O Ensino da Confissão de Westminster
sobre
a Cessação da Revelação Especial
Por
David F. Coffin, Jr.
Tradução:
Rev. João
Ricardo Ferreira de França.
De acordo com o capítulo um da Confissão de Fé de
Westminster, Deus, em várias épocas no passado, revelou aquele
conhecimento de [Si mesmo] e de sua vontade, o qual é necessário para a
salvação. (1.1) Ao longo da história redentora, aprouve ao Senhor, em
diversas épocas e de várias maneiras, revelar-Se e declarar Sua vontade à Sua
Igreja. (1.1) Ele agora CESSOU de empregar esses meios: aqueles modos
antigos de Deus revelar Sua vontade ao Seu povo estão agora cessados. (1.1)
Por isso, a Sagrada Escritura... [é] sumamente necessária... (1.1)
Nesta seção, a necessidade da Escritura é
“assim fundamentada na insuficiência da revelação natural e na cessação da
revelação sobrenatural...”[1]
¹ Assim argumentava o Bispo Ussher, cujos Artigos Irlandeses de
Religião são amplamente reconhecidos como a fonte imediata mais importante
do capítulo sobre a Sagrada Escritura², e cujo Corpo de Divindade, um
dos “principais manuais dogmáticos populares da época,”³ tem uma linguagem
paralela à Confissão de Fé tão próxima “que é difícil acreditar que não tenha
influenciado parte do conteúdo ou até mesmo da fraseologia.”⁴ Ussher
argumentava que:
“...estando
todo o Cânon das Escrituras plenamente concluído, nós e todos os homens, até o
fim do mundo, estamos deixados para obter nossa plena instrução a partir dele,
**sem esperar revelações extraordinárias, como em tempos passados... oráculos e
visões... mas agora estas, juntamente com todas as outras revelações
extraordinárias, cessaram.”⁵
De
acordo com a Confissão de Fé, o cânon das Escrituras é identificado pela
inspiração dos livros. Sob o nome de Sagrada Escritura... agora estão
contidos todos os livros do Antigo e Novo Testamentos... todos os quais são
dados por inspiração de Deus, para serem a regra de fé e prática. (1.2) Os
livros apócrifos são excluídos do cânon porque não são inspirados. Os
livros vulgarmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não
fazem parte do cânon da Escritura... (1.3) A autoridade do texto não
decorre de seu status canônico, mas do fato de que, sendo inspirado, é a
própria Palavra de Deus. A autoridade da Sagrada Escritura... depende...
inteiramente de Deus (que é a própria verdade), seu autor; e por isso deve ser
recebida, porque é a Palavra de Deus. (1.4) Em suma, é o caráter inspirado,
ou soprada por Deus, de um texto que estabelece sua canonicidade, autoridade
e necessidade, sendo agora cessados os modos de inspiração.
Um
crente é persuadido de que a Escritura é a Palavra de Deus quando o
Espírito Santo trabalha em seu coração para fazê-lo ver a evidência da
inspiração da Escritura. A Sagrada Escritura... se evidencia abundantemente
como sendo a Palavra de Deus; contudo, nossa plena persuasão... vem do trabalho
interior do Espírito Santo, testificando com e pela Palavra em nossos corações.
(1.5) Aqui, o Espírito Santo trabalha para abrir nossos olhos ao que já está
no texto. Nada é acrescentado a ele.
Segundo
a Confissão, a Escritura (ou seja, o conjunto de escritos inspirados) é suficiente
para conhecer tudo o que Deus deseja que seja conhecido para Sua própria glória
e para a salvação, fé e vida do homem. Todo o conselho de Deus, a respeito de
todas as coisas necessárias para Sua glória, a salvação do homem, fé e vida,
está ou expressamente declarado na Escritura, ou pode, por boa e necessária
consequência, ser deduzido dela... (1.6) Portanto, nada, por qualquer meio,
seja por novas revelações do Espírito [contra os sectários] ou tradições
humanas [contra Roma] (1.6), deve ser aceito como autoridade juntamente com a
Escritura, à qual nada deve ser acrescentado em tempo algum... (1.6)
Neste
ponto, "novas revelações do Espírito" devem significar supostas
novas revelações, pois o caráter de um texto como revelação do Espírito (ou
seja, inspirado) é justamente o que o qualifica como Escritura. Assim
argumentou o teólogo Edward Reynolds, da Assembleia de Westminster:
“O
Espírito não revela a verdade para nós como fez na manifestação primitiva aos
profetas e apóstolos — por inspiração divina e imediata, ou por simples
entusiasmo: mas o que Ele revela, Ele o faz pela e a partir das
Escrituras...”⁶
Além
disso, ao dizer “acrescentar”, os teólogos não estão apenas proibindo a adição
de páginas ao fim de um livro, mas se opõem a qualquer suplementação prática
daquilo que é necessário para a glória de Deus, salvação do homem, fé e vida —
frase que compreende todo o chamado do crente.
Contudo,
embora tudo que seja objetivamente necessário esteja no texto inspirado, o
Espírito de Deus é subjetivamente necessário para aquela iluminação que
nos permite ver salvíficamente o que está lá. Contudo, reconhecemos que
a iluminação interior do Espírito de Deus é necessária para o entendimento
salvífico das coisas reveladas na Palavra... (1.6)
Por
fim, a Escritura é confessada como o juiz supremo de todas as
controvérsias religiosas. Onde houver controvérsias — seja por declarações
divergentes de igrejas, ensinos de teólogos ou “espíritos particulares” — a
decisão se encontra somente na Palavra do Espírito Santo falando na
Escritura. O juiz supremo pelo qual todas as controvérsias religiosas devem ser
resolvidas, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos,
doutrinas humanas e espíritos particulares examinados, e cuja sentença deve ser
final, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
(1.10) Assim também argumentava Reynolds:
“As
Escrituras... são a única regra de todas as controvérsias... Então, a única luz
pela qual as diferenças devem ser decididas é a Palavra, sendo um cânon
completo da vontade revelada de Deus: pois o Senhor não se dá a conhecer agora,
como fazia antigamente, por sonhos, visões ou qualquer outro meio imediato.”⁷
Outro
dos teólogos afirmou:
“Como
os cristãos podem consultar a Deus em suas dúvidas, como Israel fazia nas
deles? Devo responder brevemente, e com as palavras do próprio Deus: ‘À lei e
ao testemunho’: à Palavra escrita de Deus... **Agora não há outro meio de
consultar a Deus senão somente por Sua Palavra.”**⁸
Esses
testemunhos continuam uma tradição bem estabelecida de interpretação puritana a
respeito da ligação entre a cessação dos modos de revelação e a suficiência
da Escritura, como ensinado por mestres como William Whitaker⁹, mestre do St. John’s College, Cambridge, cuja Disputatio
on Holy Scripture foi demonstrada por Dr. Wayne Spear como uma importante
fonte teológica dos padrões, particularmente o capítulo sobre a Escritura.¹⁰ Whitaker ensinava que:
“Deus
não nos ensina agora por visões, sonhos, revelações, oráculos, como
antigamente, mas somente pelas Escrituras; e por isso, se quisermos ser salvos,
é necessário conhecermos as Escrituras.”¹¹
Para
concluir: a Confissão fala da cessação dos modos de revelação, e não
apenas do fim de acréscimos ao cânon. Se os modos continuassem, o cânon
estaria aberto. É porque os modos cessaram que não pode haver adições ao
cânon. Assim comenta David Dickson no primeiro comentário à
Confissão de Fé:
“Estes
modos antigos de Deus revelar Sua vontade ao Seu povo cessaram agora? Sim.
Então, os entusiastas e Quakers não estão errados ao manter que o Senhor ainda
revela Sua vontade como antes? Sim. Por quais razões são refutados? Porque
Deus, que em diversos tempos e de várias maneiras falou antigamente aos pais
pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, Hebreus 1:1-2... Os
modos e maneiras antigas foram: primeiro, inspiração; segundo, visões;
terceiro, sonhos; quarto, Urim e Tumim; quinto, sinais; sexto, voz audível. Todos
os quais terminam na Escritura escrita, o modo mais seguro e infalível de Deus
revelar Sua vontade ao Seu povo.”¹²
Um
último testemunho da verdade vem de um inimigo: que a Confissão ensina a
cessação dos modos de revelação era também o entendimento de alguns opositores
contemporâneos de seu ensino. William Parker, em sua crítica de 1651 à
Confissão de Fé e suas “excessos e defeitos, confusões e desordens,” começa
pelo capítulo 1, criticando a expressão “modos cessados”. Ele se queixa de que
os teólogos, ao negarem os antigos “modos” — significando “extraordinários como
sonhos, visões, inspiração e semelhantes, pelos quais Deus revelava Sua vontade
aos profetas e apóstolos antigos” — estão muito equivocados.¹³ Em sua visão, ao
contrário, “o Senhor terá profetas em todas as eras... esses modos
extraordinários de Deus revelar-se nunca cessaram.”¹⁴
Nota
final: a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana na América afirmou
claramente seu acordo com o ensino da Confissão de que os modos de revelação
cessaram:
“[Apenas
afirmar que o cânon está fechado, e que supostas novas revelações de Deus não
acrescentam nada ao depósito de verdade encontrado na Escritura, não abrange
todas as negações quanto à nova revelação encontradas em WCF I, 1, 6, e BCO
7-1. Essas declarações dos padrões também negam a ideia de que quaisquer modos
extraordinários ainda continuem além da Escritura como formas pelas quais Deus
verbalmente revela Sua vontade ao Seu povo.]”¹⁵
“Não
apenas o cânon das Escrituras está fechado, mas nenhum dom deve ser permitido
que tenha o efeito prático de funcionar como uma fonte normativa de verdade ou
instrução divina de Deus, ao lado da voz do Espírito Santo falando nas
Escrituras.”¹⁶
Notas
de Rodapé
- Benjamin B. Warfield, The
Westminster Assembly and Its Work (Cherry Hill, NJ: Mack Publishing
Company, 1972), p. 195.
- Ibid., p. 169.
- Ibid., p. 176.
- Ibid., p. 177.
- James Ussher, Body
of Divinity (London, 1645), pp. 6-7.
- Edward Reynolds, Works,
vol. V (1826), pp. 152-153.
- Ibid.
- John Lightfoot, Works,
ed. Pitman, vol. 6, p. 286.
- Whitaker foi professor
de William Perkins, e tio de William Gouge, um dos principais membros da
Assembleia.
- Wayne Spear, em artigo
comemorativo dos 350 anos da Assembleia de Westminster (a ser publicado).
- Guilielmo Whitakero, Disputatio
De Sacra Scriptura (1610); ET, A Disputation on Holy Scripture,
Against the Papists... (Cambridge: The University Press, 1849), p.
521.
- David Dickson, Truth’s
Victory Over Error (1684).
- William Parker, Late
Assembly of Divines Confession of Faith Examined (London, 1651), p. 6.
- Ibid., p. 8.
- M8GA, p. 93.
- M16GA, p. 215.
[1]
Benjamin B. Warfield, The Westminster Assembly and Its Work (Cherry
Hill, NJ: Mack Publishing Company, 1972), p. 195.
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