores possuem ocupações e compromissos, mas creio que não lhes será pesado dedicarem alguns minutos para atender a multidão que consulta todos os dias as redes sociais.
Espero que a APECOM esteja sensível aos novos valores que regulam os processos de construção dos saber e da informação em nossos dias. Igualmente anseio que seja dada a devida continuidade no tocante ao projeto da comunidade oficial da IPB nas redes sociais e que a participação e gestão dos fóruns sejam encaradas antes de tudo como um ministério urgente que seja usado como instrumento para a glória do Senhor. Com esperança aguardamos uma nova dinâmica para os presbiterianos em 2011.
No amor daquele que realiza em nós tanto o querer como o realizar,
Rev. Francisco Macena da Costa.
Moderador da comunidade oficial da IPB no Orkut.
Cambeba, 1 de janeiro de 2011.
Fortaleza-CE
Fonte: Fides Quaerens Intellectum
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